Ruídos políticos no Brasil e na Grécia
Grécia – As pesquisas de boca de urna, assim como as primeiras prévias da apuração oficial de votos mostra uma maioria ampla pelo voto “não” no Referendum em torno do pacote de ajuda financeira ao país. Como alertei na semana passada: Acredito que a vitória do “não” irá trazer grande incerteza ao mercado. Neste caso, acredito que os ativos de risco abrirão a segunda-feira sobre forte pressão, em magnitude semelhante a verificada na segunda-feira passada. Caso este cenário se concretize, tenho a expectativa de que o ECB irá, de maneira reativa (mas não proativa), utilizar-se de todos os instrumentos disponíveis para evitar um contágio da crise grega aos demais países da região, em especial aos países periféricos, tais como Portugal, Espanha e Itália. O dever do ECB, neste caso, é evitar o aperto das condições financeiras, ou seja, impedir uma forte abertura de taxas de juros e queda das bolsas. Na eventualidade da vitória do “sim”, poderemos ter o famoso “relief rally”, ou um movimento de “risk-on” mais rápido e acentuado. As incertezas, contudo, permanecerão, já que um novo governo precisará ser empossado, seguido de mais uma rodada de negociações junto aos credores.
Brasil – O final de semana trouxe novos contornos negativos ao cenário político local. Como tenho insistido incessantemente nas últimas semanas, acredito que o cenário político e econômico do país piorara exponencialmente nas últimas semanas, o que vinha sendo ignorado pelos ativos locais (ou, em outras palavras, o preço dos ativos brasileiros necessitam de prêmios mais elevados diante das incertezas que o cenário de curto-prazo tem apresentando).
A possibilidade de impeachment voltou à pauta de discussão com força total nos últimos dias. Existem dois caminhos para que este cenário possa se desenvolver. O primeiro caminho seria o argumento das “pedaladas fiscais”, através da rejeição das contas do governo pelo TCU. O segundo caminho, seria a comprovação de que a campanha de Dilma teria recebido verbas provenientes de propina para a campanha de reeleição em 2014. Neste caso, a matéria da revista Veja, que mostra provas concretas da delação premiada do dono da UTC em torno deste tema, seria um caminho natural e, aparentemente, cada vez mais provável.
Do ponto de vista dos mercados financeiros, não há duvida de que o afastamento do PT do poder seria visto como amplamente positivo no longo-prazo, especialmente se a possibilidade de retorno fosse drasticamente reduzida. No entanto, a incerteza que este processo deverá trazer, do ponto de vista de paralisia do congresso e da economia, poderia ser um tanto quanto conturbado para o preço dos ativos no curto-prazo. Em suma, esperaria uma reação negativa dos ativos brasileiros durante este tortuoso processo, até que ficasse claro qual seria o desdobramento deste cenário.
Segundo a Folha, Levy já estaria na “geladeira de Dilma”. Sua postura estaria incomodando a Presidente, que já não estaria atendendo o Ministro como antes. Além disso, se Levy, no começo do mandato, ganhava grande parte das discussões internas, ao que tudo indica, agora perde grande parte das “batalhas” internas. Espero que a matéria seja prontamente negada por ambas às partes. Todavia, sou da teoria de que “onde há fumaça, há fogo”. Se apenas em 6 meses no cargo, com a recessão em seus primórdios e o desemprego no começo de um processo de deterioração que promete ser prolongado, Levy já apresenta uma embolia pulmonar e já é rifado por Dilma, quem irá colocar a mão no fogo de que ele terá legitimidade para ter mais 3,5 anos de mandato? Eu entendo que alguns irão argumentar que estes rumores não passam de ruídos, que o ajuste fiscal está sendo feito (aos trancos e barrancos) e que Levy segue em seu cargo. De qualquer maneira, a qualidade do ajuste fiscal é a cada dia pior. O Congresso se mostra a cada dia mais combativo. O custo de aprovação das propostas de ajuste é cada vez mais elevado, e a própria equipe econômica já dá sinais de que existem enormes dificuldades para se cumprir o prometido no que diz respeito ao ajuste das contas públicas. Assim, continuo com a visão mais negativo, com o argumento de que houve sim uma piora expressiva de cenário nas últimas semanas.
China – O governo chinês anunciou uma série de medidas no final de semana com o objetivo de frear a queda rápida e acentuada das bolsas do país. Dentre as medidas, podemos citas o cancelamento de IPOs, a criação de um fundo de estabilização para o mercado, além do alívio de algumas restrições a alavancagem do mercado. A postura do policy makers chinês mostra o quão importante é para o governo evitar o estouro da bolha no mercado local de renda variável.
Posição - O cenário ainda se mostra extremamente incerto para justificar alocações a risco mais agressivas. Não alterei minha visão positiva com relação a alta do dólar no mundo, expressa através de uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, AUD e CAD). Não estou totalmente convicto do timing para buscar posições aplicadas em juros locais. Acho justo trabalhar com uma posição aplicada, porém ainda modesta, pois acredito que ainda teremos volatilidade nesta classe de ativo. Gosto do vértice Jan18 e dos juros nominais em detrimento aos juros reais. Podemos observar uma rodada de stepeening da curva de juros nos próximos dias. Trabalharia com estruturas de opção baixistas no Ibovespa.
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