Novas medidas de ajuste fiscal no Brasil e estabilização do crescimento na China

A despeito de dados econômicos mais positivos na China (mais detalhes abaixo), as commodities estão mostrando dificuldades em apresentar desempenho favorável, e continuam operando em queda, mais uma vez lideradas pelo petróleo. A despeito do movimento negativo no complexo de commodities, as bolsas na Europa, EUA e EM apresentam alta essa manhã, com o USD também operando em alta ao redor do mundo. O mercado global de juros ainda apresenta fechamento de taxas, em um movimento global e coordenado.

Os dados econômicos menos negativos na China se encaixam perfeitamente no cenário que traçamos neste fórum no final de semana: Vejo um ambiente relativamente positivo se desenhando no curto-prazo. Não acredito que estejamos imunes a novas rodadas de "risk-off", mas o momento talvez seja de oportunismo. Acho que o mercado tenha ficado excessivamente negativo com crescimento global, e pode acabar se surpreendendo com dados melhores de atividade. A inflação no mundo será baixa, o que ira proporcionar políticas monetárias mais expasionistas ao redor do mundo. Na ultima semana, inclusive, já verificamos uma série de bancos centrais surpreendendo as expectativas com quedas inesperadas de juros. Neste ambiente, e após a correção verificada neste últimos 15 dias, oportunidades de alocação a risco acaram sendo criadas.Entendo que o ano será permeado por riscos e ruídos. As tendências devem ser menos prolongadas, e a volatilidade dos ativos mais elevada. Assim, será importante manter uma atenção especial a posições técnicas e a propensão dos investidores a tomar risco. Ainda vejo o USD como o principal beneficiário deste cenário. Contudo, a escolha da cesta de moedas será cada vez mais importante. No curto-prazo, vejo as moedas de G10 mais vulneráveis. As moedas EM, por outro lado, podem se beneficiar de um período de inflação baixa e juros mais brandos nos EUA. Assim, não podemos descartar rallies pontuais das moedas EM. No longo-prazo, contudo, a tendência ainda deve ser de USD forte ao redor de todo o mundo. Um crescimento global OK, inflação baixa e bancos centrais expansionistas, costuma ser uma receita positiva ao mercado de renda variável. Aqui, neste caso, mais uma vez, a escolha das regiões e dos setores será fundamental. No mercado de bonds/rates, o carry-trade e a busca por yield ainda parece ser a postura mais óbvia no curto-prazo. Os riscos incluem uma decepção por parte do ECB, ou um Fed mantendo seu plano de voo, e começando um processo de alta de juros ainda no meio do ano.”

Brasil – O Ministro da Fazenda Joaquim Levy anunciou ontem quadro novas medidas visando o ajuste das contas públicas do país. A maior parte dessas medidas já vinham sendo ventiladas na mídia. De qualquer maneira, são medidas positivas e relativamente agressivas, que visam retomar a confiança, e reestabelecer uma racionalidade nas contas públicas do país. A apesar de adicionar pressão inflacionária no curto-prazo, as medidas são, na minha visão, claramente restritivas e contracionistas para a economia, o que deve ajudar o BCB no combate a inflação de demanda no médio e longo-prazos. As medidas são: (1) mudanças no IPI para cosméticos, (2) aumento do PIS/COFINS de importados, (3) aumento do IOF para operações de crédito ao consumidor e (4) aumento da CIDE em combustíveis. O aumento do IOF para operações de crédito, em especial, não vinha sendo ventilado na mídia de maneira mais clara e acabou surpreendendo as expectativas. O potencial de arrecadação deste medidas é elevado, além de ajudar o BCB em seu trabalho de contenção das pressão inflacionárias de demanda. No lado negativo, a despeito do governo negar a necessidade de um racionamento de energia no país, parece que um racionamento “de fato”  teve inicio ontem, com cerca de 5% da oferta de energia tendo sido afetada. Assim, no curto-prazo, os ativos locais irão operar uma queda de braço entre os sinais positivos emitidos pela equipe econômica, e os problemas estruturais de um legado negativo dos últimos governos do país, com o risco de racionamento sendo apenas um desses obstáculos. Ainda vejo a curva de juros como o melhor ativo para se posicionar neste ambiente, já que vejo o cenário de racionamento como extremamente negativo para o crescimento. A inflação, por sua vez, pode acabar sendo contida, no segundo semestre, por um cenário de juros mais elevado, melhora do quadro fiscal e deterioração do cenário de crescimento e emprego.

China – Os dados de atividade econômica de dezembro surpreenderam as expectativas do mercado positivamente. Os números divulgados essa noite retiram um risco de uma nova rodada de desaceleração da economia no curto-prazo, e mostram que as medidas que foram colocadas em prática nos últimos meses começam a surtir efeito. De qualquer maneira, o crescimento estrutural da China deve ser menor do que no passado nos próximos anos, caracterizando um movimento estrutural, e não apenas cíclico. Assim, é difícil esperarmos uma aceleração muito mais rápida e acentuada do crescimento. A estabilização da economia nos atuais níveis, contudo, deveria ser lida como positiva pelos mercados no curto-prazo. A produção industrial saiu de 7.2% YoY para 7.9% YoY, As vendas no varejo passaram de 11.7% YoY para 11.9% YoY e o Fixed Asset Investment saiu de 15.8% YoY para 15.7% YoY. O PIB do 4Q, por sua, apresentou alta de 1.5% QoQ e 7.3% YoY.

EUA – Um artigo de um respeitado jornalista do WSJ afirma que o Fed não está preparado para adiar seu processo de normalização monetária, mesmo com os juros de mercado apresentando forte queda nas últimas semanas. Segundo o artigo, a baixa inflação será pontual, os juros de mercado mais baixos são um reflexo do que acontece no entorno dos EUA (na Europa e Japão, por exemplo) e a economia americana mostra os sinais positivos e consistentes de recuperação do crescimento. Assim, continuo vendo o USD como o principal beneficiário deste cenário, em um processo de fortalecimento que deve se mostrar estrutural e prolongado.

Europa – A reunião do ECB na quinta-feira e as eleições na Grécia no final de semana serão os dois principais eventos da semana.

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