Brasil em foco.
Os ativos externos passam por um período de consolidação, em uma
terça-feira de poucas novidades relevantes ao cenário econômico global (exceto
por questões específicas como na Austrália, já comentadas neste fórum pela
manhã).
No Brasil, contudo, os desenvolvimentos políticos
recentes estão mantendo os ativos locais sobre pressão. Ainda não parece haver
motivos ou vetores concretos que possam a dar suporte de maneira mais
expressiva aos ativos locais. As melhoras do mercado local, assim, devem se
restringir a serem pontuais e localizadas.
No câmbio, o mercado parece surpreso com a decisão do BCB em
manter uma rolagem de “apenas” 60% dos swaps cambiais vincendo, em um pano de
fundo em que o cenário externo se mostra mais desafiador para esta classe de
ativo, e após um mês de rápida e acentuada depreciação do BRL. Algumas teorias
podem ser criadas para a postura do BCB: desconforto com o nível ainda elevado
dos estoques de swap, desconforto com o custo recente dos swaps nas contas
públicas, necessidade de fazer o juste de preços relativos o mais rápido possível,
em uma tentativa de não contaminar o cenário de 2016 ainda mais, entre outras
teorias. A verdade é que o mercado parece estar mais “leve” na compra do dólar,
a despeito dos sinais técnicos mostrarem um USDBRL “esticado” no curto-prazo. O
Cupom Cambial apresentou alta expressiva recentemente, apontando para alguma
pressão de saída no mercado spot. As vols implícitas subiram de cerca de
14% para 19% neste momento, patamar alto, mas ainda longe dos highs
recentes (vide gráficos abaixo). A minha visão de consolidação da moeda no
patamar de 3,3-3,4 se mostrou precipitada. O mercado parece ter encontrado um
novo nível, em torno de 3,4-3,5. Falar de câmbio de equilíbrio é sempre
complicado, já que os modelos para câmbio são bastante instáveis. Meu sentimento
é que o patamar de 3,3 talvez tenha virado um novo “piso” para o dólar.
Podemos, em um cenário de maior stress, ver a taxa de câmbio no entorno de
3,7/4,0 em algum momento dos próximos 6 a 12 meses, mas prever o timing disto,
e como se dará esse processo, não será trivial. Acredito que existe espaço para
períodos de acomodação (queda do dólar) mas que tenderão a ser pontuais e pouco
consistentes. O viés é de continuar buscando posição compradas em dólar, mas o
momento requer serenidade no tamanho das posições.
Com o pano de fundo negativo para a moeda, o mercado local de
juros tem reagido mais como um crédito, do que como um instrumento de política
monetária. O Jan21/Jan17 saiu de -90bps para -60bps, em um movimento de steepening
consistente com a piora do quadro político e econômico do país. A estratégia do
BCB parece ser de encerrar o ciclo de alta da taxa Selic, mas convencer o
mercado de que os juros ficarão estáveis por um longo período de tempo. A curva
precifica alta de cerca de 15bps nas próximas duas reuniões do Copom, com
quedas em torno de 25bps a partir de março de 2016 até o começo de 2017.
O FRA de 2016 mostra juros de 13,4%, contra 12,55% para 2017 e 13% para 2018.
Eu vejo valor na curva local de juros, especialmente na região do FRA de 2018. Contudo,
entendo que o caminho para juros mais baixos será longo e tortuoso. Este
cenário demanda uma posição tática no mercado, ou seja, se aproveitando de
extremos de preço para elevar e/ou reduzir a exposição nesta classe de ativos.
A postura de “carregar posição” neste ativo não tem se mostrado vencedora nos
últimos meses e, especialmente, nas últimas semanas.
No mercado de renda variável, o período de resultados
corporativos está ditando a dinâmica do mercado nos últimos dias. A despeito de
resultados vistos como ainda robustos, a evidente piora da inadimplência parece
estar trazendo algum desconforto pontual do mercado para o setor bancário. Com
as taxas locais de juros novamente em alta, os setores sensíveis a juros
voltaram a sofrer, como consumo e shoppings. Eu continuo sem uma visão
direcional para a bolsa brasileira. Não vejo motivos concretos para uma melhora
consistente do mercado como um todo, mas nos atuais níveis, pelo o que vejo de valuation,
uma boa parte do pessimismo já parece estar embutida nos preços.
A PIM de junho ficou acima das expectativas do mercado, com uma
queda de 0,3% MoM e -3,2% YoY. A despeito da surpresa positiva, o panorama para
o crescimento do país ainda é negativo. Não vemos o número de hoje como um
ponto de inflexão para a economia do país. Os dados de veículos da Fenabrave de
julho, divulgado ontem, mostram um quadro ainda desolador para a indústria
automobilística.
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