Suíça & Juros EM

Um velho ditado popular, de autor desconhecido, diz que “credibilidade se constrói ao longo de vários anos, mas pode ser perdida em questão de segundos”. Ontem, vimos os efeitos negativos de um processo instantâneo de perda de credibilidade, após o SNB, o Banco Central da Suíça, anunciar que estava abandonando um regime cambial que vinha defendendo duramente nos últimos 3 anos. A medida trouxe uma pitada de incerteza a um mercado financeiro já fragilizado por outros ruídos ao redor do mundo. Além disso, a maneira extremamente mal conduzida pelo SNB em torno do anuncio ainda terá efeitos não desprezíveis no longo-prazo, com os mercados financeiros globais, a partir de agora, deixando de acreditar, a valor de face, nas promessas e sinalizações que são feitas pelos bancos centrais. Assim, devemos esperar políticas monetárias com menos tração e menor “poder de fogo”, especialmente pela perda de um instrumento de sinalização que vinha sendo extremamente utilizado pelos principais bancos centrais ao redor do mundo nos últimos anos.

Após um inesperado corte de juros na Índia na madrugada de quarta-feira para quinta-feira, em uma reunião extraordinária, o Egito promoveu um corte de juros, não esperado pelo mercado, na tarde de ontem. Na quinta-feira a noite, foi a vez de o Peru surpreender as expectativas de manutenção dos juros estáveis, com um corte inesperado em sua taxa básica de juros. Fica cada vez mais evidente que o cenário global que vem se desenhando é um cenário de crescimento baixo mas, principalmente, deflacionário para o mundo. Em especial, os países produtores de commodities, parecem ser os mais afetados por este ambiente.

Eu entendo perfeitamente que o Brasil vive um momento distinto de grande parte desses países, por apresentar inflação elevada, expectativas de inflação desancoradas e pelo BCB ter perdido credibilidade nos últimos anos. Contudo, não vejo o país como uma ilha isolada dentro do contexto global. Assim, mesmo esperando que o BCB mantenha sua promessa de levar a inflação para o centro da meta em 2016, o que requer uma alta de juros de 50bps na próxima reunião do Copom, e que talvez não seja a última alta de juros realizada por Tombini e Cia. neste ciclo, eu acredito que o cenário global irá ajuda-lo neste processo, fazendo com que o ciclo adicional de alta de juros não seja tão agressivo como o mercado espera. Aliado a isso, temos um processo de ajuste fiscal crível e agressivo sendo implementado, uma atividade econômica fragilizada e um processo visível de deterioração do mercado de trabalho.  

Os mercados financeiros globais, desde ontem, vem perdendo um pouco de correlação e seguindo mais questões específicas locais. A bolsa americana parece mais pressionada devido a resultados corporativos ruins, especialmente do setor financeiros (BofA e Citi), enquanto as bolsas na Europa sobem na expectativa de um QE mais amplo e agressivo por parte do ECB. Nos mercados EM, esta nova onda de queda de juros parece estar dando algum suporte as bolsas de alguns países. O USD opera sem tendência definida, seguindo questões locais e posição técnica. O mercado de juros, contudo, mostra um fechamento amplo, global e inequívoco de taxa de juros, com países emergentes e desenvolvidos apresentando fechamento de taxas nas últimos semanas, processo que acabou sendo acentuado nos últimos dias.

Na agenda do dia, destaque para o CPI e Industrial Production nos EUA.

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