Brasil em foco

A noite de foi de agenda e news flow esvaziados, o que está ajudando a manter os ativos de risco sem grandes movimentações essa manhã. O USD operam em leve queda ao redor do mundo. As bolsas na Europa e EUA apresentam leves recuos, enquanto as bolsas dos países emergentes, na Ásia e na Europa, apresentam altas modestas. O mercado de juros, nos países desenvolvidos e emergentes, operam próximos a estabilidade, enquanto as commodities não apresentam tendência definida.
A agenda do dia trará a decisão do Copom no Brasil e o Housing Starts nos EUA.

Brasil -  Os ativos locais tiveram uma reação clássica ontem as positivas medidas fiscais anunciadas por Joaquim Levy na terça-feira a noite. Forte fechamento de taxa de juros, com “flattening” da curva. Queda do dólar e alta, modesta, da bolsa.

Vale ressaltar, ainda, um artigo no Valor de hoje, escrito por Claudia Safatle, onde a autora declara o fim das intervenções governamentais nos preços dos combustíveis. Segundo o artigo: “A política de preços da Petrobras obedecerá mais aos interesses da companhia do que aos objetivos políticos do governo. Será substancialmente menor a intervenção do Palácio do Planalto nos preços dos combustíveis em relação ao primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. A mudança de postura não significa que a presidente aceitará uma fórmula de reajuste automático, como pretendeu a direção da empresa no passado recente. Mas, também, ficou para trás o congelamento dos preços dos derivados como ferramenta de controle da inflação... A decisão de aumentar o grau de liberdade da Petrobras para definir que rumo ela dará a seus preços não é uma questão isolada. É parte de um novo modelo onde a intervenção direta do governo vai dando lugar às forças do mercado e ao sistema de preços; e a influência da equipe econômica é, hoje, maior do que antes. Dilma já não seria a ministra da Fazenda do seu governo. Ao mesmo tempo, ela não pretende se abstrair das decisões de política econômica. Ao contrário, as medidas de elevação dos impostos foram detalhadamente discutidas com a presidente. Houve idas e vindas até ela ser convencida e aprová-las, segundo relato de um assessor do Palácio do Planalto. Se Dilma não é mais a ministra da Fazenda, tampouco Levy é o presidente da República. Ele terá autonomia total para propor e defender suas ideias e Dilma já não é tão avessa a testar medidas mais liberais.” Vejo estes sinais, caso confirmados, como mais um importante passo no processo de ajuste econômico do Brasil.

No que diz respeito ao Copom, acredito que o cenário base para a reunião de hoje seja de uma alta de 50bps na taxa Selic, com um comunicado relativamente neutro. Não vejo o porquê do BCB se comprometer com um pace de alta de juros em uma reunião para daqui a 45 dias, com o cenário externo apresentando mutações radicais a cada novo dia. Assim, dentro deste cenário base, a curva curta de juros me parece “fairly priced”. Acredito que vale a pena estender duration, com a visão de melhora dos fundamentos locais e busca por yield em EM. Para quem acredita em um cenário “a-la 2011”, com o BCB sendo obrigado a inverter o ciclo de alta de juros rapidamente, ainda vale a pena ter exposição aos vértices mais curtos. Na minha visão, estes são cenários alternativos e não o cenário base. Nos atuais níveis, a assimetria dos vértices curtos já não me parece tão interessante quanto a duas semanas atrás. Com as NTN-B’s apresentando inflações implícitas entre 6%-7%, dependendo do vértice da curva, ainda prefiro juros nominais aos juros reais, na prerrogativa de que Levy+Tombini retomaram a credibilidade do mercado.

No tocante ao racionamento, parece que só teremos um potencial anuncio oficial em abril/maio, após o período chuvoso. O governo negou veementemente que tenha ocorrido um apagão derivado da falta de energias nesta segunda-feira, afirmando que apenas um problema técnico tenha afetado o sistema. Segundo integrantes do governo, o sistema já foi reforçado para atender a elevada demanda deste período de intenso calor.

O que podemos esperar dos ativos locais, e como se posicionar neste ambiente de ajuste econômico e riscos de racionamento de luz e aguá? 

No meu ponto de vista, devemos olhar cada classe de ativo separadamente. Em alguns momentos, veremos a correlação alta entre essas classes, como foi o caso dos últimos dois dias, de maneira geral, no longo-prazo, poderemos ter alguma diferenciação entre os ativos.

O racionamento, que implica em menor crescimento do país, e aumento de custos para as empresas, aliado a um aperto fiscal e monetário, me parece claramente negativo para a bolsa, exceto melhorias micro em alguns setores (melhora de percepção para a Petrobrás!?).

No caso do câmbio, ainda vejo o cenário externo como preponderante. Continuo vendo um cenário de USD forte no mundo no longo-prazo. A posição técnica favorável, assim como o carrego elevado, e os sinais positivos da equipe econômica, podem até favorecer um movimento relativo mais positivo do BRL, mas dificilmente a moeda local irá divergir das grandes tendências globais, pelo menos no longo-prazo.

Assim, resta o mercado local de juros. Entendo que a inflação de curto-prazo será elevada, e que o BCB será forçado a elevar a taxa Selic por pelo menos mais 2 reuniões do Copom. Contudo, o ajuste fiscal, a inércia de um baixo crescimento, o risco de racionamento, os efeitos defasados de política monetária, entre outros, devem ajudar o BCB no combate a inflação e favorecer juros mais baixos no país ao longo do tempo.

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