Brasil: Ciclo de alta de juros próximo do fim?
Estamos iniciando o período de férias no hemisfério norte, onde
historicamente os ativos de risco tendem a perder volatilidade e liquidez. Após
resolvidos, temporariamente, os problemas na Grécia e na China, é natural que
os ativos de risco percam alguma liquidez durante as próximas semanas. Assim,
espero que as tendências recentes continuam, mas não necessariamente na mesma
velocidade verificada no passado recente.
Como tenho afirmado nas últimas semanas, ainda vejo um cenário
relativamente positivo para as bolsas, em especial na Europa e no Japão. O
ambiente é propício para a continuidade do processo de alta estrutural do dólar
no mundo, suportando por taxas de juros mais elevadas nos EUA. O cenário para
as commodities segue desafiador. Os países emergentes devem seguir está toada
externa, com os fundamentos locais ditando a velocidade do ajuste em cada país
ou região. No Brasil, tenho ganhado convicção no mercado de juros, mas entendo
que o processo de taxas mais baixas deverá ser longo e tortuoso, assim como o
ajuste em direção a um câmbio mais depreciado.
Exceto por uma segunda-feira de desempenho misto do dólar no
mundo (estável contra G10, porém mais forte contra EM) a dinâmica dos mercados
seguiu a toada descrita acima, ou seja, alta nas bolsas dos países
desenvolvidos, queda nas commodities e abertura de taxas de juros nos EUA.
Brasil – Alguns importantes desenvolvimentos
ocorreram nas últimas semanas, especialmente para o cenário de política
monetária local. Vamos aos fatos:
1 – O BCB, através de alguns diretores e de fontes na mídia,
parecem ter adotado uma nova postura, visando sinalizar a proximidade do fim do
ciclo de alta de juros. Para fundamentar esta nova postura, apontam para os
seguintes argumentos;
2 – Recuo expressivo das expectativas de inflação para 2016 em
diante;
3 – Sinais de afrouxamento do mercado de trabalho, com
expectativas de ajustes reais menores (e até negativos) dos salários;
4 – Piora expressiva do cenário de crescimento local;
5 – Política fiscal mais apertada, que deve ter efeito mais
claro a partir deste segundo semestre e, em especial, a partir de 2016;
6 – O famoso efeito defasado de política monetária.
Neste ambiente, observamos um expressivo steepening da curva de juros, com o Jan21/Jan17 saindo de -140bps
para -80bps em pouco mais de 2 semanas. A curva precifica hoje apenas uma alta
de 30bps e outra de 15bps nas próximas reuniões do Copom. A curva já precifica
quedas sucessivas de juros a partir de janeiro de 2016, com quedas de 25bps
entre (aproximadamente) março de 2016 e março de 2017. Os juros reais tiveram
um período de performance relativa mais negativa, especialmente na parte longa
da curva. A NTNB 2050, após testar o patamar de 5,8%, voltou a operar acima de
6,2% nos últimos dias. A piora no quadro político e fiscal, assim como as
perspectivas de inflação mais baixa, parecem estar afetando o desempenho desta
classe de ativos e, especialmente, os vértices mais longos.
Nos preços atuais, vejo pouca assimetria na parte curta da curva
(até Jan17). Da mesma maneira, entendo que o cenário fiscal e político possa
ser um impedimento para o bom desempenho dos vértices mais longos. Assim, a convicção
que tenho ganhando em relação a posições aplicadas na curva local de juros se
concentra nos vértices intermediários, como Jan18 e Jan19. A parte longa da
curva real de juros, que pode vir a sofrer os efeitos negativos do cenário
político, contudo, já se mostra atrativa acima de 6,2%, especialmente para
aqueles com horizonte de investimento mais longo e cuja a pouco liquidez deste
ativo não se mostre um impedimento.
No mercado de câmbio, o BRL parece estar seguindo o humor global
em torno das moedas emergentes, em um pano de fundo local mais desafiador para
esta classe de ativo. Mantenho minha recomendação alocada na fly de call 3200/3300/3400 curta, em conjunto com call/spreads 3400/3500 mais longos. Como a fly ganhou expressivo delta nos últimos dias, pelo “time decay” e pela alta do spot, pode fazer sentido reduzir,
taticamente, parte do call/spread
mais longo para administração de risco do portfólio.
Manteria as posições compradas em estruturas baixistas no Ibovespa,
que havíamos reduzido taticamente, mas retornamos a elas no começo da semana
passada. Não há perspectivas de melhora no crescimento local, em um ambiente de
queda no preço das commodities internacionais, um cenário que não costuma ser
positivo para o mercado de renda variável local. As perspectivas de queda nas
taxas de juros, por outro lado, pode vir a criar oportunidade de alocações
entre os setores da bolsa local.
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