Relatório Semanal de Asset Allocation:

No final da tarde de quarta-feira, o jornal O Globo divulgou em sua página da internet o que seria o vazamento da delação premiada (totalmente inesperada e fora do radar) de um dos maiores grupos empresariais do país. Além das relações nada republicanas com centenas de políticos, a delação, segundo a reportagem, apresentaria uma gravação em que o atual Presidente Michel Temer compactua com um possível favorecimento a um ex-Deputado e agora réu e preso pela Lava-Jato.

Na sexta-feira, as gravações e o sigilo da delação premiada em questão foram quebrados e as acusações vieram a público. A PGR pediu, e teve seu pedido acatado pelo STF, um inquérito de investigação sobre o presidente Michel Temer.

As alegações são gravíssimas. Michel Temer veio a público em defesa própria e seus advogados entraram com pedido de suspensão do inquérito no STF, decisão que será tomada pelo plenário do STF na quarta-feira (se não houver pedido de vistas).

O clima político esquentou e a situação de Temer ficou extremamente delicada. A agenda de reformas econômicas deverá ficar em segundo plano. A Reforma da Previdência deverá sair da pauta “a perder de vista”.   

Pela reação da mídia e pelos sinais da base aliada, a situação do Governo é de insustentabilidade. Segundo a Constituição, no caso de vacância do presidente, o presidente da Câmara do Deputados assume o cargo por um período curto de tempo, para convocação de eleições indiretas. Neste cenário, é o Congresso quem elege o presidente, mas qualquer brasileiro poderá ser candidato. Como Rodrigo Maia também é investigado pela Operação Lava-Jato, existe uma zona cinzenta em torno da possibilidade dele assumir, mesmo que temporariamente o cargo. O melhor cenário seria um processo rápido e a eleição de um nome de consenso, alinhado com as reformas econômicas em curso. A realidade, contudo, deverá ser muito mais dura, envolta com incertezas e volatilidade.

Um analista político resumiu a situação da seguinte forma, com a qual concordamos: “A certeza na incerteza é que falar em Reforma da Previdência neste ambiente é impossível. Falar em permanência de Temer vai se tornando improvável. Falar em queda de Temer sem alternativa óbvia é precipitado. É oficial: estamos em um beco sem saída. Ao menos por ora”.

Gostaríamos de reforçar, com o risco de parecer uma ‘vitrola quebrada’ que vemos a renúncia, com eleições indiretas, como o cenário menos traumático para o país neste momento. Empurrar um governo tampão com a barriga é um cenário que consideramos ruim. Abrir brecha para eleições diretas é um cenário péssimo.

O Ministério Público parece estar adotando uma estratégia de tentar limpar o ambiente político para que as eleições de 2018 sejam menos afetadas por eventos não republicanos. Não nos cabe entrar no mérito da legalidade dos métodos utilizados. O avanço das investigações só tende a favorecer os outsiders nas eleições de 2018. João Dória seria um desses nomes. Lula, Aécio, Serra e afins são cada vez mais dragados para o mesmo ralo, inviabilizando suas trajetórias políticas futuras. Eles são investigados - nenhuma deles ainda foi de fato condenado - mas a mídia e a sociedade tende a condenar carreiras e imagens mesmo sem julgamento da justiça, e/ou antes dela.

O fato é que por conta dessa situação já vivemos um ambiente de elevada volatilidade nos mercados e ele permanecerá nos próximos dias.

Ao nosso ver, o governo Temer perdeu a capacidade de governar e forjar consensos em torno da agenda reformista. Não importa se a delação é uma armação, uma cilada ou um evento juridicamente legal. O estrago já foi feito.

Contudo, Temer dá sinais de que lutará por seu mandato até o fim.

A incerteza da manutenção ou não de um governo fragilizado é um cenário bastante ruim para os mercados.

Todavia, precisamos ponderar sobre alguns outros pontos. O PT, Lula e Dilma também são drasticamente afetados por esta nova delação. Existe um risco concreto e real da situação jurídica destes personagens piorarem ainda mais de agora em diante, inviabilizando uma significativa parcela da esquerda para qualquer novo mandato presidencial. Para os mercados financeiros locais, isto vem sendo visto como positivo.

Além disso, Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira articularam uma agenda intensa de votações no Congresso para esta semana, em uma tentativa de dar um ar de normalidade ao quadro político.
Para completar, temos uma equipe econômica prudente e respeitada, que poderia continuar em um eventual novo governo ‘tampão’. Finalmente, a situação econômica do país, em termos cíclicos, é muito melhor atualmente do que na crise política de 2015, com inflação e expectativas de inflação contidas e cadentes, juros em queda e leve recuperação do crescimento. Isso sem contar um cenário externo favorável.

Com este quadro de extrema incerteza, o mais improvável e inesperado dos riscos se concretiza no país, tornando o cenário prospectivo uma grande interrogação. Por ora, o melhor a ser feito é esperar uma maior claridade em torno do cenário político e/ou preços de mercado atrativos a ponto de justificar posições relevantes.

Alocação/Estratégia:


Diante das incertezas citadas acima, estamos temporariamente movendo todas as recomendações para neutro. Optamos por esperar uma clareza maior do cenário político antes de chegarmos à conclusão de qual o cenário mais provável para o país. Neste momento, julgamos ser extremamente prematuro tentar tirar qualquer conclusão mais concreta. Assim sendo, acreditamos que o mais prudente seja manter posições neutras. 

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