Mercados Globais - Incertezas Continuam.
A
despeito da estabilização dos mercados locais (volto a eles em breve) o cenário
externo segue incerto e, após a divulgação da delação premiada de um dos
maiores grupos empresariais do país, ainda mais delicada.
Comentei
hoje pela manhã que as gravações da delação premiada de um dos maiores grupos
empresariais do país (e do mundo) se tornaram públicas ontem. Confesso que,
referente às gravações, no tocante as acusações ao presidente Temer, achei as
gravações menos incriminadores do que a forma como a mídia havia reportado o
caso. O Governo teve uma interpretação semelhante e irá lutar, com todas as
forças, para se defender do caso.
Contudo,
a conversa ocorrida na residência oficial de Temer foi pouco republicana, não
entrando no mérito se foi juridicamente legal, e se a postura do delator foi
uma cilada ou uma conspiração para atingir o Presidente Temer.
Para
completar o cardápio da semana, a delação completa foi divulgada na tarde de
hoje. Os delatores atingem o coração do Governo Temer, com fortes acusações
contra o Presidente em exercício.
Reforço a
minha visão que vem sendo descrita neste fórum desde que esta crise eclodiu. O
Governo Temer perdeu a capacidade de governar e forjar consensos em torno da
agenda reformista. Não importa se a delação é uma armação, uma cilada ou um
evento juridicamente legal. O estrago já foi feito.
Infelizmente,
Temer dá sinais de que lutará por seu mandato até o fim. Continuo acreditando
que o melhor para o país seja a renuncia, com a eleição indireta de um nome de
consenso, moderado, que manterá a equipe econômica, o caráter transitório e
reformista do governo (FHC? Pedro Parente? Nelson Jobim?).
A
incerteza de um governo fragilizado é o pior cenário que poderá prevalecer.
Todavia,
precisamos ponderar sobre alguns outros pontos. O PT, Lula e Dilma também são
drasticamente afetados por esta nova delação. Existe um risco concreto e real
da situação jurídica destes personagens piorar ainda mais de agora em diante,
inviabilizando uma parte da esquerda para qualquer novo mandato presidencial. Para
os mercados financeiros locais, isto é lido como positivo.
Além
disso, Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira articularam uma agenda intensa de
votações no congresso para a semana que vem, em uma tentativa de dar um ar de
normalizada a situação.
Para completar,
temos uma equipe econômica prudente e respeitada, que poderia continuar em um
eventual novo governo “tampão”, que é mais um alívio para os mercados. Finalmente,
a situação econômica do país, em termos cíclicos, é muito melhor, com inflação
e expectativas de inflação contidas e cadentes, juros em quedas e leve
recuperação do crescimento. Isso sem contar um cenário externo favorável.
Assim,
tenho “mixed feelings” em relação aos
ativos locais. Gosto bastante da parte curta da curva local de juros. Acredito
que teremos que ser um pouco mais táticos e seletivos em relação ao BRL e ao
Ibovespa.
Hoje, em
especial, tivemos uma dinâmica extremamente técnica, com o BCB ajudando o BRL
ao longo de todo o dia, após forte compra de dólares por parte do mercado
ontem. O mercado de juros abriu pressionado, com resquícios de stops, mas
acabou o dia seguindo a direção do BRL.
O
cenário externo está seguindo a risca o pano de fundo que temos traçado neste fórum:
Os ativos de risco estão, desde ontem,
apresentando sinais de estabilização ao redor do mundo (ex Brasil). A
divulgação de dados econômicos robustos nos EUA ajudaram a acalmar os ânimos dos investidores, assim como a
estabilização do preço do petróleo. Ainda vejo um cenário relativamente
construtivo para o cenário econômico global. Existe um risco, que classifiquei
neste fórum como “ruído” no inicio da semana, em torno do cenário político dos
EUA. Mantenho a mesma visão. Acredito que a agenda econômica de Trump deverá
sofrer forte desgaste e atraso, mas enquanto o crescimento estiver robusto, o
mercado será capaz de ver através destes ruídos políticos. Este ambiente sofrerá
alteração estrutural, contudo, caso o crescimento dê sinais de arrefecimento
e/ou a inflação leve o Fed a uma postura mais acelerada no processo de
normalização monetária.
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