Risk-On

Na manhã de ontem, o ECB anunciou um programa de QE amplo e agressivo, superando, inclusive, as expectativas do mercado. A medida foi recebida de maneira clássica pelos ativos de risco, com um movimento natural de “risk-on”. Ao longo da noite, as primeiras prévias dos PMI´s na Europa e na China mostraram os primeiros sinais, ainda incipientes, de estabilização do crescimento. Os números trazem um alento para a economia mundial, já que reduzem o risco de uma nova rodada de desaceleração da economia no curto-prazo. Em um pano de fundo de crescimento baixo, porém estável, inflação cadente, e bancos centrais agressivos, a classe de ativo que tende a mostrar melhor desempenho acaba sendo a renda variável. No curto-prazo, o risco fica por conta da decisão do FOMC na semana que vem.

Hoje pela manhã, os mercados globais estão basicamente dando sequencia ao movimento verificado ontem, ou seja, as bolsas operam em alta ao redor do mundo, com outperformance das bolsas na Europa. O USD opera em alta, principalmente contra G10, liderado, mais uma vez, pelo EUR. As moedas emergentes mostram desempenho positivo, em um sinal claro de busca por yield. O mercado mundial de bonds, tanto em G10 como nos países emergentes, continua bastante demandado, com um fechamento amplo e correlacionado de taxas de juros. Finalmente, a despeito da alta no preço do petróleo o demais complexo de commodities opera sobre pressão.

A agenda do dia será agitada, com IPCA-15 e CAGED no Brasil. Nos EUA, destaque para o Markit Manufacturing PMI e Existing Home Sales.

Mantenho minha visão assinalada neste fórum ao longo das últimas semanas: “Vejo um ambiente relativamente positivo se desenhando no curto-prazo. Não acredito que estejamos imunes a novas rodadas de "risk-off", mas o momento talvez seja de oportunismo. Acho que o mercado tenha ficado excessivamente negativo com crescimento global, e pode acabar se surpreendendo com dados melhores de atividade. A inflação no mundo será baixa, o que ira proporcionar políticas monetárias mais expasionistas ao redor do mundo. Na ultima semana, inclusive, já verificamos uma série de bancos centrais surpreendendo as expectativas com quedas inesperadas de juros. Neste ambiente, e após a correção verificada neste últimos 15 dias, oportunidades de alocação a risco acaram sendo criadas. Entendo que o ano será permeado por riscos e ruídos. As tendências devem ser menos prolongadas, e a volatilidade dos ativos mais elevada. Assim, será importante manter uma atenção especial a posições técnicas e a propensão dos investidores a tomar risco. Ainda vejo o USD como o principal beneficiário deste cenário. Contudo, a escolha da cesta de moedas será cada vez mais importante. No curto-prazo, vejo as moedas de G10 mais vulneráveis. As moedas EM, por outro lado, podem se beneficiar de um período de inflação baixa e juros mais brandos nos EUA. Assim, não podemos descartar rallies pontuais das moedas EM. No longo-prazo, contudo, a tendência ainda deve ser de USD forte ao redor de todo o mundo. Um crescimento global OK, inflação baixa e bancos centrais expansionistas, costuma ser uma receita positiva ao mercado de renda variável. Aqui, neste caso, mais uma vez, a escolha das regiões e dos setores será fundamental. No mercado de bonds/rates, o carry-trade e a busca por yield ainda parece ser a postura mais óbvia no curto-prazo. Os riscos incluem uma decepção por parte do ECB, ou um Fed mantendo seu plano de voo, e começando um processo de alta de juros ainda no meio do ano.”

Europa – Na minha visão, o QE anunciado pelo ECB foi bastante agressivo e superior as expectativas do mercado. Sua postura deveria dar suporte a novas rodadas de depreciação do EUR, fechamento de taxas de juros (locais e globais) e suporte aos bonds europeus, com contágio para o resto do mundo. Está manhã, na Área do Euro, o Markit Manufacturing PMI subiu de 50.6 para 51.0 pontos, em linha com as expectativas. O Markit Services PMI passou de 51.6 para 52.3 pontos, levemente acima das expectativas de 52.0 pontos. Os números trazem um alento para a economia mundial, já que reduzem o risco de uma nova rodada de desaceleração da economia no curto-prazo. Em um ambiente de crescimento baixo, porém estável, inflação cadente, e banco central agressivo, a classe de ativo que tende a melhor performar neste ambiente acaba sendo a renda variável.

China – O HSBC Manufacturing PMI saiu de 49.6 para 49.8 pontos em janeiro, levemente acima das expectativas de 49.5 pontos. O numero aponta para uma economia ainda fragilizada, e com crescimento estruturalmente mais baixo do que no passado, mas mostra os primeiros sinais de estabilização após uma longa jornada de desaceleração da economia no segundo semestre de 2014.

Brasil – Sem grandes novidades no mercado local. O BRL e a bolsa seguiram ontem o humor global a risco, com o mercado de juros digerindo a decisão do Copom e um leilão de papéis do tesouro. O IPCA-15 e  CAGED, agendados para hoje, podem trazer informações relevantes para o cenário de curto-prazo.

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