Brasil: Aumento da incerteza política.

Em um dia de feriado nos EUA, a liquidez do mercado ficou prejudicada. Os mercados continuam a mercê do resultado do Referendum em torno do pacote de ajuda financeira a Grécia. Acredito que a vitória do “não” irá trazer grande incerteza ao mercado. Neste caso, acredito que os ativos de risco abrirão a segunda-feira sobre forte pressão, em magnitude semelhante a verificada na segunda-feira passada. Caso este cenário se concretize, tenho a expectativa de que o ECB irá, de maneira reativa (mas não proativa) utilizar-se de todos os instrumentos disponíveis para evitar um contágio da crise grega aos demais países da região, em especial aos países periféricos, tais como Portugal, Espanha e Itália. O dever do ECB, neste caso, é evitar o aperto das condições financeiras, ou seja, impedir uma forte abertura de taxas de juros e queda das bolsas.

Na eventualidade da vitória do “sim”, poderemos ter o famoso “relief rally”, ou um movimento de “risk-on” mais rápido e acentuado. As incertezas, contudo, permanecerão, já que um novo governo precisará ser empossado, seguido de mais uma rodada de negociações junto aos credores.

No Brasil, a sexta-feira foi mais negativa, com o BRL sobre pressão, um movimento relevante steepening da curva de juros e uma queda da bolsa. Pela primeira vez em algumas semanas, observamos sinais de que o mercado começa a se incomodar com, na minha visão, piora expressiva do cenário econômico e político local. Entendo que alguns vetores externos, em especial os sinais negativos emitidos pela China, pelas commodities e por ativos dependentes da demanda chinesa, como é o caso do AUD, ajudaram o movimento de pressão sobre o BRL, Vale e Petro, por exemplo. A decisão do BCB em reduzir o ritmo de rolagem dos swaps cambiais também ajudou a colocar alguma pressão sobre o BRL, em um dia de ausência do investidor estrangeiro.

Após o discurso de Tombini ontem, o mercado passou a embutir probabilidade de uma alta de apenas 25bps na próxima reunião do Copom. Confesso que não tenho convicção na visão de política monetária de curto-prazo. Acredito que estamos próximos ao final deste ciclo de alta de juros. Tendo a acreditar que existe algum prêmio na curva de juros para aqueles com visão de prazo mais longo, mas gostaria de ver uma melhora mais expressiva na inflação corrente e/ou um sinal mais claro do BCB antes de “embarcar” completamente na visão baixista para os juros locais.

Contudo, acho válido ressaltar que o cenário político vem mostrando desenvolvimentos negativos, com uma evolução crescente e contrária ao atual governo. Além das investigações da Operação Lava-Jato estarem a cada dia mais próximas ao núcleo do poder petista, a decisão do TCU no tocante as “pedaladas fiscais” mantem o governo em situação defensiva. O mesmo vale para a postura do Congresso que, percebendo uma fragilidade do Planalto, vem impondo derrotas expressivas ao governo. Para piorar a situação, a possibilidade da perda do grau de investimento aumenta à medida que o ajuste fiscal se coloca quase que impossibilitado pelas condições econômicas e políticas locais.


Eu continuo com a mesma visão que vem sendo expressa neste fórum ao longo das últimas semanas: O cenário ainda se mostra extremamente incerto para justificar alocações a risco mais agressivas. Não alterei minha visão positiva com relação a alta do dólar no mundo, expressa através de uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, AUD e CAD). Não estou totalmente convicto do timing para buscar posições aplicadas em juros locais. Acho justo trabalhar com uma posição aplicada, porém ainda modesta, pois acredito que ainda teremos volatilidade nesta classe de ativo. Gosto do vértice Jan18 e dos juros nominais em detrimento aos juros reais. Ainda buscaria estruturas de opção baixistas no Ibovespa.

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