Cautela

Se, por um lado, observamos uma redução dos riscos de curto-prazo no cenário externo, com os problemas na Grécia tendo sido resolvidos (pelo menos temporariamente) e com sinais mais claros de estabilização cíclica do crescimento na China, por outro lado, estamos diante de mais uma rodada de deterioração política no Brasil.

No cenário externo, os ativos de risco estão voltando a precificar de maneira mais clara o cenário econômico de cada país e/ou região, com as bolsas em alta nos países desenvolvidos, em conjunto com um dólar mais forte e juros mais elevados nos EUA. O mercado de commodities, contudo, segue pressionado por um ambiente de crescimento estrutural da China mais baixo (a despeito da estabilização cíclica) e uma abertura de taxas de juros nos EUA.

No Brasil, voltamos a ver alguma leniência do mercado com a piora do cenário político local (vide comentários abaixo).

Brasil - O avanço da Operação Lava-Jato se aproxima cada vez mais de Eduardo Cunha, Renan Calheiros e da alta cúpula do PT. Este pano de fundo tende a enfraquecer um governo já fragilizado. Nos últimos dias, Cunha e Renan adotaram postura mais dura e crítica em relação ao governo, mostrando grande insatisfação com a aliança PT/PMDB. Além disso, já ficou claro que os presidentes da Câmara e do Senado resolveram adotar uma postura de ataque ao governo a partir do momento em que se sentiram ameaçados com as investigações. Por hora, os ativos locais estão, de certa maneira, ignorando a piora do cenário político local. Contudo, não podemos descartar uma nova rodada de deterioração dos ativos locais, puxados pelo aumento das incertezas políticas.

No tocante a política monetária local, os sinais recentes do BCB mostram um desconforto crescente com a fraqueza da atividade econômica e com a deterioração do mercado de trabalho. Assim, é natural supormos que estamos cada vez mais próximos do final deste ciclo de alta de juros. Contudo, o que tem sido ventilado na mídia em relação as contas públicas inspiram cautela com relação ao ajuste fiscal. A obtenção de superávit esse ano será uma tarefa árdua, assim como os 2% de primário prometidos para 2016. Com a curva de juros ainda muito flat, temos que ter um certo cuidado com os sinais de deterioração do cenário, em um ambiente em que o BCB ameaça encerrar seu ciclo de alta de juros.

Continuo gostando de um portfólio comprado em dólar, através da fly curta 3200/3300/3400, em conjunto com call/spreads 3400/3500 mais longos. Vejo valor na curva de juros, mas entendo que o curto-prazo pode se mostrar um pouco mais desafiador para esta classe de ativo, o que demanda posições menores e stops mais apertados. Olharia para elevar, novamente, as estruturas de opções baixistas no Ibovespa que vinhamos recomendando.

Europa – O ECB não trouxe grandes novidades ao cenário. A política monetária foi mantida sem alterações. A linha emergencial que vem sendo usada para ajudar os bancos gregos foi levemente elevada. O ECB sinalizou, mais uma vez, que está preparado para tomar todas as medidas cabíveis para evitar um aperto das condições monetárias e continuar dando suporte a economia da região. Continuo vendo a Europa em um processo semelhante aquele vivido pelos EUA após 2008. Crescimento “ok”, inflação baixa e política monetária extremamente expansionista, o que deve dar suporte aos bolsas e aos bonds da região, ao mesmo tempo em que coloca pressão no EUR.


EUA – Os indicadores de crescimento continuam erráticos, sem mostrar uma recuperação mais sólida e consistente da economia. A inflação, por sua vez, começa a dar alguns sinais de vida, como observamos no PPI divulgado ontem. O Core CPI, a ser divulgado amanhã, será o próximo importante evento para a política monetária norte americana. Mantemos a recomendação de compra de dólar contra uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, CAD e AUD) mas estamos com stops mais curtos nos atuais níveis. Vemos espaço para o DXY operar na banda de 95/100 com leve viés de ve-lo testar o patamar de 100 no curto-prazo.

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