China, EM e Brasil

O destaque do final de semana ficou por conta de novos sinais de fragilidade da economia da China. As exportações do país saíram de 2,8% YoY para -8,3% YoY em julho, muito abaixo das expectativas de -1,5% YoY, enquanto as importação passaram de -6,1% YoY para -8,1% YoY, dentro das expectativas do mercado. A despeito de permanecer em patamares deprimidos, o quantum de importação de algumas commodities mostrou leve recuperação no mês. O CPI subiu de 1,4% YoY para 1,6% YoY, em grande parte fruto da alta pontual e localizada nos preços dos porcos e de um efeito sazonal de impostos. O PPI, por sua vez, caiu de -4,8% YoY para -5,4% YoY, mostrando uma economia fraca e com enorme ociosidade em sua capacidade produtiva, sinais desanimadores para as perspectivas de médio prazo para o crescimento do país.

No que diz respeito das exportações, os números ficaram em linha com o que temos observado nos números de exportação de outras economias abertas da Ásia (como Taiwan, Cingapura e Coréia do Sul). A economia global, especialmente os países emergentes, mostraram sinais inequívocos de fragilidade, sem sinais concretos de estabilização. Os números recentes passam longe de mostrar uma economia mundial saudável e robusta, a despeito de sinais mais encorajadores dos EUA e Europa. Assim, enquanto não observarmos uma aceleração do processo de reformas nessas regiões (países emergentes) correremos o risco de passar por um período mais prolongado de baixo crescimento e, eventualmente, momentos de crises pontuais mais agudas, como estamos vivenciando no Brasil e em alguns outros países emergentes (Rússia, Turquia, e etc).

Em relação à China, devemos esperar novas medidas de suporte ao crescimento por parte do governo, mas com o intuito de estabilizar a economia e evitar uma desaceleração adicional do crescimento. Não devemos ter a ambição de acreditar que a economia voltará a crescer a taxas mais robustas (8% a 10%) como no passado recente. Um crescimento de 7% do PIB passou a ser um teto para a China.

Brasil – A mídia continua digerindo e especulando em torno da atual crise política no país. As especulações continuam enormes, desde a possibilidade de um impeachment, até a nomeação de Lula como ministro. A oposição, por sua vez, se mostra desunida e sem uma estratégia única de combate ao atual governo. Por hora, estamos vivendo no pior dos cenários possíveis para a política e a economia do Brasil. O país está à deriva, sem uma liderança sólida e capaz de conduzi-lo as reformas necessárias para colocar a economia de volta aos trilhos. A oposição parece satisfeita em deixar o “governo sangrar” sem, contudo, adotar uma postura mais agressiva em busca do poder. Neste ambiente, devemos continuar vivendo um ambiente de enorme incerteza, que manterá a economia na lama e os mercados financeiros locais sobre enorme pressão. Apenas uma solução concreta e definitiva será capaz de retirar o país desta solução. Enquanto essa solução não for encontrada, não vejo motivos para otimismo. Eu não consigo ver o país mantendo este cenário por mais 3 anos. Por isso, tenho uma ponta de esperança que as lideranças políticas serão capazes de reverter este quadro, seja por bem ou, seja por mal. No entanto, entendo que, por hora, sem sinais concretos nessa direção, só podemos esperar que as recuperações dos ativos locais sejam pontuais e localizadas. A tendência de curto-prazo continua a ser negativa para o Brasil e seus ativos. Para piorar o panorama local, o cenário externo se mostra desafiador para o Brasil, com a China crescendo estruturalmente menos, os EUA começando um processo de alta de juros e vários países emergentes passando por um período mais desafiador.

EUA – Exceto por uma mudança muito substancial nas próximas semanas (crise emergente!?) vejo o Fed bem posicionado para começar o processo de alta de juros no país já em setembro. Este cenário já está relativamente bem precificado no mercado, o que dá conforte ao Comitê para prosseguir com seu plano de voo.


Posições – O momento é de parcimônia. Acredito que as posição devem ser reduzidas ao mínimo até que o cenário local e externo se mostre mais claro vis-à-vis os preços dos ativos. A melhor opção no momento é estar com baixa alocação a risco e com postura mais tática (stops mais curtos). O cenário de longo-prazo ainda me parece positivo para o dólar no mundo e para as bolsas da Europa. Vejo valor na curva local de juros. Contudo, existe no momento uma série de questões que precisam ser equacionadas para que posições maiores nesses ativos se justifiquem.

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