"Taking the punch bowl away"

Hoje foi o primeiro dia, em muito tempo, que observarmos movimentos um pouco mais acentuados nos ativos de risco. Não houve uma tendência clara, como “risk-on” ou “risk-off”, mas a dominância de alguns temas não menos importantes. Interessante observar que mesmo após o movimento de hoje, as volatilidades implícitas dos ativos de risco continuam bastante deprimidas para os padrões históricos (vide gráfico abaixo).

Como tenho alertado desde a última reunião do FOMC, nos EUA, parece existir uma mudança clara de postura por parte do Fed, que agora é ecoado por outros dos principais bancos centrais ao redor do mundo. Este tema foi resgatado hoje com um discurso de Draghi na Europa. O discurso do ECB, visto como mais hawkish, segue um relatório do BIS – considerado o banco central dos bancos centrais – que foi divulgado nos últimos dias, e confirma os sinais de que existe uma disposição dos principais banqueiros centrais ao redor do mundo em retirar as políticas monetárias de exceção. Mesmo que este processo seja gradual, os investidores precisarão se adequar a essa nova ordem.

Escrevi na semana passada o seguinte: Acredito que o Fed tenha colocado “uma pulga atrás da orelha” do mercado, de certa forma se desvinculando de dados de curto-prazo, e mantendo uma visão prospectiva positiva para a economia, o que pressupõe a manutenção do processo de normalização monetária. O processo de comunicação da redução do balanço do Fed parece adiantado, e um anúncio oficial poderá ocorrer mais cedo do que tarde. Como este processo nunca foi testado anteriormente, pelo menos nas proporções atuais, é natural alguma cautela por parte dos investidores, especialmente se levarmos em conta o atual nível dos ativos de risco, a posição técnica de alguns mercados, e os níveis deprimidos das volatilidades realizadas e implícitas. Como já diz o ditado: “Tress don´t grow to the sky”.

Dei (e continuo dando), bastante peso a sinalização do Fed, que agora foi reforçada pelo ECB, dois dos principais bancos centrais do mundo, cuja política monetária foi propulsora da expansão dos balanços, da liquidez global e do afrouxamento das condições financeiras.

Por isso, tenho adotado postura mais cautelosa no curto-prazo. Os eventos recentes apenas reforçam minha visão. Por ora, estou vendo este momento de realização/acomodação como um evento normal diante de preços “esticados”, posição técnica comprometida e cenário menos óbvio. Contudo, precisaremos acompanhar no detalhe o efeito concreto que a mudança de postura por parte dos bancos centrais terá para o desempenho estrutural dos ativos de risco como todo.

Mantenho minhas posições praticamente inalteradas. Tenho administrado apenas tamanhos e instrumentos. Lembrando, assim, que continuo vendo valor na parte curta da curva de juros nominais no Brasil, e um bom risco/retorno em algumas estruturas de opção. Mantenho uma postura de administrar o tamanho e os instrumentos da posição. Diante das incertezas do cenário, me parece difícil que o mercado embarque em um movimento rápido e acentuado de precificar um ciclo muito maior de corte de juros “a valor presente”, mas acredito que, à medida que o tempo passe, e a inflação e o crescimento baixo se concretizem, na ausência de problemas adicionais no campo político e/ou externo, o ciclo de queda da Taxa Selic poderá continuar, em nível superior ao precificado na curva neste momento.

Acho prudente manter alguns hedges para a posição, como estruturas de dólar (altista) e a compra de inflação implícita na parte intermediária da curva. Mantenho viés tomador na curva de juros dos EUA. Acredito que as vols implícitas estejam baixas para adicionar a este tema via o mercado de opção. O mesmo vale para proteção dos portfólios via estruturas de opção no mercado de renda variável dos EUA.

No campo econômico, os indicadores de confiança no Brasil mostraram arrefecimento, o que já parece ser um efeito direto da crise política que se instaurou no país. As coletas de inflação continuam baixas. A conta corrente mostrou superávit. As contas externas continuam saudáveis, o que dá algum conforto ao cenário de câmbio para o país.


Nos EUA, o Consumer Confidence atingiu o maior patamar deste ciclo econômico, superando as expectativas do mercado. Continuo vendo um cenário de crescimento saudável, sem sinais claros e óbvios de aceleração ou desaceleração da economia. O ambiente político continua nebuloso, com o “Health Care” sendo novamente adiada no Congresso para depois do recesso de 4 de julho.

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