Risk-on

Os ativos de risco tiveram uma quinta-feira de melhora acentuada. A recente sinalização de alguns bancos centrais, aliada a dados de atividade mais positivos nos EUA e na Europa, foram vetores determinantes para a estabilização dos mercados financeiros globais.

Comentamos no início da semana que, neste momento, precisamos diferenciar os países e regiões que encontram-se realmente saudáveis, e poderão passar por este cenário de incerteza de maneira mais suave, daqueles países e regiões em que os fundamentos são frágeis, e apenas reformas estruturais, que demandam tempo, serão capazes de reverter um quadro econômico mais negativo. No primeiro caso, eu classificaria os EUA e a Europa, onde “ajustes finos” no tocante a política monetária seriam suficientes para lidar com um ambiente de aperto das condições financeiras. Na China, e em parte do mundo emergente, contudo, a atual crise deve se prolongar por um período um pouco mais extenso. Os problemas econômicos e políticos são mais graves, se mostram estruturais, e demandam medidas mais drásticas, cujos os efeitos levam algum tempo para terem os efeitos desejados.

Hoje pela manhã comentei que os ativos de risco estão dando continuidade ao movimento de recuperação verificado na tarde de ontem. A despeito da ausência de mudança substancial de cenário, a dinâmica do mercado já se mostra mais saudável. A partir de agora, é necessário observarmos uma queda de volatilidade para podermos ter certeza de que o pior deste período já tenha ficado definitivamente para atrás. Eu continuo vendo um cenário saudável para os EUA e a Europa e, consequentemente, para os ativos ligados a estas duas regiões. Contudo, ainda acredito na necessidade de medidas estruturais mais incisivas para trazer uma estabilidade mais permanente na China e nos países emergentes em geral.

A Indonésia parece ter sido o primeiro país a tentar combater o atual período de turbulência com medidas ortodoxas e mais estruturais com o intuito de estimular sua economia. A Indonésia anunciou um pacote mais estrutural de reformas, visando atrais investimentos estrangeiros. Me parece um caminho saudável para estimular a economia no longo-prazo. Minha preocupação, contudo, é que não haja espaço para medidas mais agressivas em alguns países, devido a um cenário econômico e político desafiador. O Brasil, por exemplo, passa por um momento inverso a 2008. Sem espaço fiscal e monetário para atuar, medidas contra cíclicas podem ser vistas como negativas no atual ambiente local, limitando o poder de reação desses países. Além da Indonésia, o PBoC parece estar adotando uma postura mais agressiva na condução de sua política monetária na China, promovendo operações de liquidez quase que diárias e buscando guiar as taxas de juros de mercado para baixo.

Brasil – Os ativos locais estão com desempenho mais positivo desde a quarta-feira. A melhora me parece liderada pelo humor global a risco, mas em muito impulsionada por um quadro técnico relativamente construtivo para os ativos locais. Não vejo sinais de melhora nos fundamentos, mas entendo que o mercado ficou excessivamente negativo com relação ao país, o que acabou ajudando o movimento recente. O FRA de 2016 saiu de 14% para 13,75%. Ainda vejo valor neste vértice da curva, mas entendo que teremos um caminho longo e volátil até uma eventual queda de taxa de juros no Brasil. No BRL, vejo algum suporte no patamar de 3,5, mas o rompimento deste nível pode acabar levando a uma queda adicional da moeda norte americana. Estruturalmente, ainda vejo uma alta do dólar como o caminho natural para o ajuste da economia.


EUA – O PIB do segundo trimestre do ano apresentou alta de 3,7% em sua revisão, acima das expectativas de 3,2% e com um qualitativo positivo. O Jobless Claims se manteve no patamar de 271k, menor nível deste ciclo econômico. Os dados recentes reforçam um cenário de robustez da economia norte americana. Faltando ainda algumas semanas para a reunião do FOMC, parece que teremos ainda espaço para um amplo debate em torno da postura que será adotada pelo Comitê.

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