De volta aos fundamentos.

A noite foi de relativa tranquilidade. O Parlamento grego aprovou o pacote de ajuste fiscal demandando pela União Europeia (UE) para que o programa de ajuda financeira ao país tenha novos desembolsos. Na agenda do dia, destaque para o Jobless Claims, Philly Fed e NAHB Housing Market Index nos EUA. No Brasil, teremos o IGP-10 com o destaque da agenda.

Os ativos de risco tiveram dois dias de desempenho positivo. A retirada do risco de saída da Grécia da UE no curto-prazo, aliado aos sinais de estabilização da economia da China, mesmo em um ambiente em que o Fed sinaliza para a possibilidade de alta de juros ainda este ano, foi um pano de fundo positivo para as bolsas globais e para o dólar. Por outro lado, continuamos a observar um movimento de taxas de juros mais altas nos países desenvolvidos e uma pressão sobre o mercado de commodities. Acredito que, na ausência de ruídos pontuais, os mercados poderão voltar suas atenções para o diferencial de fundamentos entre as classes de ativos e cada região do mundo.

Os eventos recentes apenas ratificam a nossa visão, estruturalmente comprada em dólar contra uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, AUD e CAD), além de uma posição aplicada nas partes longas das curvas reais e nominais de juros no Brasil. No começo da semana, havíamos recomendado elevar nossa alocação em dólar e em juros locais, assim como reduzido nossas estruturas de opções baixistas no Ibovespa.

Brasil – A curva local de juros precifica altas de 33bps+15bps nas próximas duas reuniões do Copom, com sucessivas quedas de 25bps apartir de março/abril de 2016. Não tenho convicção de qual será o plano de voo do BCB no curto-prazo, mas acredito que estão cada vez mais próximos do final do ciclo de alta de juros. Assim, gosto de posições na parte mais longa das curvas nominais e reais de juros. As inflações implícitas ainda me parecem elevadas, mas coerentes com um BCB que quase nunca entrega uma inflação próxima a meta. Assim, me parece cedo para esperarmos um movimento muito acentuado de queda de implícita no curto-prazo. O tempo precisará passar, com a política monetária se mostrando efetiva, para observarmos uma queda mais acentuada de implícitas. Enquanto isso, me parece justo observarmos o patamar em torno de 5,5%-6,5% nesta classe de ativos. No câmbio, ainda vejo um movimento estrutural de alta, que deverá ser pontuado por períodos de leve apreciação do BRL. Assim, o mercado de opções ainda me parece a melhor maneira de se posicionar nesta classe. Gosto da fly curta 3200/3300/3400 em conjunto com a call/spread mais longa 3400/3500).

Observamos novas evidências de desaceleração da economia, com as vendas no varejo de maio apresentando resultado abaixo das expectativas. É natural esperar um processo contínuo de desaceleração do crescimento, em um pano de fundo de deterioração do mercado de trabalho e aperto nas políticas monetária, fiscal e creditícia. A arrecadação de junho ficou acima das expectativas, sucesso que não vinha sendo alcançado já há alguns meses. Ao longo desta semana, a Moody's estará no Brasil, mas as primeiras sinalizações da agência apontam para algum tipo de leniencia com as surpresas negativas de curto-prazo. O mercado já espera um downgrade, mas sem a perda do investment grande (e nem um outlook negativo). No tocante à política monetária, as últimas observações do BCB mostram que estão mais atentos aos últimos acontecimentos no mercado de trabalho e que, mais cedo do que tarde, veremos impactos positivos na inflação. A esfera política continua mais conturbada, com avanços na Operação Lava-Jato é um ambiente ainda hostil ao governo.

EUA - Os dados de atividade vem mostrando um crescimento positivo, porém ainda errático. O Fed, contudo, ainda se mostra determinado em começar um processo de normalização monetária ainda este ano, o que vem sendo bem precificado pelo mercado.

China - Precisamos separar os fundamentos estruturais dos fundamentos cíclicos da economia. Estruturalmente, a China continuará crescendo menos do que no passado. Ciclicamente, estamos observando uma estabilização da economia. Não devemos esperar uma aceleração mais acentuada do crescimento, e teremos que conviver com ruídos pontuais provenientes do país. A China continua sendo o maior risco para a economia mundial e os mercados financeiros globais nos próximos meses.

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