China: Cenário, consequências e oportunidades.
A forte queda das bolsas da China durante a noite trouxe
ao mercado um componente de realização técnica nos ativos de risco. Segundo
este raciocínio, a piora do humor com relação a China é apenas uma consequência
do menor crescimento global, argumento que encontra respaldo nos indicadores de
crescimento de outros países ao redor do mundo, em especial na Ásia emergente.
Assim, os ativos de risco estão tendo uma segunda-feira de
fechamento de taxas de juros nos países desenvolvidos, queda das bolsas e das
commodities, e enfraquecimento do dólar. Na minha visão, a queda das bolsas e
das commodities, assim como o fechamento de taxas de juros, fazem sentido
diante do cenário descrito acima, mas o enfraquecimento do dólar é apenas uma
correção técnica de um movimento de fortalecimento do dólar nas últimas semanas,
a não ser que o cenário global venha a ter um vetor de decisão sobre a postura
do fed. Eu continuo vendo os EUA, assim como o Fed, na vanguarda do processo de
recuperação do crescimento e, consequentemente, do processo de normalização
monetária, o que deveria ditar a dinâmica do mercado de moedas. Entendo,
contudo, que a alta estrutural do dólar no mundo não será linear, e períodos de
realização ocorrerão.
Como tenho insistido neste fórum, a China é (e deve continuar
sendo) o principal risco a economia mundial nos próximos meses. Eu vejo um
processo lento, gradual e continuo de desaceleração do crescimento do país, que
será pontuado por períodos de maior volatilidade e instabilidade dos mercados
locais. Acredito que estamos no meio de mais um desses períodos. Os ativos
chineses devem passar por mais um período de incertezas, o que deve trazer uma
maior complexidade ao cenário e as principais tendências dos mercados.
Frente a este ambiente, me parece prudente encurtar os stops
das posições compradas em dólar contra uma cesta de moedas, apenas para
proteger lucros diante de uma incerteza de curto-prazo. A estratégia ótima,
enquanto não haja alteração significativa de cenário para os EUA (o Durable
Goods Orders divulgado hoje trouxe poucas novidades ao cenário), é manter uma
posição estrutural comprada em dólar, mas administrar o tamanho, a composição e
os instrumentos da carteira. As vols implícitas das moedas de G10
subiram de cerca de 9% para 9,5% (CVIX) nos últimos dias. Olharia para trocar
risco direcional para delta de opções, não vendo muito espaço para quedas
adicionais de volatilidade neste ativo. Acho que posições compradas em calls de USDCNH ou USDCNY
fazem sentido como um hedge para o “Risco China”. As vols
implícitas ainda estão baixas, até para os padrões históricos da moeda (vide
gráficos abaixo).
Eu manteria a visão de adicionar risco ao portfólio nas bolsas
da Europa, utilizando a volatilidade recente para começar a colocar em prática
esta decisão. Não vejo
grandes assimetrias no mercado global de juros. Contudo, tenho um viés altistas
para os juros norte americanos. Os ruídos recentes nos ativos de risco podem se mostrar uma
oportunidade de alocar risco na ponta tomada dos juros nos EUA. Interessante observar a Treasury 10
anos em torno de 2,25%, assim como a curva curta de juros precificando menos do
que 30% de probabilidade de alta de 25bps em setembro e apenas uma alta de
25bps durante todo este ano.
No Brasil, ainda vejo uma alta estrutural do dólar, mas
não na mesma velocidade do que vimos nos últimos dias. As vols implícitas estão
na casa de 18%-19%, o que não se mostra mais uma barganha. O stop saiu de 3,15
para 3,35 em poucos dias. Por outro lado, a posição técnica se mostra menos
comprada em dólar. Os estrangeiros estão comprados em cerca de 150 mil
contratos futuros, cerca de metade do que já chegaram a ter no início deste
ano. As evidências anedóticas (e sensibilidade das cotas) mostram os fundos
locais comprados, mas também em menor proporção do que há alguns meses atrás.
Assim, acho ideal buscar estruturas que visem reduzir o carrego da posição
comprada em dólar (vide gráficos abaixo).
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