Cenários


Os primeiros quinze dias do ano não deixaram a desejar. Com o aumento de ruídos e riscos de curto-prazo, o mercado ganhou volatilidade. Movimentos antes inimagináveis foram observados em várias classes de ativos neste curto período de tempo. A despeito deste ambiente mais hostil aos investidores, acredito que oportunidades estão sendo criadas. 

Acredito que, neste momento, devemos tentar diferenciar os ruídos de curto-prazo, o cenário de longo-prazo, a posição técnica dos mercados e as eventuais distorções que começam a surgir.

No meu ponto de vista, o cenário de longo-prazo segue relativamente inalterado, exceto por um ambiente mais deflacionario ao redor do mundo. A economia americana ainda se mostra saudável e robusta. A ausência de pressões inflacionárias deve fazer com que o Fed seja bastante gradual no seu processo de normalização monetária. A Europa passa por um período de crescimento frágil e inflação cadente, muito parecido com o que se passa na economia japonesa. Neste ambiente, o ECB e o BoJ devem manter condições monetárias extremamente expansionistas por um longo período de tempo. A China confirma que o crescimento estruturalmente sua economia deve ser menor do que no passado. O policy maker local deve atuar para fazer com que este processo de menor crescimento seja feito de maneira suave, mas dificilmente ira agir agressivamente para evitar o inevitável. Os países emergentes, por sua vez, vivem um período mais desafiador. A capacidade de cada pais em promover as reformas necessárias será fundamental para um eventual processo de diferenciação.

No curto-prazo, porém, alguns ruídos acabaram afetando a dinâmica dos mercados financeiros globais. Alguns desses ruídos devem se mostrar pontuais e localizados. Já outros, devem trazer efeitos mais permanentes na economia mundial e nos mercados financeiros globais.  Alguns desses riscos incluem: Eleições na Grécia, queda acentuada no preço das commodities, crise financeira na Rússia, aumento do risco geopolitico/terrorismo, entre outros.

A reação dos ativos de risco a estes ruídos, em especial no tocante as commodities e ao baixo crescimento mundial, foi uma reação clássica de aversão a risco. Acredito que, em parte, este movimento seja justificável. Contudo, de maneira geral, muito do que foi visto, em alguns casos, acabou sendo exagerado pela posição técnica dos mercados.

Vejo um ambiente relativamente positivo se desenhando no curto-prazo. Não acredito que estejamos imunes a novas rodadas de "risk-off", mas o momento talvez seja de oportunismo. Acho que o mercado tenha ficado excessivamente negativo com crescimento global, e pode acabar se surpreendendo com dados melhores de atividade. A inflação no mundo será baixa, o que ira proporcionar políticas monetárias mais expasionistas ao redor do mundo. Na ultima semana, inclusive, já verificamos uma série de bancos centrais surpreendendo as expectativas com quedas inesperadas de juros. Neste ambiente, e após a correção verificada neste últimos 15 dias, oportunidades de alocação a risco acaram sendo criadas.

Entendo que o ano será permeado por riscos e ruídos. As tendências devem ser menos prolongadas, e a volatilidade dos ativos mais elevada. Assim, será importante manter uma atenção especial a posições técnicas e a propensão dos investidores a tomar risco.

Ainda vejo o USD como o principal beneficiário deste cenário. Contudo, a escolha da cesta de moedas será cada vez mais importante. No curto-prazo, vejo as moedas de G10 mais vulneráveis. As moedas EM, por outro lado, podem se beneficiar de um período de inflação baixa e juros mais brandos nos EUA. Assim, não podemos descartar rallies pontuais das moedas EM. No longo-prazo, contudo, a tendência ainda deve ser de USD forte ao redor de todo o mundo. Um crescimento global OK, inflação baixa e bancos centrais expansionistas, costuma ser uma receita positiva ao mercado de renda variável. Aqui, neste caso, mais uma vez, a escolha das regiões e dos setores será fundamental. No mercado de bonds/rates, o carry-trade e a busca por yield ainda parece ser a postura mais óbvia no curto-prazo. Os riscos incluem uma decepção por parte do ECB, ou um Fed mantendo seu plano de voo, e começando um processo de alta de juros ainda no meio do ano.

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