Juros Brasil

By Dan Kawa

 

Enquanto a mídia e os economistas ainda não apresentam consenso em relação ao Arcabouço Fiscal e as críticas ao programa se acumulam (não é o intuito deste texto falar sobre este tema), o mercado de juros futuros no Brasil apresentou forte ancoragem, desde dezembro de 22, com movimento mais acentuado de fechamento de taxas de março até hoje.

 

Os juros prefixados para janeiro de 2025, que são muito correlacionados com a política monetária de curto-prazo, chegaram a bater 14% e hoje opera abaixo de 12%. Um corte relevante de juros, se iniciando no segundo semestre deste ano, já está precificado na curva de juros local:

 


As condições de contorno para este movimento são: (1) evidente desaceleração da economia; (2) sinais de restrição do mercado de crédito; (3) melhora na perspectiva de inflação corrente; (4) um arcabouço fiscal que, se está longe de ser perfeito ou a solução de longo-prazo, retira alguns “riscos de cauda” do caminho.

 

Obviamente, como em todo cenário, há risco em torno deste movimento: (1) as expectativas de inflação seguem subindo e incompatíveis com a meta de inflação; (2) o arcabouço fiscal demanda medidas adicionais de ajuste para as contas públicas do país; (3) ainda há incerteza de política econômica pairando no ar.

 

De acordo com o mercado futuro, a Selic sairia de 13,75% hoje para algo em torno de 11% em janeiro de 2025. Isso pode ser visto na tabela da Bloomberg abaixo, na coluna COPOM+CDI:

 


Olhando de hoje, parece um movimento brusco, dado as incertezas do cenário. Contudo, como um dos meus primeiros chefes me ensinou: “O mercado de juros sempre surpreende a gente nos ciclos, sejam de alta ou de baixa. A gente sempre acredita que os cortes/altas irão parar em determinado ponto no começo do ciclo, mas ele acaba terminando em pontos muito mais longes”.

 

Ainda devemos ter bastante volatilidade ao longo do caminho, mas o mercado parece cada vez mais confortável em aplicar juros. Isso terá implicações relevantes para os movimentos internos da bolsa, assim como para a alocação dos ativos locais.

 

A eventual queda de juros pode ter impacto secundário não desprezível nos demais produtos de investimentos no país.

 

*As análises e opiniões são pessoais e não representam uma visão institucional.

 

Dan H. Kawa

CIO TAG Investimentos



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