Brasil: Aumento dos riscos de cauda.

Os ativos de risco continuam digerindo um cenário global ambíguo. Estamos observando uma clara solidez da demanda interna nos EUA, com dados de emprego, do setor imobiliário e de confiança do consumidor apresentando recuperação, por um lado, mas uma demanda externa e um setor manufatureiro sofrendo os impactos negativos do menor crescimento global e da alta do dólar, por outro lado. Na China, o setor de serviços e de consumo também mostra resiliência, mas em detrimento a uma clara desaceleração dos investimentos e do setor externo. Os ativos de risco parecem estar reagindo de acordo com este cenário, pelo menos neste começo de semana.

A terça-feira foi de desempenho misto para o dólar, com destaque negativo para a performance das moedas de LatAm. Os juros norte americanos apresentaram abertura de taxas, em um dia de relativa estabilidade das commodities.

Nos EUA, o Housing Starts apresentou alta de 6,5% em setembro, atingindo 1206 mil unidades, um novo pico para este período pós-crise.

No Brasil, o fluxo de notícias foi um pouco mais ameno do ponto de vista político, mas sem avanços positivos concretos. A mídia está ventilando números em torno de uma potencial revisão para a meta fiscal de 2015, todos enquadrando-se em um cenário negativo, que ajudariam a colocar a dinâmica de dívida/PIB em trajetória ainda mais explosiva. Já se fala, com normalidade, de um déficit fiscal primário em torno de 1% para este ano. Não há sinais de que o ajuste fiscal pretendido para 2016 também será alcançado. Uma revisão nesta direção, e desta magnitude, poderia acelerar o processo de perda do grau de investimento pelas outras agências de rating que ainda mantém o Brasil com o selo de bom pagador.

Além do debate fiscal, ventila-se uma eventual mudança de postura por parte do BCB, que abandonaria a convergência da inflação para a meta em 2016 e passaria a mirar, de maneira mais explícita, a convergência apenas em 2017. Eu acredito que não existe nenhum ganho de credibilidade a ser atingido adotando esta postura, no atual momento. O cenário base ainda me parece ser de manutenção dos juros na reunião do Copom de amanhã, com a manutenção do mesmo comunicado da reunião anterior.


Em um ambiente de incerteza extrema, acredito que os ativos locais devem continuar com desempenho pífio e elevada volatilidade. Na ausência de mudanças substanciais no quadro fiscal devemos esperar novas rodadas de pressão sobre os ativos brasileiros. Os ativos locais podem aparentar ter prêmios relevantes para um ambiente de normalidade. Contudo, diante de riscos de cauda crescentes, esses prêmios tendem apenas a aumentar. A situação demanda uma equalização da crise política, para que a crise econômica e fiscal tenha uma solução concreta e definitiva.

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