Trading the Fed and Oil.

Não há mudanças significativas no cenário econômico global (nos EUA, o Jobless Claims se manteve nos lows históricos, o Bloomberg Consumer Confidence nos picos históricos, e o Leading Indicator mostrou novo avanço), mas precisamos levar em conta alguns vetores para entender (e tentar prever) a direção dos mercados financeiros globais no curto-prazo, e potencias impactos mais estruturais.

Primeiro, há a aparente mudança de postura por parte do Fed, já tratada aqui neste fórum incessantemente desde a semana passada. Segundo, existe a volatilidade recente no preço do petróleo. Ambos são capazes, individualmente, ou em conjunto, de alterar de maneira significativa a dinâmica dos ativos de risco.

A postura do Fed poderá ter impacto mais estrutural sobre os mercados financeiros globais, enquanto o petróleo parece ser uma questão pontual. Como vimos hoje, a simples estabilização de seu preço, mesmo que ainda em bases frágeis (subindo neste momento menos de 1%, após acentuada queda recente), foi capaz de dar um tom mais otimista para os ativos de risco em geral.

Acredito que o Fed tenha colocado “uma pulga atrás da orelha” do mercado, de certa forma se desvinculando de dados de curto-prazo, e mantendo uma visão prospectiva positiva para a economia, o que pressupõe a manutenção do processo de normalização monetária. O processo de comunicação da redução do balanço do Fed parece adiantado, e um anúncio oficial poderá ocorrer mais cedo do que tarde. Como este processo nunca foi testado anteriormente, pelo menos nas proporções atuais, é natural alguma cautela por parte dos investidores, especialmente se levarmos em conta o atual nível dos ativos de risco, a posição técnica de alguns mercados, e os níveis deprimidos das volatilidades realizadas e implícitas. Como já diz o ditado “Tress don´t grow to the sky”.

Sobre o petróleo, reforço o que escrevi ontem: Sou pouco entendido no assunto. Tendo a acreditar que o mercado de commodities apresenta movimentos de curto-prazo muito mais acentuados do que as mudanças de fundamentos representam. De qualquer maneira, com o WTI novamente próximo aos $40, e nos níveis mais baixos em cerca de 10 meses, o movimento começa a incomodar os demais ativos de risco. Tenho pouca sensibilidade a este mercado para emitir uma opinião concreta sobre sua direção, mas no curto-prazo a direção dele poderá ser determinante para o humor global a risco.

Vale a pena comentar a medida adotada na China, com intuito de medir os riscos a estabilidade financeira de alguns grandes conglomerados locais. Este artigo do FT resume bem a questão: https://www.ft.com/content/23c8ba54-5710-11e7-9fed-c19e2700005f. Este é um caso típico de “short term pain, for long term stability”. O governo chinês continua em uma cruzada para evitar bolhas em mercados específicos, visando desalavancar a economia e evitar problemas futuros mais agudos. O país apresentou clara estabilização neste início de ano. Alguma desaceleração do crescimento já é esperada para o segundo semestre. Contudo, como tudo na China é superlativo, qualquer desaceleração mais acentuada (e na china qualquer desvio de 0,2%, 0,3% no PIB faz preço) pode causar impactos maiores no preço dos ativos de risco.

No Brasil, o Relatório de Inflação ficou dentro do esperado (vide e-mail anterior). Na minha visão, o BCB manteve a porta aberta para a queda de 100bps ou 75bps na próxima reunião do Copom. Pelas previsões do BCB e do mercado, ainda existe um espaço razoável para a queda da Taxa Selic, o que não me parece totalmente precificado pelo mercado. Vale destacar que as expectativas de IPCA do BCB para os próximos 3 meses ainda são cerca de 40bps acima do que nossa área econômica estima, o que contrataria uma surpresa inflacionária ainda bastante grande no curto-prazo.

Continuo vendo um cenário econômico de goldilocks, mas os vetores citados acima me mantém mais cauteloso no curto-prazo, optando por posições em temas específicos, e fugindo, por ora, de temas maiores ou mais correlacionados (“dólar forte ou fraco”, , “abertura/fechamento de juros”, “alta/queda das bolsas” e etc).

Continuo vendo valor na parte curta da curva de juros nominais no Brasil, e um bom risco/retorno em algumas estruturas de opção. Mantenho uma postura de administrar o tamanho e os instrumentos da posição. Diante das incertezas do cenário, me parece difícil que o mercado embarque em um movimento rápido e acentuado de precificar um ciclo muito maior de corte de juros “a valor presente”, mas acredito que, à medida que o tempo passe, e a inflação e o crescimento baixo se concretizem, na ausência de problemas adicionais no campo político e/ou externo, o ciclo de queda da Taxa Selic poderá continuar, em nível superior ao precificado na curva neste momento. Acho prudente manter alguns hedges para a posição, como estruturas de dólar (altista) e compra de inflação implícita na parte intermediária da curva.


Mantenho viés tomador na curva de juros dos EUA. Acredito que as vols implícitas estejam baixas para adicionar a este tema via o mercado de opção. O mesmo vale para proteção dos portfólios via estruturas de opção no mercado de renda variável dos EUA.

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