Brasil: Cenário de incerteza persiste.
A despeito de mais um teste balístico por parte da Coréia do Norte, os ativos de risco estão abrindo a semana em tom positivo. Minha visão em relação ao tema continua a mesma. Vejo um quadro de crescimento global relativamente saudável, com uma inflação contida no mundo desenvolvido e a necessidade de ajuste monetário apenas gradual. Enquanto perdurar este ambiente, eventos como este na Coreia do Norte serão vistos como pontuais, como ruídos de curto-prazo. Caso este ambiente se altere, seja com uma desaceleração mais acentuada do crescimento, ou com uma inflação mais elevada no mundo desenvolvido, seremos obrigados a reavaliar o cenário global.
No Brasil, o Presidente Michel Temer dá novos sinais de que pretende se agarrar ao cargo e lutar até o último momento por seu mandato. Enquanto as investigações avançam, e STF não julga o requerimento pedindo suspensão do inquérito, Temer tenta reagrupar sua base aliada e manter a agenda parlamentar em andamento.
Neste momento, vejo a decisão do STF como evento que irá delinear o futuro do Presidente. Tenho enormes ressalvas na capacidade de Temer em reagrupar a base e manter o país no caminho das reformas, mas não podemos duvidar totalmente de um governo que passou por diversas crises e vem entregando uma agenda intensa e reformista. De qualquer maneira, continuo a ver a situação do país como extremamente delicada e sem uma saída fácil.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O final de semana se encerra sem uma luz no final do túnel. Temer cancelou um jantar com aliados no inicio da noite por falta de quorum. O plenário do STF irá julgar na quarta-feira um pedido da defesa de Temer visando cancelar o inquérito sobre o presidente até que uma perícia mais minuciosa seja feita nas gravações apresentadas no processo. Enquanto isso, a base aliada espera algum sinal para decidir se permanece ao lado do governo ou desembarca de vez do atual projeto.
Um gestor amigo e leitor deste fórum resumiu de forma clara o risco de manter posições elevadas no atual cenário. “Seria igual a fazer piquenique na beira do vulcão”. O momento requer cautela, posições pequenas e, principalmente, líquidas. Ainda me parece cedo para adotar um viés totalmente negativo, assim como para afirmar que o momento atual é mais um “buy opportunity”.
O cenário está constantemente em mutação, e teremos que avaliar a situação a cada novo evento.
Não pretendo comentar neste fórum todos os eventos políticos locais, que tem se mostrado extremamente dinâmicos, com ares de novela mexicana, ou de seriado de suspense norte americano.
Em termos gerais, Michel Temer concedeu novo pronunciamento ontem, reforçando que permanecerá no cargo e lutará por sua inocência nos eventos investigados. Enquanto isso, sua base aliada se esvazia, com partidos da base rompendo com o governo e outros partidos estudando medidas na mesma direção. A OAB aprovou requerimento para o pedido de impeachment do presidente.
O analista político da XP Investimentos, um dos melhores analistas atualmente na cobertura do cenário político local, Richard Back, resumiu de forma perfeita o cenário que o país se encontra: A certeza na incerteza é que falar em "Reforma da Previdência" neste ambiente é impossível. Falar em permanência de Temer vai se tornando improvável. Falar em queda de Temer sem alternativa óbvia é precipitado. É oficial: estamos em um beco sem saída. Ao menos por ora.
Repito, com o risco de parecer uma “vitrola quebrada” que vejo a renuncia, com eleições indiretas, como o cenário menos traumático para o país neste momento. Empurrar um governo tampão com a barriga é um cenário que considero ruim. Abrir brecha para eleições diretas é um cenário péssimo.
O Ministério Público parece estar adotando uma estratégia de tentar limpar o ambiente político para que as eleições de 2018 sejam menos afetadas por eventos não republicanos. Não entrarei no mérito da legalidade dos métodos utilizados. Estou apenas fazendo uma análise da situação corrente.
O avanço das investigações só tende a favorecer os outsiders nas eleições de 2018. João Dória seria um desses nomes. Lula, Aécio, Serra e afins são cada vez mais dragados para o mesmo ralo, inviabilizando suas carreiras políticas futuras. Eles são investigados, nenhuma deles ainda foi de fato condenado, mas a mídia e a sociedade tende a “condenar” carreiras e imagens mesmo sem condenação da justiça, ou antes dela.
Acredito que teremos um ambiente de elevada volatilidade nos mercados nos próximos dias. Meu viés é de manter uma posição aplicada na curva curta de juros, mas buscar hedges nos demais mercados. Esta não será uma tarefa simples, pois as vols já subiram drasticamente, a atuação do BCB pode mascarar os movimentos de curto-prazo no BRL, por exemplo, e o cenário externo ainda se mostra construtivo para o crescimento global e os ativos de risco em geral.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Abaixo, copio o que escrevi na sexta-feira.
Reforço a minha visão que vem sendo descrita neste fórum desde que esta crise eclodiu. O Governo Temer perdeu a capacidade de governar e forjar consensos em torno da agenda reformista. Não importa se a delação é uma armação, uma cilada ou um evento juridicamente legal. O estrago já foi feito.
Infelizmente, Temer dá sinais de que lutará por seu mandato até o fim. Continuo acreditando que o melhor para o país seja a renuncia, com a eleição indireta de um nome de consenso, moderado, que manterá a equipe econômica, o caráter transitório e reformista deste governo governo (FHC? Pedro Parente? Nelson Jobim?).
A incerteza de um governo fragilizado é o pior cenário que poderá prevalecer.
Todavia, precisamos ponderar sobre alguns outros pontos. O PT, Lula e Dilma também são drasticamente afetados por esta nova delação. Existe um risco concreto e real da situação jurídica destes personagens piorarem ainda mais de agora em diante, inviabilizando uma parte da esquerda para qualquer novo mandato presidencial. Para os mercados financeiros locais, isto é lido como positivo.
Além disso, Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira articularam uma agenda intensa de votações no congresso para a semana que vem em uma tentativa de dar um ar de normalidade ao quadro político.
Para completar, temos uma equipe econômica prudente e respeitada, que poderia continuar em um eventual novo governo “tampão”, que é mais um alívio para os mercados. Finalmente, a situação econômica do país, em termos cíclicos, é muito melhor atualmente do que na crise política de 2015, com inflação e expectativas de inflação contidas e cadentes, juros em quedas e leve recuperação do crescimento. Isso sem contar um cenário externo favorável.
Assim, tenho “mixed feelings” em relação aos ativos locais. Gosto bastante da parte curta da curva local de juros. Acredito que teremos que ser um pouco mais táticos e seletivos em relação ao BRL e ao Ibovespa.
Comentários
Postar um comentário