Commodities "short-sqeeze"

A sexta-feira foi bastante agitada do ponto de vista econômico e pelo price-action dos ativos de risco. Assim, vamos por partes:

FX – O USD continua a se fortalecer ao redor do mundo, mas o foco de apreciação parece ter shiftado de G10 para EM. A postura da China, em permitir uma depreciação do CNY nos últimos dias, parece estar ajudando a afetar o humor de uma classe de ativos já fragilizada.

Rates – Os juros nos países desenvolvidos seguem em trajetória descendente, mesmo nos EUA, onde os números econômicos se mostram robustos, e o Fed parece quer manter viva a possibilidade do começo de um ciclo de alta de juros no meio do ano. A despeito pela busca por yield nos países desenvolvidos, os mercados emergentes já começam a sofrer com o processo de depreciação de suas moedas.

Bolsas – Os índices norte americanos ainda estão digerindo uma temporada de resultados corporativos não muito animadora, enquanto na Europa, o ruído político entre a Grécia e a Troika parece estar afetando o humor dos mercados locais. Nos países emergentes, a alta recente do USD parece estar gerando um ruído negativo para as demais classes de ativos.

Commodities – A sexta-feira foi de clássico short-squeeze nas commodities, especialmente no petróleo. Será apenas uma acomodação, em meio a um longo processo de queda no preço das commodities, ou a postura mais complacente dos BC’s ao redor do mundo já começa a fazer preço nas expectativas do mercado? Neste caso, em algum momento, a animação das commodities deveria gerar externalidades para os demais ativos de risco. Está é uma tese que precisará ser testada nos próximos dias. Mesmo com a perspectiva de alta de juros nos EUA, os juros norte americanos estão próximos aos lows históricos, assim como as taxas ao redor do mundo desenvolvido. Em um ambiente de crescimento OK, inflação baixa, e juros contido deveria retirar alguma pressão sobre os ativos emergentes, por exemplo.

Brasil – Os problemas na Petrobras, que culminaram no rebaixamento de seu rating pela Moody’s, o risco crescente de um racionamento de energia e agua, e números fiscais de dezembro tenebrosos, ajudaram a piorar o humor para os ativos locais, já fragilizado pelo ambiente externo. Acredito que os ativos locais tenham exagerado neste processo de deterioração nos últimos dias, mas entendo que o cenário de longo-prazo ainda seja positivo para o USD, tanto no tocante aos fundamentos locais, como no que diz respeito ao cenário externo. O ambiente para bolsa continuará desafiador, com crescimento baixo e inflação alta. Contudo, especialmente após a correção dos últimos dias, vejo valor na curva local de juros. A curva continua precificando altas de 45bps+25bps+15bps+5bps nas próximas reuniões do Copom. Vejo como cenário base 50bps+25bps, com risco crescente de altas menos intensas do que esta. Além disso, confio que Levy e sua equipe guardaram “cartas na manga” para cobrir um rombo fiscal que parece cada vez maior do que o imaginado. A estratégia de anunciar tudo de ruim em 2014, para apresentar um ajuste crível em 2015, me parece acertada, mas certamente trará dúvidas ao mercado ao longo do processo.

Grécia – Os ativos locais tiveram mais um dia de forte pressão. As negociações entre o novo governo e a Troika tiveram inicio, mas as informações do andamento das conversas ainda são desencontradas. Ainda acredito que uma solução intermediária deverá ser encontrada, e um contágio negativo da situação para o restdo do mundo deveria ser evitado. Contudo, existe um risco não desprezível de um “evento de cauda” acabar ocorrendo.


EUA – O PIB do 4Q de 2014 ficou abaixo das expectativas, mas ainda em patamar robusto. O Employment Cost Index ficou dentro das expectativas, mas sem mostrar uma aceleração mais perturbadora das pressões de salário. Acredito que, mantido este pano de fundo, o Fed deverá dar continuidade a seu “plano de voo” e iniciar um processo gradual de alta de juros no meio do ano.

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