Brasil: Há luz no fim do túnel.

No Brasil, o cenário político ainda é de muita incerteza. Uma nova operação da Polícia Federal na manhã de hoje prendeu um assessor direto do Presidente Michel Temer, complicando ainda mais a situação do Governo.

Existe, neste momento (e, aqui, precisamos frisar o caráter temporário desta interpretação, já que os eventos têm atropelado qualquer conclusão mais concreta), a visão de que Temer não irá renunciar, e que o impeachment também parece ser um caminho difícil, já que Rodrigo Maia, um grande aliado do Presidente, precisaria acatar um dos pedidos em suas mãos (o que parece improvável no curto-prazo). Assim, o peso da decisão recairá sobre o julgamento da Chapa Dilma-Temer no TSE.

Muitos já veem a condenação da Chapa como uma saída politicamente honrosa para Temer e menos traumática para o país. A mídia tem reportado que já existem trabalhos de bastidores com o intuito de alinhar um nome de consenso, de bom sendo e com caráter reformista para conduzir o país até as eleições de 2018.

Os ativos locais reagiram de forma positiva aos sinais emitidos pelo Congresso nas últimas horas. Como comentei pela manhã, estamos longe de superar está crise, mas se o Congresso decidir por manter um caráter reformista a este governo – que agora classifico como “tampão” – será um grande alívio para a sociedade, para a economia e, consequentemente, para os mercados. Enquanto a situação do Presidente continua delicadíssima, começam a surgir cenários possíveis para o futuro do país no curto-prazo e, muitos deles, menos negativos do que se previa anteriormente. A permanência do Presidente já não necessariamente vislumbra a não aprovação das reformas (pelos sinais do Congresso). As eleições indiretas, dada à postura do Congresso, deveriam eleger alguém de consenso, de bom senso e reformista. Eleições diretas parecem cada vez mais difíceis de serem colocadas em prática. Repito, a situação ainda é delicada, estamos longe de superar está crise, mas as soluções possíveis começam a ganhar contorno e, muitas delas, não são uma catástrofe para o país como se imaginou em um primeiro momento.

Acho importante chamar a atenção para a posição técnica do mercado. Desde o início desta crise política, os locais reduziram substancialmente suas posições em DI, Dólar e Ibovespa (segundo dados da BM&F), enquanto os estrangeiros tomaram a outra ponta, comprando ativos brasileiros. Olhando de hoje, fica claro que a posições técnica estava muito ruim e concentrada. Os últimos dias parecem ter levado a um quadro muito mais saudável para os ativos locais.

No campo econômico, o IPCA-15 de maio ficou levemente acima das expectativas, com alta de 0,24% MoM e 3,77% YoY, levemente acima das expectativas. A despeito da surpresa altista, o quadro de desinflação ainda persiste. Vemos alguns sinais um pouco piores no qualitativo do númro, especialmente em Serviços, mas nada que mude o quadro estrutural (positivo) para a inflação. Se não acontecer uma piora adicional do risco país, com o BRL controlado, ainda existe amplo espaço para o BCB manter o ciclo de corte da Taxa Selic. Talvez, não seja possível antecipar o ciclo de corte como era imaginado até poucos dias atrás, mas não há dúvida que o cenário ainda enseja um processo cíclico de corte de juros no país.
Os dados das contas externas de abril confirmaram um quadro de tranquilidade para esta rubrica, com um superávit na conta corrente, FDI ainda robusto e, neste mês, com uma entrada não desprezível na conta portfólio (renda fixa, em especial).

Os fundamentos mais robustos, com o inflação baixa e contas externas saudáveis deve ajudar o país a atrasar o atual momento de maneira mais suave do no passado. Isso não significa que a situação esteja resolvida, ou que períodos de instabilidade dos mercados financeiros locais não acontecerão, mas dão alguma tranquilidade para que uma solução seja encontrada para o impasse político local.

No cenário externo, as prévias dos PMIs de maio confirmaram o bom momento da economia global. Os números mantem um cenário relativamente positivo nesta frente. Vale a pena ressaltar, contudo, que os PMIs – como grande parte dos indicadores de confiança ao redor do mundo – encontram-se nos patamares mais elevados deste ciclo econômico (e, em muitos casos, da história). É natural esperar que, mais cedo ou mais tarde, estes indicadores mostrem algum arrefecimento. O importante, contudo, é que os níveis se mantenham condizentes com um crescimento global saudável e que o “hard data” mostra uma expansão decente.



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