Novo ministério, velhos problemas

O ano de 2015 começa da mesma maneira em que 2014 se encerrou, ou seja, com enormes desafios políticos e econômicos para o Brasil, sem sinais de estabilização da economia chinesa, com um crescimento norte americano robusto, a despeito de sinais incipientes de acomodação. A crise na Rússia ainda não parece totalmente debelada, enquanto riscos políticos na Grécia são reais. Finalmente, o ECB terá decisões importantíssimas a serem tomadas neste começo de ano.

A agenda de sexta-feira terá o ISM Manufacturing nos EUA como destaque.  

Brasil – Exceto pelas mudanças em sua equipe econômica, o novo ministério de “Dilma 2” mantém as mesmas características de “Dilma 1”, ou seja, muito pouco técnico e totalmente político. Mesmo tentando agradar todas as vertentes de sua base aliada, muitos saíram deste primeiro estágio de segundo mandato enfraquecidos e insatisfeitos. Ao que tudo indica, “Dilma 2” optou por delegar a “batalha econômica” para uma equipe técnica, respeitada e crível. Porém, terá enormes desafios no campo político, especialmente com uma base aliada cada vez mais rachada, e os desdobramentos ainda incertos da Operação Laja-Jato. Assim, “Dilma 2” parece ter optado por manter o foco na batalha política, terceirizando os desafios econômicos para uma equipe competente, talvez já vislumbrando que não terá forças para agir em todas as frentes de maneira contundente como em “Dilma 1”. Ratifico minha visão de que a escolha das classes de ativos será fundamental para uma boa performance nos próximos meses. Talvez, estejamos em uma fase em que o “kit Brasil”, seja positivamente, ou negativamente, não mantenha a mesma correlação do passado. Vejo valor na curva de juros, partindo do pressuposto de que Levy e Cia. irão entregar o que estão prometendo do ponto de vista fiscal. Neste caso, um peso relevante será retirado das costas do BCB no trabalho de contenção das pressões inflacionárias. Por outro lado, o BRL ainda será extremamente influenciado pelos fluxos e tendências externas, onde ainda vejo um quadro favorável ao USD no mundo. Finalmente, na bolsa, a escolha de setores nunca foi tão importante, em um ambiente de baixo apetite a risco emergente e para o Brasil, em especial. Nos atuais níveis de preço, contudo, alguns setores apresentam valor e podem, inclusive, navegar o ambiente mais desafiador de Brasil de maneira menos negativa.

Obs: Como era amplamente esperado, o BCB estendeu o programa de swaps cambiais, reduzindo as vendas diárias de dólares de $200mm para $100mm. O estoque deve ser rolado de acordo com a demanda e a dinâmica do mercado em cada momento do tempo e o BCB se reserva o direito de intervir de maneira discricionária caso haja uma demanda pontual ou volatilidade excessiva no mercado.

EUA -  O Jobless Claims e o Chicago PMI divulgados no dia 31 de Dezembro confirmaram os sinais de acomodação da economia que outros indicadores já vinham sinalizando. A acomodação é plenamente natural e esperada dentro dos ciclos econômicos e ocorrem de um patamar extremamente robusto da economia. Espero que o Fed mantenha o seu “plano de voo”, elevando os juros em algum momento entre o segundo e terceiro trimestre de 2015. Acredito que o USD continuará sua marcha altista, ajudado por um processo gradual de abertura de taxa de juros no país. As bolsas norte americanas parecem tecnicamente esticadas e merecem uma breve correção, mas o pano de fundo de médio prazo ainda se mostra positivo para está classe de ativo.

China – O PMI Manufacturing recuou de 50.3 para 50.1 pontos em dezembro, praticamente em linha com as expectativas. O número é o menor patamar desde junho de 2013. A despeito de uma série de medidas adotadas pelo governo nos últimos meses, com intuito de liberar mais crédito à economia, e colocar um piso no crescimento, não há qualquer sinal mais consistente de estabilização do crescimento. A despeito deste ambiente macro negativo, as bolsas locais não param de apresentar alta. Na minha visão, há questões técnicas e micros puxando os índices locais, além das expectativas, cada vez maiores, de que novas medidas de suporte ao crescimento serão colocadas em prática a fim de evitar mais uma rodada de deterioração econômica. Infelizmente, vejo sinais de demanda especulativa pelas bolsas locais, que não deveriam se sustentar ao longo do tempo na ausência de uma recuperação econômica mais sólida. Este pano de fundo deveria manter as commodities pressionadas, assim como todos aqueles ativos dependentes da demanda chinesa, como as moedas de países exportadores de petróleo e os setores da bolsa dependentes do crescimento chinês.

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