China em foco: Parte II

Os ativos de risco seguem a espera de uma solução para a crise na Grécia. A dinâmica recente do mercado sinaliza que ainda há esperanças de que um acordo será encontrado nos próximos dias. A ausência de um acordo, assim, deveria trazer mais uma rodada de aversão a risco aos mercados financeiros globais.

Em uma tentativa de nos afastarmos um pouco deste ruído de curto-prazo, parece estar havendo uma mudança mais fundamental no cenário que, até essa semana, vinha passando despercebida pelos mercados, mas começou a fazer preço de maneira mais clara, podendo trazer desenvolvimentos relevantes para o cenário.

A China vem passando por um processo estrutural de desaceleração de crescimento. Em um contexto de economia planejada (a despeito dos diversos avanços conquistados nos últimos anos em direção a uma economia de mercado), o governo vinha conduzindo este processo de maneira bastante suave, evitando movimentos muitos bruscos na maior parte dos vetores de instabilidade para a economia. Ao longo deste ano, já havia promovido uma importante reforma no mercado de crédito, além de ter conduzido um desaquecimento, até certo ponto controlado, do mercado imobiliário. Em meio a estes processos, a economia desacelerou de uma média de crescimento em torno de 8% a 9% nos últimos anos para um patamar inferior a 7% no início deste ano. Na ausência de ativos atrativos para os investidores, houve uma migração, rápida e acentuada, acelerada pela utilização ampla de instrumentos de alavancagem, para o mercado de renda variável. Nas últimas semanas, sem um trigger específico, mas como costuma ser regra em movimentos de “estouro de bolhas”, o mercado perdeu suporte, trazendo elevada volatilidade e instabilidade ao mercado de renda variável no país. Por hora, o governo não tem sido bem sucedido em sua tentativa de estabilizar os mercados locais.

Vale ressaltar, uma vez mais, que este cenário se desenvolve em um pano de fundo de fragilidade da economia, em que o crescimento dá sinais apenas incipientes de estabilização, com a inflação baixa e sinais inequívocos de ociosidade na economia.

Eu acho que houve uma expressiva mudança de cenário externo na última semana, que merece ser destacado. Além da evolução negativa dos desdobramentos na Grécia, que já foram intensamente comentados neste fórum, estamos observando mais uma rodada de rápida e acentuada queda no preço das commodities, ao mesmo tempo em que o poder de fogo do governo chinês em lidar com os problemas da economia local é colocado em xeque.

Na minha visão, os últimos eventos são baixistas para os juros no mundo, devido a menor perspectiva de crescimento (via confiança e aperto das condições financeiras), e perspectivas de taxas de inflação mais baixas no mundo por tempo mais prolongado do que o imaginado anteriormente (puxados pela nova rodada de queda no preço das commodities). No cenário atual, O Fed terá um excelente argumento para adiar o início do processo de alta de juros, assim como o ECB terá a liberdade e o dever de acelerar o QE (ou qualquer outro programa que vise a estabilidade financeira) para conter a crise grega.

Acho prudente reduzir a posição comprada em dólar nos atuais níveis, mas mantendo uma posição comprada com stop mais curto. Ainda vejo um movimento estrutural de alta do dólar no mundo, mas já observamos um movimento relevante nos últimos dias, em um ambiente de incerteza crescente. Mantenho a estrutura de opções curta fly 3200/3300/3400 no USDBRL, assim como a call/spread 3400/3500 mais longa. Continuo gostando de opções baixistas na bolsa brasileira, e trabalharia com uma posição tática aplicada em juros locais. Desenha-se um claro cenário de aversão a risco no curto-prazo. Estruturalmente, estamos falando de menor crescimento, maior incerteza e menor inflação no mundo, o que pressupõe juros mais baixos, maiores prêmios de risco (bolsas em queda, spreads em alta) e dólar mais forte.

Por hora, o Brasil está na garupa dos eventos externos. Ainda mantenho minha visão de que ocorreu uma piora não desprezível de cenário político e econômico local, que ainda não me parecem totalmente precificados nos ativos brasileiros (bolsa e câmbio).

Deixo registrado abaixo um excelente comentário em torno dos recentes eventos na China.

O estrategista da ML tem uma visão muito interessante sobre os últimos acontecimentos na China. Segundo ele, a falta de sucesso do governo chinês em estabilizar o mercado local de renda variável, caso confirmado nos próximos dias, pode retirar do cenário a convicção de que o governo é capaz de promover todo e qualquer tipo de ajuste de maneira suave e controlada. Neste caso, deveria haver uma reprecificação dos ativos chineses (ou dependentes da demanda da China), elevando-se consideravelmente o risco à estabilidade financeira no país.


A dent to market's faith in government role 
We believe that the biggest damage caused by the A-share market's roller-coaster ride since the middle of last year has been to investors' faith in the government's ability to manage asset prices (stock, RMB, debt and even property) reasonably smoothly. The difficulty the government has faced to stabilize the stock market has demonstrated the downside of that faith. As a result, we expect many of these assets to be re-priced lower going forward. Also, the ripple effect from the market correction has yet to show up - we expect slower growth, poorer corporate earnings, and a higher risk of a financial crisis. 
Many assets in China may get re-priced lower  
We question the implementation of government policy in urging people to buy stocks. Regarding the deleveraging process in the market, in our view the government started too late & without adequate preparation for the potential downside (we suspect because it didn't know the true extent of shadow margin financing activities) and it resorted to administrative control when the market turned down. So far, government measures have appeared to us to be behind the curve. As a result, we expect investors to assign less value to various perceived government "puts" going forward. The fall in the stock market could also make the government even more cautious towards QE and potentially using the property market or debt market to hold up growth, in our view - a burst of any of these bubbles, if fully developed, will be far more difficult to deal with than what's happening in the stock market. 
Real economy & corporate earnings will suffer 
The net result of this volatile market is a transfer of wealth from the people on the street to the wealthy, including many major shareholders, who cashed out (A-share fund flows analysis, Jun 8). We expect this will likely hurt consumption down the road. More critical is a potential distortion to credit flows due to the impairment to financial institutions' balance sheets - as experience with Japanese banks shows, even if they don't have to mark to market and book losses, their lending attitude may turn more cautious. Of course, the impact of a full-blown financial crisis in China, if it materializes, on the economy would likely be severe. On corporate earnings, other than the drag from slower growth, many companies may have to book stock-market related losses over the next few quarters by our assessment. 
A possible trigger for a financial crisis in China 

If the market continues to fall sharply, stock lending related losses could run into Rmb trillions, of which, banks and brokers may have to bear a meaningful share. These potential losses can be especially dangerous to brokers whose capital base is less than Rmb1tr. Even more important, the opaqueness of China's financial system and the lack of clear definition of risk responsibility mean that contagion risk is high, similar to the subprime crisis. We had always considered the risk of a financial crisis in China as high (2015 Year-ahead: To focus on the three Ds, Jan 5). What has happened in the stock market has likely increased the risks considerably and also brought forward the timeline by our assessment - the leverage is much higher now and economic growth rate, potentially lower. 

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