Commodities Rout!

Os ativos de risco estão passando por um turbulento momento em que dois vetores distintos atingem o cerne do mercado, afetando o cenário construtivo paras algumas classes de ativo, com os países emergentes. Vamos aos fatos:

Primeiro, observamos sinais de desaceleração da China. Os últimos PMIs do país mostram uma desaceleração do crescimento Chinês. Além disso, medidas adicionais as já implementadas nos últimos meses estão sendo tomadas, com o objetivo de evitar a dinâmica de bolha em alguns mercados e, em especial, restringir o mercado de crédito off-balance-sheet. Estas medidas tendem a afetar bastante o mercado de commodities que, em alguns casos, já se via diante de estoques crescentes (e um quadro técnico aparentemente ruim).

Segundo, voltou à tona o debate em torno da continuidade do processo de normalização monetária nos EUA. Este processo reduziria a liquidez dos mercados financeiros globais e tenderia a apertar as condições financeiras globais. Este vetor seria mais um “vento contrário” aos mercados emergentes e as commodities, por exemplo.

Como o Brasil não é uma ilha. Muito pelo contrário, é um país emergentes ainda muito dependente das commodities e das condições financeiras globais, os ativos locais estão sentindo os efeitos maléficos desses vetores citados acima.

A história mostra que os movimentos de correção nas commodities tendem a ser rápidos e acentuados, mesmo que pontuais. Assim, é sempre muito difícil tirar conclusões concretas em relação a dinâmica do mercado e, muito menos, acertar os pontos de inflexão do mercado.

Com relação a China, uma desaceleração já era esperada. A economia apresentou recuperação do 1Q, mas as medidas de restrição monetária impostas pelo governo apontavam na direção de um crescimento mais brando nos próximos 3 a 6 meses. Por ora, este cenário está se concretizando, mas ainda não há nenhum sinal mais alarmista nesta frente. Eu, particularmente, tenho uma grande preocupação em relação aos riscos de longo-prazo da economia da China, mas ainda vejo um curto-prazo relativamente estável no país.

É interessante lembrar, pegando o Minério de Ferro como exemplo, que ninguém esperava que esta commodity atingisse o patamar de US$90 há 6 meses atrás, e muito menos que permaneceria neste nível por algum tempo. O mercado trabalhava com um preço de US$60-US$65 para o médio-prazo. Agora, com o Minério voltando ao patamar visto como sustentável a médio-prazo, o mercado questiona até onde irá a queda (está analogia vale para o Cobre, Petróleo e afins).

Refleti sobre este aspecto apenas para dizer que o mercado financeiro tende a exagerar os movimentos, mesmo com mudanças apenas marginais de cenário. Temos que tentar ter o sangue frio para diferenciar mudanças efetivas e estruturais de cenário, de mudanças apenas pontuais de preço.

Nos EUA, continuo vendo um cenário em que o mercado de trabalho se encontra no pleno emprego e com o hiato do produto fechado. O Fed está em um ciclo claro, que deverá ser gradual e prolongado, de normalização monetária (alta de juros e redução de balanço). Com a inflação ainda baixa, este processo deverá ser gradual e bem administrado. Apenas uma sequência mais clara de pressões inflacionárias poderá tornar este processo menos trivial, ou mais acelerado.

Sou da teoria que precisamos respeitar a dinâmica do mercado, especialmente diante de vetores que temos pouco controle. É notório que um menor crescimento da China, e a perspectiva de juros mais elevados nos EUA, tendem a ser menos construtivos para os mercados emergentes.

Assim, será cada vez mais importante a escolha dos ativos corretos na busca por alpha. Ainda vejo o Brasil bem posicionado (condicionado a aprovação das reformas econômicas) para lidar com este “novo” ambiente. É natural, contudo, esperar períodos de maior volatilidade e incerteza. De maneira geral, vejo os eventos recentes apenas como mudanças marginais de cenário.



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