Relatório Semanal de Asset Allocation:

A semana trouxe algumas informações diferentes daquelas que marcaram a economia global neste início de ano, especialmente na China. Contudo, observamos também a confirmação de outros vetores também importantes para o cenário econômico global, que ainda justificam uma visão relativamente construtiva com o pano de fundo da economia mundial.

No que tange os mercados financeiros, o destaque da semana ficou por conta de um forte movimento de queda nas commodities. O movimento pode ser explicado pelos seguintes vetores: Primeiro, observamos sinais de desaceleração da China (vide mais detalhes abaixo). Segundo, voltou à tona o debate em torno da continuidade do processo de normalização monetária nos EUA. Este processo reduziria a liquidez dos mercados financeiros globais e tenderia a apertar as condições financeiras globais. Este vetor seria mais um “vento contrário” aos mercados emergentes e as commodities, por exemplo.

Abaixo, fazemos um breve resumo dos principais eventos da econômicos da semana.

China – Após a divulgação de dados econômicos robustos em março (e no primeiro trimestre do ano como um todo), a semana foi marcada por alguns sinais de desaceleração da economia. Os PMIs, tanto os números oficiais como pesquisas privadas, mostraram os primeiros sinais de desaceleração da economia do país.

O governo continua atuando na direção de administrar os excessos em setores específicos, para evitar a dinâmica de bolha que costuma ser comumente verificada no país ao longo dos anos. As medidas implementadas nos últimos meses devem levar a uma desaceleração, de certa forma esperada, da economia. A China continua convivendo com riscos não desprezíveis de longo-prazo, mas tem mostrado capacidade de administrar estes problemas ao longo do tempo.

As exportações e importações de abril ficaram abaixo das expectativas do mercado, mas em patamar consistente com um crescimento ainda saudável. Vale lembrar que alguma desaceleração da economia chinesa já era de uma maneira ou de outra, esperada pelo mercado. A desaceleração do crescimento era apenas uma questão de tempo. Agora, resta saber qual será a magnitude desta desaceleração. Enquanto essa resposta não for clara, poderá existir algum receio por parte dos mercados financeiros globais, afetando os ativos mais dependentes da demanda do país. Vemos este impacto como pontual e ainda trabalhamos com um cenário relativamente construtivo para a economia global no curto-prazo.

EUA - Os números do mercado de trabalho de abril mostraram uma criação robusta de empregos (211 mil vagas), mais uma inesperada queda na taxa de desemprego (de 4,5% para 4,4%) e uma alta esperada no rendimento nominal das horas trabalhadas (average hourly earnings), de 0,3% m/m, mas após revisão baixista do mês anterior.

Os números confirmam uma economia ainda bastante saudável, com um mercado de trabalho no pleno emprego e um hiato do produto praticamente fechado, dentro do que temos descrito neste fórum já há algum tempo.

A leitura é de que os números devem ser vistos (ou já foram vistos) como “Goldilocks”, já que mostram um crescimento robusto e um mercado de trabalho sólido. As pressões inflacionárias são crescentes, porém ainda não excessivas. Assim, o Fed poderá dar continuidade ao seu processo de normalização monetária, porém de forma gradual e bem comunicada. Este cenário poderá ser alterado quando (e se) a inflação começar a dar sinais mais preocupantes de alta rápida e acentuada.

No atual estágio do ciclo econômico dos EUA, com a taxa de desemprego em 4,4% existe um risco crescente da inflação começar a dar sinais mais claros de aceleração. Este é um risco que precisa ser monitorado e devidamente “hedgeado” nos portfólios. A dinâmica dos ativos de risco, entretanto, tem mostrado que o mercado irá ser reativo a este cenário, e não proativo, ou seja, enquanto o crescimento estiver sólido, mas a inflação controlada, o Fed deverá manter postura gradual e, assim, manter as condições financeiras frouxas, desenvolvendo um pano de fundo positivo para os ativos de risco em geral.

Brasil – Semana de poucas novidades relevantes para o cenário local. A Produção Industrial apresentou queda de 1,8% m/m e alta de 1,1% a/a em março, abaixo das expectativas de -1% m/m e + 2%a/a. A abertura do número mostrou um quadro qualitativo ruim. Segundo nossa área econômica:

>> A produção industrial veio abaixo do esperado (-1,8%m/m dessaz vs. BBG: -1%m/m dessaz e 1,1% a/a vs. BBG: 2%a/a). O segmento leading de ciclos, bens duráveis, apresentou queda acentuada em março (-8,5%m/m dessaz) e tem apresentado elevação no nível de estoques (segundo a FGV). O qualitativo da pesquisa foi ruim, com as categorias de uso encolhendo igual ou mais que o headline; O índice de difusão (% dos itens em alta) foi relativamente baixo (39,1%); O desempenho da produção industrial tem sido volátil (ora expandindo 8,5% anualizada na média móvel trimestral em fevereiro, ora contraindo -8,1% em março). O índice de confiança industrial tem se elevado, mas patamar ainda é condizente com a fraqueza no segmento. A elevação dos estoques em duráveis e bens de capital reforça a continuidade dessa fraqueza; por enquanto, estamos trabalhando com um crescimento do PIB de 0,7% no primeiro trimestre de 2017 (em boa parte puxado pela expansão da agricultura e da indústria extrativa), mas há muitas fragilidades nos dados (por exemplo, o mercado de trabalho segue piorando) atrapalhando uma retomada mais substancial da economia.

De maneira geral, o número de hoje reforça um quadro de recuperação lenta e gradual da economia.

As coletas de inflação continuam mostrando um pano de fundo de inflação contida. Somados um quadro de crescimento pífio e inflação baixa, o cenário continua extremamente propício para o BCB promover uma antecipação do ciclo de queda da Taxa Selic.

As reformas econômicas continuam avançando no Congresso, a despeito de todos os obstáculos e eventuais atrasos no cronograma de votações. A Comissão Especial da Câmara aprovou o texto base da Reforma da Previdência, deixando para esta semana a finalização dos destaques para posterior votação em plenário.

Alocação/Estratégia:

Mantemos um viés positivo para o cenário econômico local e uma visão construtiva para o cenário externo. Assim, mantemos uma visão positiva para os ativos locais (bolsa, juros e câmbio). Acreditamos que faça sentido manter exposição ao que é “vulgarmente” conhecido como “Kit Brasil”, mas mantendo em mente o fato que a definição da Reforma da Previdência, agendada para o mês de maio, deverá ser determinante para a dinâmica dos ativos locais.

Entendemos que o processo de apreciação dos ativos não será linear. Momentos de incerteza certamente afetarão a volatilidade e os preços dos ativos, o que irá requerer certo “sangue frio” na estratégia de alocação.

Por ora, mantemos uma visão de que a recuperação do país e de seus ativos será um processo plurianual e não se dará em poucos meses. Ainda vemos amplo espaço para uma recuperação estrutural dos ativos do país. Neste momento, o grande risco fica por conta da Reforma da Previdência. Se o governo falhar nesta frente, o cenário poderá ser rapidamente revertido.

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