Brasil
Os ativos locais tiveram ontem uma reação clássica, e perfeitamente justificável, aos primeiros sinais de que um racionamento “de fato” já estaria ocorrendo no país. Forte queda na bolsa, pressão baixista no BRL e alta da curva de juros, com viés de steepening.
No final da tarde, contudo, Joaquim Levy anunciou mais uma série de medidas visando o ajuste das contas públicas do país (detalhes abaixo).
Assim, o que podemos esperar dos ativos locais, e com se posicionar neste ambiente? No meu ponto de vista, devemos olhar cada classe de ativo separadamente. Em alguns momentos, veremos a correlação alta entre essas classes, como foi o caso de ontem mas, de maneira geral, no longo-prazo, poderemos ter alguma diferenciação entre os ativos.
O racionamento, que implica em menor crescimento do país, e aumento de custos para as empresas, aliado a um aperto fiscal e monetário, me parece claramente negativo para a bolsa.
No caso do câmbio, ainda vejo o cenário externo como preponderante. Continuo vendo um cenário de USD forte no mundo. A posição técnica favorável, assim como o carrego elevado, e os sinais positivos da equipe econômica, podem até favorecer um movimento relativo mais positivo do BRL, mas dificilmente a moeda local irá divergir das grandes tendências globais, pelo menos no longo-prazo.
Assim, resta o mercado local de juros. Entendo que a inflação de curto-prazo será elevada, e que o BCB será forçado a elevar a taxa Selic por pelo menos mais 2 reuniões do Copom. Contudo, o ajuste fiscal, a inércia de um baixo crescimento, o risco de racionamento, os efeitos defasados de política monetária, entre outros, devem ajudar o BCB no combate a inflação e favorecer juros mais baixos no país ao longo do tempo.
Brasil – O Ministro da Fazenda Joaquim Levy anunciou ontem quadro novas medidas visando o ajuste das contas públicas do país. A maior parte dessas medidas já vinham sendo ventiladas na mídia. De qualquer maneira, são medidas positivas e relativamente agressivas, que visam retomar a confiança, e reestabelecer uma racionalidade nas contas públicas do país. A apesar de adicionar pressão inflacionária no curto-prazo, as medidas são, na minha visão, claramente restritivas e contracionistas para a economia, o que deve ajudar o BCB no combate a inflação de demanda no médio e longo-prazos. As medidas são: (1) mudanças no IPI para cosméticos, (2) aumento do PIS/COFINS de importados, (3) aumento do IOF para operações de crédito ao consumidor e (4) aumento da CIDE em combustíveis. O aumento do IOF para operações de crédito, em especial, não vinha sendo ventilado na mídia de maneira mais clara e acabou surpreendendo as expectativas. O potencial de arrecadação deste medidas é elevado, além de ajudar o BCB em seu trabalho de contenção das pressão inflacionárias de demanda. No lado negativo, a despeito do governo negar a necessidade de um racionamento de energia no país, parece que um racionamento “de fato” teve inicio ontem, com cerca de 5% da oferta de energia tendo sido afetada. Assim, no curto-prazo, os ativos locais irão operar uma queda de braço entre os sinais positivos emitidos pela equipe econômica, e os problemas estruturais de um legado negativo dos últimos governos do país, com o risco de racionamento sendo apenas um desses obstáculos. Ainda vejo a curva de juros como o melhor ativo para se posicionar neste ambiente, já que vejo o cenário de racionamento como extremamente negativo para o crescimento. A inflação, por sua vez, pode acabar sendo contida, no segundo semestre, por um cenário de juros mais elevado, melhora do quadro fiscal e deterioração do cenário de crescimento e emprego.
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