FOMC dovish. Atenção para China e Grécia.

A Grécia e a China continuam dominando a dinâmica dos ativos de risco, ambos trazendo incerteza ao curto-prazo.

As Minutas no FOMC, nos EUA, foram, na minha visão, mais dovish. O Comitê se mostrou preocupado com os desenvolvimentos na Grécia, na China e nos países emergentes, isso antes mesmo dos acontecimentos dos últimos dias. Sem contar, claro, com a nova rodada de queda no preço das commodities, que deve trazer um viés de baixa para a inflação no mundo desenvolvido. No atual cenário, me parece que não há espaço para o Fed dar início ao processo de alta de juros já em setembro. O mês de dezembro parece ser o mais cedo possível para o início deste processo. Este cenário já vinha sendo precificado pelo mercado, onde menos de uma alta de 25bps completa ao longo de todo este ano está precifica na curva de juros.

Como comentei ontem, acredito que seja o momento de reduzir a posição comprada em dólar contra uma cesta de moedas. As posições hoje devem ser muito menores do que no passado recente, e com stops mais apertados. Acredito que o cenário seja baixista para os juros no mundo, mas a aversão a risco de curto-prazo pode prejudicar o desempenho dos ativos emergentes (inclusive suas curvas de juros). Em suma, mantenha uma posição comprada em dólar, porém menor do que antes. A posição core deve ser agora na fly 3200/3300/3400 curta, aliada a calls/spreads 3400/3500 mais longas no BRL. Olharia o nível de 3,25 para reduzir a posição, ou stopar parte dela abaixo de 3,20. Mantenha estruturas de opções baixistas no Ibovespa, assim como posições aplicadas em juros locais via juros nominais (Jan18/jan19) e juros reais longos. Reduza consideravelmente a posição comprada em dólar contra uma cesta de moedas (EUR, MXN, CAD e AUD).

Os ativos no Brasil, ajudados pelo cenário externo (Grécia e China), ganharam algum prêmio de risco ao longo desta semana (depreciação do câmbio, queda da bolsa, abertura de CDS e steepening da curva de juros), o que na minha visão faz total sentido. Ainda acho que estes prêmios podem ser mais elevados no curto-prazo, tendo em vista toda a piora do cenário econômico e político local (que temos citado neste fórum nas últimas semanas), agora aliados a uma deterioração expressiva do cenário externo nos últimos dias.

Na China minha visão é mais negativa no curto-prazo. Acredito que serão necessárias medidas ainda mais agressivas por parte do governo para estabilizar os mercados locais. Acredito que existam instrumentos para estabilizar a situação, e eles eventualmente serão utilizados por um governo ainda extremamente controlador. Contudo, a alavancagem no mercado ainda é expressiva, com os riscos a estabilidade financeira podendo afetar, via efeito riqueza, a poupança privada do setor corporativo e dos investidores pessoais física. Com grande parte do mercado congelado nos últimos dias, parece que ainda será preciso novos ajustes de preços e posição antes de uma estabilização do mercado.

De acordo com Dong Tao, respeitado economista do Credit Suisse na China, we identify two major channels via which a sharp market correction could affect the real economy. The first channel is consumption. There are about 258mn stock trading accounts opened on the Shanghai and Shenzhen stock exchanges – 83% of the entire population of the US, with about one-third opened over the past nine months. We note a major shift of household savings from bank accounts to brokerage accounts. We estimate that 80% of China's urban households invest in stocks or equity funds, and equity exposure surged to at least 30% of their liquidity assets, from less than 10% at the beginning of 2014. The wealth effect is clear, but we suspect that the length of the market correction matters more than the depth. The Chinese people have kept hold of their jobs ensuring steady monthly cash flows, but generally they are feeling poorer, particularly in the face of adverse market conditions. Auto sales, which account for 9% of total retail sales, underwent a sharp decline, though not entirely caused by the wealth effect. The situation is too fluid for us to make any attempt to quantify the wealth effect, but we are inclined to believe that should the Shanghai Composite Index drop towards 3000 and stay low, we expect retail sales growth to be flat or decline slightly compared with 10.3% yoy as the average of the past five months, taking away the final growth engine, when investment and exports are all facing structural issues and have already decelerated.


A resolução do impasse na Grécia me parece uma decisão totalmente política. Não tenho vantagem comparativa (e acho que ninguém tem) para supor o que será decidido. A ausência de um acordo deverá trazer uma nova rodada de aversão a risco aos mercados. Um acordo, contudo, pode ajudar um movimento pontual de “relief rally”, mas as atenções devem se voltar ao policy maker chinês.

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