Cenário externo requer cautela no curto-prazo.
Na semana passada
escrevi sobre a interpretação de que a sinalização do Fed havia sido mais hawkish do que as expectativas do
mercado na decisão do FOMC. Ontem vimos Dudley reforçar está visão. Hoje, outros
membros do Fed deram declarações na mesma linha. A mudança de postura do Fed me
parece clara e coordenada. O Comitê parece cada vez mais sensível aos atuais
níveis de emprego e os riscos que isso traz as perspectivas de inflação. Para
colocar mais uma pitada de complexidade ao fato, alguns membros do Fed se
mostram preocupados com o risco a estabilidade financeira, com os juros ainda
extremamente baixos, e os níveis que alguns ativos de risco atingiram.
Nesta linha, alertei
ontem para a emissão dos papéis de 100 anos da Argentina. Este tipo de
operação, na maior parte das vezes, demonstra alguma leniência por parte dos
investidores e, em muitos casos, costuma marcar um ponto de inflexão dos
mercados (mesmo que pontual). Vide o e-mail enviado na tarde de ontem abaixo.
O cenário econômico
ainda pode ser classificado como “goldilocks”.
Contudo, a mudança de postura por parte do Fed não pode ser ignorada. Além
disso, a emissão da Argentina mostra uma busca incessante, talvez exagerada,
por yields, o que aponta para uma
deterioração do quadro técnico.
Acredito que o momento
seja de manter os portfólios menos direcionais, em busca de temas mais
específicos de investimento. Como venho afirmando nas últimas semanas, ainda
vejo valor na parte curta da curva local de juros, mas tenho administrado
tamanho e instrumentos. Além disso, acho indispensável a manutenção de hedges,
como estruturas altistas de dólar e compra de inflação implícita na parte
intermediária da curva.
A despeito do movimento
externo nos últimos dias, com as commodities em queda e o dólar mais forte,
ainda se mostra relativamente barato a alocações de alguns hedges para uma
potencial deterioração do preço dos ativos, mesmo que pontual.
Quanto ao Brasil,
muitos se mostravam surpresos com o bom desempenho dos ativos locais após os
últimos eventos políticos. Na minha visão, grande parte disso se devia a um
cenário externo construtivo. Este cenário começa a dar sinais, pelo menos no
curto-prazo, de alguma deterioração. Como o Brasil não é uma ilha isolada, é
razoável supor que uma piora do humor global deva afetar os ativos locais.
Reafirmo que ainda não
estou com um viés direcional pessimista, mas claramente menos otimista após os
eventos recentes, já sinalizados desde a semana passada. O momento requer
cautela, hedges e um posicionamento
que permita adicionar risco em temas de maior convicção caso o mercado
apresente uma realização mais acentuada.
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