China: Fraqueza da economia.

O destaque da noite ficou por conta de uma inesperada queda da prévia do PMI Manufacturing na China, que saiu de 49,4 para 48,2 pontos. O indicador mostra uma economia fragilizada, sem sinais consistentes de recuperação. Tínhamos observado uma estabilização cíclica do crescimento nos últimos dois meses, mas o Flash PMI de julho, divulgado hoje, aponta para uma economia com crescimento pífio e abaixo das expectativas. É natural esperarmos que os policy makers locais anunciem novas medidas de suporte ao crescimento, com o intuito de evitar uma desaceleração adicional da economia. Como tenho insistido neste fórum ao longo deste ano, acredito que a China irá crescer estruturalmente menos no futuro. Os 7% de crescimento do PIB viraram teto para o crescimento deste ano,  e não me surpreenderia em ver um crescimento na faixa de 5% a 6% no futuro não muito distante. Acredito que a postura do governo será tentar suavizar este processo de desaceleração estrutural da economia, mas não com o intuito de colocar o crescimento novamente nos patamares superiores a 8% que observamos no passado recente. Infelizmente, todos os países emergentes que passaram por este processo de transição, para uma economia mais voltada ao consumo, e menos sustentada por investimentos (como os Tigres Asiáticos e o Japão), com padrões de crescimento mais baixos, acaram convivendo com períodos de crise e maior volatilidade de suas economias e seus mercados.

Ainda na China, o State Council anunciou que irá aumentar a banda de flutuação do Yuan (CNY), a moeda local, uma medida positiva e esperada dentro do escopo de liberalização do mercado financeiro local, visando a entrada da moeda chinesa na cesta de moedas (SDR) do FMI.

Na Europa, o Flash Manufacturing PMI da Área do Euro saiu de 52,5 para 52,2 pontos, com o Flash PMI Services passando de 54,4 para 53,8. Os números mostram uma acomodação natural e saudável dentro de um processo de recuperação gradual do crescimento da economia da região, reforçando a necessidade de um banco central extremamente expansionista no horizonte relevantes de tempo.

No Brasil, segundo a Folha (vide detalhes abaixo), o governo montou uma operação para tentar conter ao ânimos dos investidores com relação ao Brasil. Eu, particularmente, não mudei minha opinião, extensivamente descrita neste fórum nos últimos dias. Contudo, os preços dos ativos locais mudaram e precisamos ter sensibilidade a isso. No câmbio, continuo vendo uma depreciação do BRL como um caminho natural e esperado dentro do processo de ajuste da economia. Apenas a velocidade que se dará o processo é que me parece o ponto fundamental. No mercado de juros, contudo, temos uma ancora para a curva curta, que é a Selic e a política monetária do BCB o que, em algum momento, deveria dar suporte a esta classe de ativo. Após um ajuste entre 30bps e 60bps na curva apenas na quinta-feira, temos que ficar atentos para oportunidade de se posicionar na ponta aplicada deste mercado, de maneira tática. Como acredito que, com fiscal ou sem fiscal, estamos próximos do final deste ciclo de alta de juros, é importante sermos sensíveis a preço. Na bolsa, podemos argumentar que também existe a premissa do valuation, um argumento que acho válido e que, em algum momento, pode vir a dar suporte ao mercado. Contudo, entendo que as premissas dos modelos de alguns setores (PIB, Desemprego, Taxa de Juros e etc) podem continuar afetando o mercado negativamente no curto-prazo. O cenário externo (China e EUA) também é um vetor negativo para o BRL e o Ibovespa.


As notícias de hoje ratificam um cenário de pressão sobre as commodities e um ambiente desafiador para os ativos emergentes em geral. Assim, mantenho minha visão de portfólio, ou seja, continuo gostando de carregar uma posição comprada em dólar contra uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, AUD e CAD), mas encurtaria os stops após o bom desempenho do USD nas últimas semanas. A recente queda nas vols implícitas nas moedas de G10 começa a criar oportunidade interessantes para se posicionar através do mercado de opções (vide gráfico e comentários adicionais abaixo). Eu estou olhando eventuais quedas nas bolsas da Europa como oportunidade para se alocar posições compradas nesta classe de ativos. Eu vejo a Europa passando pelo mesmo processo que os EUA passaram nos últimos anos. Um cenário de crescimento estável, inflação baixa e política monetária expansionista, o que tende a enfraquecer a moeda e inflar o preço dos ativos de risco, como bolsa e crédito. Não tenho uma visão firme em relação as taxas de juros dos países desenvolvidos, mas tenho um viés altista para os juros nos EUA.


Equipes de Levy e Barbosa ligam para investidores e economistas e tentam passar mensagem positiva
Planalto tenta evitar que ganhe força tese de que ministro da Fazenda saiu derrotado na definição da meta
VALDO CRUZISABEL VERSIANIDE BRASÍLIA

A reação negativa do mercado à redução da meta fiscal, com dólar em alta e Bolsa em queda, levou a equipe econômica a deflagrar uma operação para tentar reverter o clima adverso ao Brasil entre economistas e investidores nacionais e estrangeiros.


Logo pela manhã desta quinta-feira (23), assessores dos ministérios do Planejamento e da Fazenda entraram em ação e começaram a ligar para economistas de bancos nacionais e estrangeiros com a mensagem de que a redução da meta não significa "afrouxamento nem abandono do ajuste fiscal".


Ao final da tarde, já com o mercado no Brasil fechado, foi a vez de Joaquim Levy (Fazenda) entrar em campo. Ele participou de uma conferência por telefone organizada pelo banco JPMorgan com economistas e investidores brasileiros e estrangeiros.


Na conferência, que teve mais de 1.400 participantes, Levy justificou a redução da meta diante do cenário de forte retração das receitas e frisou que ela não alterará de forma significativa a dinâmica da dívida do país.


Para ele, as agências de classificação de risco percebem que o país tem capacidade de lidar com os problemas com "vigor e realismo" necessários para garantir a retomada do crescimento.


"A beleza da economia brasileira é a capacidade de reagir e reagir rapidamente."


Em seus contatos, as equipes de Levy e Nelson Barbosa (Planejamento) buscavam ressaltar que o governo está sendo "transparente" e "realista", evitando um "tom otimista" descolado da realidade.


Um dado era enfatizado nas conversas, que o governo, mesmo reduzindo a meta de superavit primário de 1,1% para 0,15%, fez um novo corte de despesas de R$ 8,6 bilhões, o que sinaliza, segundo os assessores, um "compromisso" com o reequilíbrio das contas públicas.


Dentro da estratégia de acalmar o mercado, Barbosa estará nesta sexta-feira (24) em São Paulo para conversas com economistas de bancos e consultorias para explicar os ajustes no superavit.

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