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Os ativos de risco parecem estar digerindo uma semana extremamente volátil e incerta. Os preços atingiram um patamar de equilíbrio muito mais elevado do que no pior momento da semana, mas ainda há sinais claros de instabilidade. A dinâmica do mercado ainda se mostra bastante técnica (como a alta de cerca de 17% do petróleo em dois dias). Na ausência de novidades relevantes no cenário, poderemos sair de uma dinâmica de “risk-on, risk-off” para um caminho em que a diferenciação poderá ser o grande tónica dos mercados.

Assim, precisamos diferenciar os países e regiões que encontram-se realmente saudáveis, e poderão passar por este cenário de incerteza de maneira mais suave, daqueles países e regiões em que os fundamentos são frágeis, e apenas reformas estruturais, que demandam tempo, serão capazes de reverter um quadro econômico mais negativo. No primeiro caso, eu classificaria os EUA e a Europa, onde “ajustes finos” no tocante a política monetária seriam suficientes para lidar com um ambiente de aperto das condições financeiras. Na China, e em parte do mundo emergente, contudo, a atual crise deve se prolongar por um período um pouco mais extenso. Os problemas econômicos e políticos são mais graves, se mostram estruturais, e demandam medidas mais drásticas, cujos os efeitos levam algum tempo para terem os efeitos desejados.

Eu vejo com bons olhos as sinalizações recentes dos bancos centrais ao redor do mundo, em especial do Fed, ECB e PBoC. Por hora, as medidas anunciadas na China, em conjunto com as sinalizações do Fed e do ECB, foram capazes de estabilizar o humor do mercado. Contudo, acredito que serão necessárias medidas adicionais (e estruturais), principalmente na China e nos países emergentes, para uma recuperação mais consistente dessas economias e de seus ativos. Enquanto este tipo de medida não for tomada, as recuperações dos ativos de risco tenderão a ser pontuais, frutos de ajustes técnicos. O curto-prazo ainda deve nos reservar incerteza e volatilidade.

Brasil – O PIB do 2T apresentou queda de 1,9% QoQ e 2,6% YoY, abaixo das expectativas de -1,7% QoQ e -2,1% YoY. O setor público consolidado apresentou um déficit de $10b em julho, acima do déficit de $7b esperados pelo mercado. Os números continuam mostrando uma economia extremamente fragilizada e uma perspectiva de ajuste cada vez mais desafiador para as contas públicas nacionais. A mídia vem reportando um intenso debate no governo em torno do orçamento para 2016, com uma incapacidade em se cortar receitas de maneira mais contundente e a dificuldade em emplacar aumentos de impostos em um congresso hostil ao governo.

Os ativos locais tiveram uma sexta-feira de movimentos desconexos. O BRL teve um dia de depreciação, voltando a testar o patamar de 3,6. O Ibovespa reverteu pequena parte do rally apresentando nos últimos dias, enquanto a curva de juros apresentou um relevante movimento de flattening.

Minha visão continua sendo mais negativa para o cenário local. Vejo um ambiente externo ainda desafiador para o país. No âmbito local, não vejo nenhum sinal de recuperação da economia (muito pelo contrário), em um ambiente político extremamente complicado.

EUA – O Michigan Confidence caiu de 92,9 para 91,9 pontos em sua última leitura de agosto, mostrando algum impacto negativo da turbulência global sobre as expectativas dos consumidores, mas ainda em caráter modesto. Membros do FOMC vieram a mídia durante o dia com sinais ambíguos, sem um comprometimento claro com os próximos passos que o comitê poderá tomar na reunião de setembro.

China – O país vem adotando uma postura mais agressiva na condução de sua política monetária, realizando leilões diários afim de injetar liquidez no mercado. Além disso, ouros instrumentos, menos tradicionais, parecem estar sendo expandidos. Segundo Dong Tao, do CS:

Lou Jiwei, China's financial minister, announced on 27 August a further expansion of the local government debt swap line to Rmb3.2 tn from Rmb2.0 tn previously. This is another positive step in local government debt risk management. After expansion, the local government debt swap line should ease repayment pressure for 2015 and provide some help for the repayment in 1H16. This should help create better liquidity conditions for local governments. But we also would like to point out that, rolling over only delays debt repayment but does not resolve the debt stock problem. We also view such an expansion as another pro-growth measure from Beijing, as easier financial conditions should offer more room for local government projects. However, the expansion of debt swap line does not solve the incentive issue at local governments. Thus it is still arguable whether we will see a strong rebound in local government activity.

Europa – O consenso de mercado já espera uma mensagem dovish do ECB na semana que vem. Poucos acreditam em uma ação já na próxima reunião. A ausência de uma mensagem clara por parte de Draghi será vista como uma decepção, enquanto medidas adicionais de estímulo serão positivamente recebidas pelo mercado.


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