Banco Central Europeu surpreende, mais uma vez.

O destaque desta quinta-feira ficou por conta do Banco Central Europeu (ECB). Mario Draghi manteve sua trajetória de surpreender o mercado, sinalizando que o ECB está pronto para atuar, já na sua reunião de dezembro, caso o cenário prospectivo para o crescimento e a inflação não mostre recuperação até lá. A atuação do Banco poderá ser através de uma extensão, aumento ou recomposição do QE que já está em prática. Além disso, novos cortes de juros foram discutidos, ao contrário do passado recente. Alguns membros do ECB já queriam atuar na reunião de hoje. Em linhas gerais, a postura do ECB deverá retirar mais um “risco de cauda” do cenário, dando suporte aos ativos da Europa e, consequentemente, alguma ajuda aos ativos de risco ao redor do mundo. Em relação aos ativos europeus, acho provável um movimento de alta dos bonds, das bolsas e uma queda do EUR. Em relação aos demais ativos de risco ao redor do mundo, e dos países emergentes, em especial, o suporte deverá ser apenas temporário, já que os problemas estruturais são muito graves e de difícil solução.

No Brasil, o mercado reagiu de maneira ambígua a decisão do Copom em conjunto com o movimento externo gerado pelo ECB. No mercado de juros, a curva apresentou um forte steepening. O dólar seguiu o humor global a risco mais positivo, assim como a bolsa local. Acredito que os ativos brasileiros devem ter desempenho relativo pior do que seus pares nos próximos dias. Primeiro devido ao cenário fiscal e, em segundo lugar, devido a postura do BCB. Como comentei pela manhã, o Copom alterou o comunicado após a decisão de ontem, indicando que a convergência da inflação para o centro da meta será alcançado em um prazo mais longo do que até o final de 2016. A decisão é amplamente compreensível no atual cenário de inflação acima de 10% e forte pressão sobre o crescimento. Contudo, em um governo sem qualquer credibilidade, abandonar o modelo atual de metas de inflação pode ser uma estratégia arriscada. Espero a continuidade do movimento de steepening da curva de juros e acredito que a parte longa da curva, a longo-prazo, não irá responder positivamente a esta decisão.

Jaques Wagner confirmou que o déficit fiscal primário para 2015 deve apresentar um rombo de R$55 bi, sem contar as pedaladas fiscais. Este número, assim, poderia superar os R$80 bi. A estratégia para 2016 é manter a meta de superávit de 0,7% do PIB, mas sabemos que, alcançar qualquer superávit já será uma vitória gigantesca.

Não podemos nos acostumar com as notícias ruins. O governo e o BCB tem ventilado suas intenções na mídia antes dos anúncios. O mercado e a sociedade se acostumam com a deterioração do cenário, que passa a ser normal. Estamos diante de um aumento explosivo da dívida/PIB, sem nenhum sinal de reversão desta tendência. A ancora monetária, que vinha sendo bem executada, partiu para uma estratégia arriscada. Vejo um cenário extremamente desafiador pela frente.


Nos EUA, os dados do setor imobiliários e do mercado de trabalho continuam positivos, mostrando uma economia crescendo a uma velocidade de cruzeiro em torno de 2%-2,5%. Não me parece haver um risco elevado de recessão, a despeito de desacelerações pontuais do crescimento do país.

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