China, ECB e Fed.

A China anunciou, hoje pela manhã, um corte de 25bps nas suas taxas de juros, um corte de 50bps nas taxas de compulsório dos bancos e removeu o teto para as taxas de empréstimo. As medidas eram em parte esperadas pelo mercado, mas sendo anunciadas em conjunto, podem ser interpretadas como mais agressivas do que as expectativas.

Na minha visão, em conjunto com a sinalização do ECB na Europa ontem, as medidas de hoje na China ajudam a reduzir os “riscos de cauda” para a economia global. Em outras palavras, o receio de uma desaceleração mais rápida, acentuada e coordenada do crescimento mundial deve ser reduzido. Contudo, a redução desses riscos aumenta, proporcionalmente, a probabilidade do começo de um processo de alta de juros nos EUA, mais cedo do que tarde. Vale lembrar que o Fed vem adiando o início de um processo, lento e gradual, de alta de juros no país, indicando a fraqueza global como principal argumento para ter uma postura mais cautelosa no curto-prazo.

Caso as perspectivas de crescimento mundial melhorem com a atuação de outros importantes bancos centrais ao redor do mundo, aumentam as chances de um início de processo de alta de juros nos EUA. Este cenário, assim, tenderia a dar suporte ao dólar no mundo, colocando pressão nas commodities e ajudando a dar suporte as taxas de juros norte americanas. Do ponto de vista de ativos de risco, tais como as bolsas, HY bonds, entre outros, o cenário tende a ser mais positivo. Em linhas gerais, poderemos observar algum tipo de diferenciação entre classes de ativos e regiões caso o cenário descrito acima seja efetivamente observado.

O cenário econômico global e local segue com pouca visibilidade. Os movimentos de mercado mostram poucas (ou nenhuma) tendência clara. Neste ambiente, não vejo grandes assimetrias para posições estruturais relevantes. Ainda vejo um ambiente de postura tática, com posições mais moderadas e stops sendo respeitados.

Brasil – A Arrecadação de setembro atingiu R$95,2 bi, levemente acima das expectativas. O número não altera o quadro extremamente desafiador para as contas públicas do país. A conta corrente apresentou déficit de US$3 bi no mesmo mês, abaixo das expectativas de déficit de US$2,3 bi, mas compensadas por uma surpresa positiva nos investimentos estrangeiros diretos. O fluxo financeiro continua negativo, com saídas expressivas de papéis de renda fixa local. A despeito de já observarmos um ajuste das contas externas do país, este ajuste está sendo mais lento do que o imaginado. A taxa de câmbio continua a ser o principal amortecedor para a atual situação econômica do país.

O BRL vem seguindo uma melhora do humor global a risco nos últimos dias, em linha com o movimento do Ibovespa. A curva de juros, contudo, parece reagir de maneira mais clara, e menos poluída pelo cenário externo, as evoluções do cenário local. A curva continua seu movimento de steepening, com o Jan21/jan17 atingindo +60bps, movimento que eu acho fazer sentido pelo cenário atual de contas públicas e de política monetária. No caso do BRL, acredito que o movimento de apreciação deve ser um ajuste técnico. Só vejo uma mudança clara de tendência de depreciação da moeda com uma mudança substancial de cenário político local, mas entendo que movimentos pontuais podem ocorrer devido a vetores exógenos, como o cenário externo e ajustes de posições.

EUA – O Markit US Manufacturing PMI subiu de 53,1 para 54,0 pontos em outubro, acima das expectativas de 52,7 pontos. O número reforça a mensagem observada nos indicadores de emprego e mercado imobiliário divulgados ao longo desta semana. A economia americana passa por um “soft patch”, ou seja, por um período pontual e cíclico de desaceleração. Contudo, o cenário central ainda é de um crescimento saudável em torno de 2,5% da economia.

A temporada de resultados corporativos está avançando de maneira mais positiva, com o setor de Tech surpreendendo nos últimos dias (Amazon, Google e Microsoft). As sinalizações em torno do cenário prospectivo, de maneira geral, continuam estáveis. Em um ambiente de excesso de pessimismo no mercado, este ambiente acabou favorecendo uma recuperação das bolsas dos EUA e da Europa.


O mercado precifica menos de 50% de probabilidade de uma alta de juros ainda este ano. Caso o cenário para a economia mundial evoluía de maneira mais positiva, como os últimos dados apontam, existe um risco não desprezível de uma reprecificação desta probabilidade, o que poderia dar suporte ao dólar no mundo novamente. Contudo, precisaremos destas confirmações para ter uma convicção mais clara em relação a este cenário.

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