Relief Rally

Os ativos de risco tiveram uma terça-feira de recuperação, em um misto de melhora de humor após o anuncio de corte de juros e compulsório na China, e um “rebote” (rebound) natural do mercado após uma sequência de dias negativos. Na minha visão, as medidas anunciadas na China são positivas e deveriam trazer algum tipo de suporte ao mercado. Contudo, acredito que ainda existem sinais inequívocos de fragilidade ao redor do mundo, o que manterá a volatilidade elevada por um período de tempo mais prolongado.

Acredito que, neste momento, precisamos diferenciar os países e regiões que encontram-se realmente saudáveis, e poderão passar por este cenário de incerteza de maneira mais suave, daqueles países e regiões em que os fundamentos são frágeis, e apenas reformas estruturais, que demandam tempo, serão capazes de reverter um quadro econômico mais negativo. No primeiro caso, eu classificaria os EUA e a Europa, onde “ajustes finos” no tocante a política monetária seriam suficientes para lidar com um ambiente de aperto das condições financeiras. Na China, e em parte do mundo emergente, contudo, a atual crise deve se prolongar por um período um pouco mais extenso. Os problemas econômicos e políticos são mais graves, se mostram estruturais, e demandam medidas mais drásticas, cujos os efeitos levam algum tempo para terem os efeitos desejados.

As medidas anunciadas pela China hoje atenuam os efeitos de curto-prazo da desaceleração econômica do país, mas ainda estão distantes de resolver os problemas da classe de países emergentes como um todo.

Brasil – A Confiança do Consumidor da FGV caiu de 82 para 80,6 pontos em agosto, atingindo um novo piso histórico. A taxa de desemprego da PNAD continua saiu de 8,1% para 8,3%, enquanto a conta corrente de julho apresentou déficit de US$6,2b. O destaque ficou por conta da forte saída de recursos dos instrumentos de renda fixa local.

Os números de hoje apenas reforçam um quadro de forte pressão sobre o crescimento, com um mercado de trabalho em franca deterioração. As contas externas mostram sinais de ajuste, mas a dependência da conta financeira para balancear o BoP deve ser fonte de ruído no atual cenário econômico global.

O cenário político continua incerto. Não vejo uma melhora mais consistente dos ativos locais na ausência de uma mudança substancial do cenário político local. Não vejo sinais, neste momento, na direção de uma melhora no quadro político.

O BRL teve um dia de desempenho pífio, tanto no relativo quanto no absoluto. A moeda definitivamente está saindo do patamar de 3,4-3,5 em busca de um novo equilíbrio de curto-prazo. A dinâmica recente sinalizada para um eventual rompimento do high de curto-prazo, em torno do 3,58 do spot. Não me surpreenderia em ver a moeda atingindo novas máximas nos próximos dias. Acho prudente manter posições compradas no dólar e vendidas no BRL.

A curva de juros precifica cerca de 15bps de alta nas próximas 3 reuniões do Copom e cerca de 60bps de queda de taxas ao longo de 2016. A curva mostrou forte movimento de steepening nas últimas semanas, o que está em linha com o movimento do CDS e da deterioração do cenário local. Eu vejo valor na parte curta da curva, com o FRA de 2016 próximo a 14%. Acredito que o BCB irá manter os juros estáveis no horizonte relevante de tempo. A inflação mais branda no curto-prazo deveria ajudar a ancorar um pouco as expectativas. As posições, contudo, devem ser táticas, devido a um cenário de incerteza e volatilidade elevadas.

EUA – A economia do país mostrava sinais de robustez as vésperas da crise iniciada na China. O Consumer Confidence saiu de 91,0 para 101,5 pontos em agosto, muito acima das expectativas de 93,4 pontos. A abertura do indicador mostra um quadro de recuperação adicional do mercado de trabalho. Em julho, o New Home Sales saiu de 481k para 507k, em linha com as expectativas.


Os EUA me parecem bem posicionados para passar por esta turbulência externa apenas com pequenos arranhões. O Fed poderá adiar o seu processo de alta de juros, mas ainda não há motivos para pânico.

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