Relatório Semanal de Asset Allocation:
Na última semana, recebemos informações importantes do cenário
econômico global. Descrevemos as principais delas abaixo.
De maneira geral, vemos os dados divulgados nos últimos dias
como confirmando o cenário base com o qual temos trabalhado. Leia-se, um
crescimento global ainda saudável, mas em um pano de fundo de inflação contida
no mundo desenvolvido.
Como veremos abaixo, vemos este ambiente como
positivo/construtivo para os ativos de risco em geral, mas, em especial, para
os ativos emergentes com os fundamentos sólidos ou em vias de recuperação.
Brasil –
A semana confirmou o cenário base para o país. O IPCA de abril ficou
praticamente dentro das expectativas, abaixo da meta na comparação em relação
ao mesmo período do ano anterior. O número mostrou um quadro qualitativo
positivo e confirmou um cenário de forte desinflação no país.
As vendas no varejo de março ficaram abaixo das expectativas,
após forte recuperação no início do ano. O número confirma que o crescimento
apresentará uma recuperação apenas lenta e gradual ao longo deste ano.
A despeito da melhora do humor dos mercados financeiros locais,
refletido em uma apreciação dos ativos do Brasil, ainda não há uma data
estipulada para a votação da Reforma da Previdência em plenário. A Reforma foi
aprovada na Comissão Especial da Câmara, como era esperado, e os sinais apontam
para a aprovação em plenário ainda este mês. Contudo, existe algum risco de
novo adiamento deste “cronograma”.
China –
Os agregados monetários de abril ficaram acima das expectativas. Os números
divulgados na semana passada deveriam dirimir os receios do mercado em torno de
uma desaceleração mais acentuada da economia do país no curto-prazo, reduzindo
uma incerteza que gerou elevada volatilidade e pressão nas commodities nas
últimas semanas.
O relatório trimestral de política monetária divulgado no final
de semana aponta para uma política monetária levemente mais frouxa no
curto-prazo. Se confirmada esta interpretação, será em linha com o que temos
descrito neste fórum recentemente, ou seja, a desaceleração da economia vista
nos últimos PMIs foi induzida pelo policy maker local e não causada
por um movimento mais preocupante da economia.
Vemos a desaceleração recente como, de certa forma esperada,
mas, principalmente, induzida pelas medidas restritivas adotadas pelo governo
ao longo dos últimos meses. Este pano de fundo nos dá algum conforto, dado que
a desaceleração não é fruto de nenhum “evento de crédito” inesperado. Como o
governo quem está administrando a desaceleração do mercado de crédito e,
consequentemente, da economia, eles podem reverter o processo se concluírem que
a desaceleração chegou a níveis satisfatórios.
Isso não quer dizer que não existam riscos. Eles existem, são
reais e precisam ser monitorados. Um erro do policy maker poderia ter
consequências catastróficas para o mundo. Em um pano de fundo de crescimento
global ainda saudável, estes riscos, no curto-prazo, me parecem controlados,
mas não totalmente dissipados.
EUA – As
vendas no varejo ficaram praticamente em linha com as expectativas, se
consideradas as revisões altistas do mês anterior. O número mostra um
crescimento ainda um pouco abaixo das expectativas, mas um cenário de econômica
relativamente saudável.
O Core CPI apresentou alta de 0,1% m/m, levando a alta para 1,9%
em relação ao mesmo período do ano passado. O número vem após uma queda de 0,1%
m/m no mês anterior.
A despeito de um mercado de trabalho extremamente robusto, como
mostrou o jobless claims (reinvindicações de auxílio desemprego) na
quinta-feira passada, uma economia próxima ao pleno emprego, ainda parece um
“conundrum” (enigma) a baixa reação da inflação a este cenário de emprego
robusto. Por ora, este ambiente sugere que ainda há algum espaço no hiato do
produto.
A leitura que temos é de que os números
recentes devem ser vistos como positivos para os ativos de risco (“Goldilocks”
/ “Sweet Spot”), já que mostram um crescimento robusto e um mercado de trabalho
sólido. As pressões inflacionárias são crescentes, porém ainda não excessivas.
Assim, o Fed poderá dar continuidade ao seu processo de normalização monetária,
porém de forma gradual e bem comunicada. Este cenário poderá ser revertido
quando (e se) a inflação começar a dar sinais mais preocupantes de alta rápida
e acentuada.
No atual estágio do
ciclo econômico dos EUA, com a taxa de desemprego em 4,4% existe um risco
crescente da inflação começar a dar sinais mais claros de aceleração. Este é um
risco que precisa ser monitorado e devidamente “hedgeado” nos portfólios. A
dinâmica dos ativos de risco, entretanto, tem mostrado que o mercado irá ser
reativo a este cenário, e não proativo, ou seja, enquanto o crescimento estiver
sólido, mas a inflação controlada, o Fed deverá manter postura gradual e,
assim, manter as condições financeiras frouxas, desenvolvendo um pano de fundo
positivo para os ativos de risco em geral.
Alocação/Estratégia:
Mantemos um viés positivo para o cenário econômico local e uma
visão construtiva para o cenário externo. Assim, mantemos uma visão positiva
para os ativos locais (bolsa, juros e câmbio). Acreditamos que faça sentido
manter exposição ao que é “vulgarmente” conhecido como “Kit Brasil”, mas
mantendo em mente o fato que a definição da Reforma da Previdência, agendada
para o mês de maio, deverá ser determinante para a dinâmica dos ativos locais.
Entendemos que o processo de apreciação dos ativos não será
linear. Momentos de incerteza certamente afetarão a volatilidade e os preços
dos ativos, o que irá requerer certo “sangue frio” na estratégia de alocação.
Por ora, mantemos uma visão de que a recuperação do país e de
seus ativos será um processo plurianual e não se dará em poucos meses. Ainda
vemos amplo espaço para uma recuperação estrutural dos ativos do país. Neste
momento, o grande risco fica por conta da Reforma da Previdência. Se o governo
falhar nesta frente, o cenário poderá ser rapidamente revertido.
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