China, Europa e Canadá: bancos centrais unidos

Se alguém ainda tinha dúvidas de como os bancos centrais ao redor do mundo estão vendo o atual cenário econômico global, acredito que está dúvida tenha sido, pelo menos em grande parte, dissipada hoje, isso caso já não havia sido dissipada após as decisões dos bancos centrais de Indonésia, Peru, Egito e Turquia.

Ao longo da noite, os meios de comunicação locais anunciaram que o PBoC, na China, estendeu por mais alguns meses a injeção de liquidez que havia anunciado no final do ano passado, com a duração de 3 meses e vencimento previsto para o começo deste ano. Além disso, alguns bancos locais anunciaram que a injeção teria sido maior do que apenas uma rolagem do programa antigo, ou seja, a medida foi uma injeção liquida de recursos na economia.

Na Europa, a mídia local ventilou que o ECB irá anunciar um programa de QE mais amplo em sua reunião de amanhã, com a compra de papéis soberanos na ordem de EUR$50b por mês, por pelo menos um ano. A medida está na ponta de cima das expectativas do mercado, mas alguns detalhes ainda precisam ser avaliados, tais como: size (unlimited or fixed?), risk-sharing (pooled or not?), weighting (flexible or by capital key?), and the treatment of program countries (included or excluded?).

Finalmente, o banco central do Canadá anunciou uma surpreendente queda de juros, levando a taxa de 1% para 0.75%.

A reação dos mercados a todas essas medidas foi, de certa forma, confusa, mas ainda dentro do cenário que temos desenhando neste fórum a alguns meses. O USD apresentou tendência divergente ao redor do mundo, mas com um leve viés de fortalecimento contra moedas de países dependentes de commodities, ou cuja politica monetária corre o risco de novas rodadas de afrouxamento. As curvas de juros nos EUA e na Europa apresentaram abertura de taxa, com viés claro de steepening. As bolsas globais apresentaram tendência de alta, assim como o complexo de commodities. As curvas de juros emergentes apresentaram desempenho positivo, em geral, vis-à-vis o movimento da curva americana.

O risco de curto-prazo será uma decepção por parte do ECB amanhã.


Salvo algum erro de trajeto por parte de Draghi, acredito que o cenário desenhando neste fórum no começo da semana esteja sendo ratificado pelos eventos recentes, ou seja: “Vejo um ambiente relativamente positivo se desenhando no curto-prazo. Não acredito que estejamos imunes a novas rodadas de "risk-off", mas o momento talvez seja de oportunismo. Acho que o mercado tenha ficado excessivamente negativo com crescimento global, e pode acabar se surpreendendo com dados melhores de atividade. A inflação no mundo será baixa, o que ira proporcionar políticas monetárias mais expasionistas ao redor do mundo. Na ultima semana, inclusive, já verificamos uma série de bancos centrais surpreendendo as expectativas com quedas inesperadas de juros. Neste ambiente, e após a correção verificada neste últimos 15 dias, oportunidades de alocação a risco acaram sendo criadas. Entendo que o ano será permeado por riscos e ruídos. As tendências devem ser menos prolongadas, e a volatilidade dos ativos mais elevada. Assim, será importante manter uma atenção especial a posições técnicas e a propensão dos investidores a tomar risco. Ainda vejo o USD como o principal beneficiário deste cenário. Contudo, a escolha da cesta de moedas será cada vez mais importante. No curto-prazo, vejo as moedas de G10 mais vulneráveis. As moedas EM, por outro lado, podem se beneficiar de um período de inflação baixa e juros mais brandos nos EUA. Assim, não podemos descartar rallies pontuais das moedas EM. No longo-prazo, contudo, a tendência ainda deve ser de USD forte ao redor de todo o mundo. Um crescimento global OK, inflação baixa e bancos centrais expansionistas, costuma ser uma receita positiva ao mercado de renda variável. Aqui, neste caso, mais uma vez, a escolha das regiões e dos setores será fundamental. No mercado de bonds/rates, o carry-trade e a busca por yield ainda parece ser a postura mais óbvia no curto-prazo. Os riscos incluem uma decepção por parte do ECB, ou um Fed mantendo seu plano de voo, e começando um processo de alta de juros ainda no meio do ano.”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Daily News – Brasil: Para o Alto e Avante – Parte II

Juros Brasil

Daily News – Sobre Bancos Centrais e Juros.