Brasil: Sinais desencorajadores.
O governo brasileiro anunciou no inicio da noite uma revisão drástica do superávit primário para 2015 (de 1,1% para 0,15%), para 2016 (de 2% para 0,7%) e para 2017 (de 2% para 1,3%). O documento ainda deixa em aberto a possibilidade de novas revisões baixistas para este ano, caso novas frustrações de receita venham a ocorrer.
Na minha visão, as revisões anunciadas hoje são extremamente negativas. Não são apenas uma derrota pessoal e política de Joaquim Levy, mas uma derrota institucional para o país. A relação dívida/PIB do Brasil deve se tornar ainda maior, elevando substancialmente a probabilidade de perdermos o Investment Grade nos próximos 6 meses. Meu cenário base hoje é de que tenhamos um downgrade nas próximas semanas, com chances concretas da manutenção de um outlook negativo. Sem perspectivas de recuperação da confiança e dos investimentos, não há sinais de recuperação do crescimento no horizonte relevante de tempo, o que justifica uma visão mais negativa com o cenário local. A perda do Investment Grade viria no final do ano.
Eu, particularmente, não compro a ideia de que a revisão irá trazer maior transparência à atuação do governo. Eu acredito que metas mais baixas reduzem as chances de qualquer tipo de aprovação de propostas de ajuste junto ao Congresso.
A maneira atabalhoada com que foi conduzido este processo piora ainda mais o cenário. O BCB se colocou em situação delicada. Passou as últimas semanas sinalizando para a redução do ritmo de alta de juros, utilizando o aperto fiscal como importante argumento para justificar esta mudança de postura. Diante deste novo vetor, para manter as expectativas ancoradas, o certo seria seguir o ajuste de alta de juros. A Fazenda e o BCB não estão alinhados? Não há interação entre ambos? BCB e Fazenda vão voltar a postura reinante (e errada) dos últimos anos? Estes (e outros) questionamentos devem imperar sobre os mercados financeiros locais nos próximos dias. E isso que estamos apenas nos seis primeiros meses deste mandato presidencial, com a desaceleração da economia não tendo atingido seu vale e a deterioração do mercado de trabalho apenas começando.
Não vejo argumentos no curto-prazo para manter qualquer tipo de posição “comprada em Brasil”. Vamos precisar ver um ajuste de preços e posições para que os ativos locais se tornem atrativos vis-à-vis um cenário econômico cada vez mais fragilizado. Assim, podemos esperar novos movimentos de bear steepening da curva de juros, alta do dólar e queda da bolsa.
Acho prudente zerar as posições aplicadas em juros. Não vejo nenhum valor na parte curta da curva (até o Jan17), com menos de 50bps de altas adicionais de juros precificadas, e com cortes significativos de taxas ao longo de 2016. A parte longa da curva, nos atuais níveis, e frente ao cenário descrito acima, precisa de mais prêmio para justificar posições nesta classe de ativos.
Mantenha posições compradas em dólar. Eu gosto da fly 3200/3300/3400 com vencimento este mês, em conjunto com call/spreads 3400/3500 mais longos. Faz sentido rolar parte dasflys curtas por estruturas semelhantes para o mês subsequente. Mantenha estruturas de opções baixistas no Ibovespa.
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