Dilma, ajustes econômicos e FOMC

A temporada de resultados corporativos está trazendo uma maior volatilidade às bolsas norte americanas. Após uma sequencia de resultados abaixo do esperado, que culminaram com uma forte queda das bolsas do país na terça-feira, observamos resultados mais positivos na noite de ontem, com Apple e Yahoo liderando um movimento de recuperação dos mercados. De qualquer maneira, com o valuation do S&P aparentemente esticado (em torno de 17x P/E), a necessidade de resultados em ascensão, para dar sustentação aos níveis do índice, são cada vez maiores. Não é à toa, assim, que já começamos a verificar um movimento claro de rotação para bolsas de outras regiões do mundo, como é o caso da Europa e Japão.

Vejo uma tendência clara de diferenciação dos ativos de risco neste começo de ano. Os investidores tem tido a capacidade de isolar problemas pontuais e localizados, como é o caso das eleições na Grécia e de uma nova rodada de pressões políticas sobre a Rússia, do panorama geral para os ativos de risco. Está postura deve ser vista como positiva, já que irá aumentar o leque de possibilidade de investimentos e a estruturação de portfólios, trazendo uma vantagem comparativa aos fundos macro.

Na noite de ontem, o MAS (Banco Central de Cingapura) se juntou aos demais 8 bancos centrais que nas últimas semanas anunciaram medidas de afrouxamento monetário. O país se utiliza do câmbio como instrumento de política monetária e ontem anunciou medidas que visam enfraquecer a moeda local e dar suporte ao crescimento do país.

Na agenda do dia, destaque absoluto para a reunião do FOMC nos EUA.

Brasil – Os indicadores econômicos de curto-prazo continuam mostrando um pano de fundo extremamente desafiador, com um crescimento pífio, a confiança dos empresários e consumidores “na lama”, e com os números de inflação bastante pressionados. Contudo, o governo vem emitindo sinais de apoio aos ajustes implementados pela nova equipe economia. O discurso de Dilma ontem, na abertura de sua primeira reunião ministerial, foi em tom de desafios e austeridade, mostrando uma realidade dura, mas que precisa ser encarada. Os veículos de comunicação continuam afirmando que o governo terá que reavaliar a medida referente ao seguro-desemprego, uma das medidas anunciadas por Levy para o começo do processo de ajuste das contas públicas. Acredito que ajustes possam vir a ocorrer, mas sem alterar significativamente o teor e magnitude das medidas. É natural que algumas medidas sofram repúdio ao longo do processo de ajuste. Algumas terão que ser reavaliadas e redirecionadas, enquanto outras entrarão em vigor mesmo sem o apoio inequívoco de algumas alas do governo. Este processo é natural e esperado dentro de um programa de ajustes agressivos que precisa ser implementado.

EUA – Os números econômicos recentes mostraram uma economia ainda robusta, mas com sinais incipientes de acomodação. Ontem, o Durable Goods Orders apresentou uma inesperada queda em dezembro, mesmo mês em que o New Home Sales atingiu um novo pico desde 2008. Já o Consumer Confidence de janeiro, apresentou forte elevação, com os indicadores de emprego, em especial, atingindo níveis não antes vistos desde 2007. Os números apontam para um mercao de trabalho forte e em franca recuperação. Em um pano de fundo de inflação branda, mas crescimento em patamares elevados, acredito que o Fed tentará não alterar de maneira significativa a mensagem de seu comunicado após a decisão do FOMC na tarde de hoje. O risco, na minha visão, é o mercado reprecificar um pouco para cima, a curva de juros americana, que hoje só embute uma alta de juros no último trimestre do ano. Ainda vejo chances não desprezíveis de uma alta no meio do ano.

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