Sinais intrigantes...

Minha visão de consolidação do dólar no mundo se mostrou um pouco precipitada, já que a moeda norte americana ainda mostra um momento altista não desprezível. O razoável é manter uma posição comprada em dólar contra uma cesta de moedas, menor do que antes e com stops mais curtos. A posição deverá ser revista caso tenhamos alguma mudança evidente de cenário. O quadro técnico ainda me parece relativamente “esticado”, mas a tendência e os fundamentos parecem cada vez mais evidentes. Gosto de posições compradas em calls de USDCNY como hedge para uma possível deterioração adicional ao cenário na Ásia. Posições compradas em dólar contra moedas da Ásia devem ser incluídas na cesta de moedas.

O que tenho observado, contudo, é que o dólar não está mais subindo em função puramente da melhora dos fundamentos econômicos dos EUA, mas pela fragilidade evidenciada por outras economias ao redor do mundo. Em um pano de fundo em que a Treasury de 10 anos voltou a operar abaixo de 2,2%, a queda nas commodities continua pressionando moedas como o AUD, CAD em G10 e o TRY, ZAR e BRL nos EM.

Nas últimas semanas, observamos uma expressiva queda no preço internacional das commodities. Este movimento, por si só, não deveria ser visto como problemático. Contudo, quando olhamos para os últimos desenvolvimentos nas economias da Ásia e de alguns países emergentes, vemos um crescimento frágil e com dinâmica de fraqueza, como é o caso das exportações de economias abertas na Ásia, como Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura, sem falar dos sinais inequívocos de um menor crescimento estrutural da China (vide gráficos abaixo).

O ponto que quero frisar aqui é que talvez possamos estar no meio de um processo mais estrutural de desaceleração de alguns importantes players para a economia global. Por hora, o processo de ajuste de preços, via commodities mais baixas e moedas mais depreciadas, tem sido um processo lento, gradual e bem administrado. Infelizmente, a história mostra que ajustes neste sentido tendem a trazer incerteza, volatilidade e, na maior parte das vezes, momentos de instabilidade aos mercados financeiros globais. Assim, acho prudente redobrar a atenção em cima dessas economia e regiões nos próximos meses.

Brasil – O mês de agosto, que já prometia ser agitado para a cena política, começou com força total. Em mais uma etapa da Operação Lava Jato, Jose Dirceu foi novamente preso, aproximando a Operação ainda mais do núcleo principal do PT e do atual governo. Além disso, o país é uma das principais vítimas da forte queda no preço das commodities internacionais, e um dos principais vetores de desaceleração global descrita acima. Neste cenário, os ativos locais continuam operando sobre pressão, sem sinais consistentes de estabilização. O mês nos reserva a volta dos trabalhos no Congresso, a decisão do TCU em relação as contas do governo, além dos desdobramentos da Lava Jato.


EUA – O ISM Manufacturing saiu de 53,5 para 52,7 pontos em julho, abaixo das expectativas de 53,5 pontos. A abertura também foi decepcionante, com desaceleração nos principais sub índices do indicador. O Construction Spending de junho, apresentou alta de 0,1% MoM, mas após forte revisão altista de maio, que saiu de 0,8% MoM para 1,8% MoM. Os dados de emprego, a serem divulgados na sexta-feira, serão determinantes para a política monetária do país nos próximos meses.

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