Governo segue fragilizado.
Não
pretendo comentar neste fórum todos os eventos políticos locais, que tem se
mostrado extremamente dinâmicos, com ares de novela mexicana, ou de seriado de
suspense norte americano.
Em
termos gerais, Michel Temer concedeu novo pronunciamento ontem, reforçando que
permanecerá no cargo e lutará por sua inocência nos eventos investigados. Enquanto
isso, sua base aliada se esvazia, com partidos da base rompendo com o governo e
outros partidos estudando medidas na mesma direção. A OAB aprovou requerimento
para o pedido de impeachment do presidente.
O analista político da XP Investimentos, um
dos melhores analistas atualmente na cobertura do cenário político local, Richard Back, resumiu de forma perfeita
o cenário que o país se encontra: A certeza na incerteza é que falar em
"Reforma da Previdência" neste ambiente é impossível. Falar em
permanência de Temer vai se tornando improvável. Falar em queda de Temer sem
alternativa óbvia é precipitado. É oficial: estamos em um beco sem saída. Ao
menos por ora.
Repito,
com o risco de parecer uma “vitrola quebrada” que vejo a renuncia, com eleições
indiretas, como o cenário menos traumático para o país neste momento. Empurrar
um governo tampão com a barriga é um cenário que considero ruim. Abrir brecha
para eleições diretas é um cenário péssimo.
O
Ministério Público parece estar adotando uma estratégia de tentar limpar o
ambiente político para que as eleições de 2018 sejam menos afetadas por eventos
não republicanos. Não entrarei no mérito da legalidade dos métodos utilizados. Estou
apenas fazendo uma análise da situação corrente.
O avanço
das investigações só tende a favorecer os outsiders
nas eleições de 2018. João Dória seria um desses nomes. Lula, Aécio, Serra e afins
são cada vez mais dragados para o mesmo ralo, inviabilizando suas carreiras
políticas futuras. Eles são investigados, nenhuma deles ainda foi de fato
condenado, mas a mídia e a sociedade tende a “condenar” carreiras e imagens
mesmo sem condenação da justiça, ou antes dela.
Acredito
que teremos um ambiente de elevada volatilidade nos mercados nos próximos dias.
Meu viés é de manter uma posição aplicada na curva curta de juros, mas buscar hedges nos demais mercados. Esta não
será uma tarefa simples, pois as vols já subiram drasticamente, a atuação do
BCB pode mascarar os movimentos de curto-prazo no BRL, por exemplo, e o cenário
externo ainda se mostra construtivo para o crescimento global e os ativos de
risco em geral.
Abaixo,
copio o que escrevi na sexta-feira.
Reforço a minha visão que vem sendo
descrita neste fórum desde que esta crise eclodiu. O Governo Temer perdeu a
capacidade de governar e forjar consensos em torno da agenda reformista. Não
importa se a delação é uma armação, uma cilada ou um evento juridicamente
legal. O estrago já foi feito.
Infelizmente, Temer dá sinais de que
lutará por seu mandato até o fim. Continuo acreditando que o melhor para o país
seja a renuncia, com a eleição indireta de um nome de consenso, moderado, que
manterá a equipe econômica, o caráter transitório e reformista deste governo
governo (FHC? Pedro Parente? Nelson Jobim?).
A incerteza de um governo fragilizado
é o pior cenário que poderá prevalecer.
Todavia, precisamos ponderar sobre alguns
outros pontos. O PT, Lula e Dilma também são drasticamente afetados por esta
nova delação. Existe um risco concreto e real da situação jurídica destes
personagens piorarem ainda mais de agora em diante, inviabilizando uma parte da
esquerda para qualquer novo mandato presidencial. Para os mercados financeiros
locais, isto é lido como positivo.
Além disso, Rodrigo Maia e Eunício de
Oliveira articularam uma agenda intensa de votações no congresso para a semana
que vem em uma tentativa de dar um ar de normalidade ao quadro político.
Para completar, temos uma equipe
econômica prudente e respeitada, que poderia continuar em um eventual novo
governo “tampão”, que é mais um alívio para os mercados. Finalmente, a situação
econômica do país, em termos cíclicos, é muito melhor atualmente do que na
crise política de 2015, com inflação e expectativas de inflação contidas e
cadentes, juros em quedas e leve recuperação do crescimento. Isso sem contar um
cenário externo favorável.
Assim, tenho “mixed feelings” em
relação aos ativos locais. Gosto bastante da parte curta da curva local de
juros. Acredito que teremos que ser um pouco mais táticos e seletivos em
relação ao BRL e ao Ibovespa.
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