Cautela.

Os ativos de risco continuam operando com viés mais negativo. Vejo a mudança de postura por parte do Fed (já extensivamente comentada neste fórum nos últimos dias), assim como a pressão em algumas commodities (em especial o petróleo), como os principais vetores de sustentação deste viés mais pessimista. A deterioração recente da posição técnica, mostrada há alguns dias atrás pela emissão dos papéis de 100 anos na Argentina, também pode ser um vetor que esteja ajudando a dar um clima mais pessimista no curto-prazo.

De maneira geral, o quadro macroeconômico segue inalterado, o que me faz acreditar que o movimento recente será pontual, e não uma mudança drástica de tendência.

Por exemplo, as exportações dos primeiros 20 dias de junho, na Coréia do Sul – um país com corrente de comércio elevada, que costuma ser visto como proxy para o crescimento e a demanda global – apresentou recuperação em relação ao mês anterior, subindo elevados 24,4% YoY e 25,4% MoM (vs. 3,4% YoY e -16,2% MoM em maio).

Por ora, contudo, ainda acho necessário adotar uma postura mais defensiva e tática no curto-prazo, a espera de preços mais atrativos e/ou um sinal mais claro de estabilização do humor global a risco.

No Brasil, o governo sofreu uma inesperada e preocupante derrota em uma comissão do Senado, onde o texto da Reforma Trabalhista não foi aprovado. A vitória era amplamente esperada, mesmo que com pequena margem.

A derrota não significa o fim da tramitação da Reforma Trabalhista. O que importa, no final das contas, é a aprovação, por maioria simples, no plenário da Casa. De qualquer maneira, a derrota é um sinal amarelo (talvez vermelho) para as reformas pendentes. Falta articulação e apoio político a este governo desde que a delação da JBS se tornou pública. Dificilmente temas polêmicos serão aprovados neste ambiente.

A investigação apresentada até o momento sobre o presidente Michel Temer pela Polícia Federal (PF) aponta para indícios de corrupção passiva. À primeira vista, contudo, não existem provas adicionais aquelas já apresentadas e amplamente divulgadas na mídia nas últimas semanas. A mídia está, neste momento, apenas “requentando” notícias já amplamente divulgadas. Na opinião de um leigo no assunto, as acusações e provas parecem frágeis, na ausência de provas concretas ainda não apresentadas. Não à toa, a PF pediu tempo ao STF para concluir as investigações.


No campo econômico, acumulam-se evidências de um processo desinflacionário bastante agudo e uma recuperação apenas lenta e gradual do crescimento. Ontem, o CAGED mostrou um mercado de trabalho ainda instável, a despeito dos sinais incipientes de recuperação. A arrecadação federal continua mostrando um quadro preocupante, em linha com um crescimento baixo. O número reforça a urgência de reformas estruturantes para o quadro fiscal do país.

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