Brasil em Foco
O final de semana trouxe alguns desdobramentos que podem ser importantes para os mercados globais, as vésperas de uma semana onde teremos na agenda as eleições na Grécia e a reunião do FOMC nos EUA como os principais eventos a serem monitorados. Abaixo, segue uma breve análise dos últimos acontecimentos no front econômico e político, nos Brasil e no mundo:
Brasil – Nos últimos dias, 3 eventos merecem destaque no cenário local: (1) o discurso de Tombini em Davos, (2) o crescente risco de racionamento, (3) uma possível declaração de apoio de Dilma aos ajustes econômicos. Vamos a cada um deles:
- Em Davos, Tombini concedeu entrevista coletiva para a imprensa nacional na sexta-feira. Pelo o que vem sendo reportado na mídia, tendo a acreditar que o viés de suas declarações seja dovish para a política monetária. Na minha visão, o principal ponto de suas declarações ficou por conta da complementaridade entre política fiscal e monetária, algo que havia sido abandonado nos últimos anos. Além disso, Tombini deu a entender que as expectativas de inflação pela pesquisa Focus devem mostrar novos recuos nas próximas semanas, ratificando sua visão de que os efeitos pontuais da alta da inflação no curto-prazo, em grande parte puxados pelo ajuste de itens administrados, serão compensados, no médio e longo-prazo, pelos efeitos defasados de política monetária e por uma política fiscal mais austera.
- A cada dia que passa, e o período chuvoso de mostra decepcionante, cresce o risco de racionamento. Um racionamento será choque de oferta na economia, com consequências altistas para a inflação e baixistas para o crescimento. Como o efeito altista da inflação, em parte, já é sabido pelo mercado, os efeitos sobre o crescimento tendem a ser mais surpreendentes e negativos. Assim, acredito que, caso haja racionamento, será um grande choque contracionista na economia. Em um ambiente de crescimento já pífio, política monetária e fiscal mais apertada, assim como crédito mais escasso, poderemos observar uma contração substancial da economia.
- A mídia vem sinalizando que Dilma dará total apoio à equipe economia nos próximos anos. Segundo alguns artigos na imprensa, a Presidente está ciente que os ajustes são necessários, e os desafios perdurarão por cerca de 2 anos. Assim, Dilma estaria disposta a encarar os problemas de frente, dando respaldo a Levy e sua equipe.
O pano de fundo para a economia local segue extremamente desafiador. Continuo vendo a curva de juros como a melhor classe de ativo para se posicionar no ambiente de ajuste econômico, mas com baixo crescimento e risco de racionamento. A bolsa pode sofrer os efeitos negativos de crescimento baixo e inflação alta no curto-prazo de maneira mais negativa, enquanto o BRL tende a seguir o humor global em torno do USD, além de ser mais negativamente afetado por um eventual racionamento. Com o Jan21/Jan17 já apresentando flattening de -70bps, tendo a favorecer os vértices intermediários da curva, como Jan17 e Jan18. Caso ganhe força a visão de que Tombini possa desacelera o ciclo de alta de juros, os vértices mais curtos podem acabar mostrando desempenho mais positivo.
Rússia - A situação na Ucrânia parece ter se deteriorado nos últimos dias. Caso o conflito militar ganhe novos contornos, pode acabar afetando, mais uma vez, o humor global para os ativos de risco.
Grécia – Ainda hoje, deveremos ter uma primeira visão do que será o novo governo grego. Caso não haja uma maioria absoluta, o processo de formação de governo poderá de estender por alguns dias. Este é um risco que precisa ser monitorado no detalhe, pois pode acabar trazendo ruídos pontuais aos mercados financeiros globais.
EUA – A reunião do FOMC na quarta-feira será o principal evento da semana. Com a curva local de juros tendo precificado um Fed dovish, a reboque dos últimos acontecimentos ao redor do mundo, e uma alta de juros precificada apenas em setembro, o risco será um comunicado neutro, cuja percepção do mercado seja de um Fed mais hawkish, o que poderia acarretar um ajuste na curva local de juros.
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