Brasil: Inflação surpreende/ Externo: Hedges baratos.

Brasil – Destaque absoluto para a divulgação do IPCA de maio. A inflação apresentou alta de 0,31% MoM e 3,60% YoY, muito abaixo das expectativas de 0,47% MoM e 3,765 YoY. Nossa área econômica classificou o número da seguinte maneira:

>> O qualitativo do IPCA veio favorável, com a inflação de serviços (e a subjacente de serviços) abaixo das mínimas históricas (desde 2001). A inflação de serviços subjacentes dessaz ficou em apenas 3,1% na média móvel trimestral anualizada, enquanto serviços como todo em 5,9%. Na ponta dessaz, serviços ficaram em 4,7%. A média móvel trimestral da média dos núcleos ficou em 3,3% (taxa anualizada). A difusão dessaz de serviços rodou em patamar bastante baixo. Em suma, o cenário de desinflação prossegue e vemos um IPCA agora mais próximo de 3,25% para o ano.

O número de hoje mantém viva a chances de um corte de 100bps na próxima reunião do Copom. Acredito que esta probabilidade hoje seja superior a 50% (o mercado precifica probabilidade inferior a 30%). No mínimo, o número de hoje, aliado ao cenário de recuperação lenta do crescimento, pressupõe a continuidade do ciclo de queda de juros nas próximas reuniões do Copom.

Em sinalizações recentes na mídia, e em reuniões com o mercado, membros do BCB sinalizaram que não estão presos a nenhum cenário específico de corte na próxima reunião, mas que veem um ambiente cíclico ainda propício a continuidade de queda da Taxa Selic. Aquela má interpretação do Comunicado após o último Copom, que critiquei neste fórum, parece já ter sido desfeito. Escreve o seguinte sobre este tema no início da semana:

Na semana passada, escrevi o seguinte sobre a decisão: Na minha humilde visão, acredito que este BCB esteja fazendo um excelente trabalho na condução da política monetária, mas sua comunicação, muitas vezes, peca pela excessiva transparência. Como não estamos em um país desenvolvido, mas, muito pelo contrário, em um país emergente, os 45 dias entre as reuniões do Comitê de Política Monetária trazem inúmeras informações novas. Assim, o excesso de sinalização pode acabar colocando o BCB em situação delicada, forçando-o a promover mudanças de postura repentinas às vésperas das reuniões. Este BCB já cometeu este erro no passado, se comprometendo com um ritmo de ajuste de juros, e pode se ver em situação semelhante novamente. Em suma, o foward guidance do livro texto, mesmo usado na melhor dos intensões aqui no Brasil, talvez não seja a melhor postura a ser tomada.

No interim entre o comunicado da semana passada e as Notas de hoje, observamos uma forte reação negativa dos ativos locais. A crise política explica parte do movimento, mas a comunicação do BCB, na minha opinião, ajudou a piorar o quadro. O BCB parece ter compreendido que, talvez, sua comunicação não tenha sido adequada, e procurou melhora-la nas Notas divulgadas hoje. Acredito que ele tenha conseguido desfazer a sensação ruim que tinha ficado após a reunião da semana passada.

Em termos gerais, o cenário base é que o Copom caia 75bps a Taxa Selic na próxima reunião. Contudo, o BCB não está totalmente preso a este cenário. A despeito da incerteza política, cujo efeito é ambíguo sobre o cenário para política monetária, o pano de fundo cíclico da economia, com inflação baixa e recuperação lenta do crescimento, ainda justificam a manutenção de um ciclo de queda das taxas de juros. O BCB afirma, como é esperado no atual estágio do ciclo, que é natural esperar quedas mais moderadas de agora em diante. Na minha visão, falar em fim de ciclo e/ou em taxa terminal de juros, neste momento, me parece prematuro.

Externo – O mercado leu as eleições na Inglaterra como um evento local e que, possivelmente, vislumbra uma política fiscal mais frouxa. O grande prejudicado neste processo acabou sendo a GBP.

Nos EUA vimos um sell-off não desprezível no Nasdaq. Não parece haver um evento específico que justifique o movimento, mas o forte desempenho de Tech neste início de ano, e valuations longe de barganhas, parecem ter ajudado o movimento de realização.

A semana que vem terá uma espécie de “Super Wednsday” com a divulgação do Core CPI, Retail Sales e decisão do FOMC.

Portfólio - Continuo vendo um cenário relativamente construtivo para a economia global, que vem sendo erradamente expressado (até o momento) via juros tomados nos EUA. Nos atuais níveis de preço, existem hedges extremamente baratos para serem incorporados ao portfólio. Elencaria Puts de S&P e Puts de Tsy como dois exemplos disso. Acho prudente ter proteções como essa para a próxima semana.


Mantenho um viés positivo para a parte curta da curva de juros local, mas trocando risco do mercado futuro para opções ao longo do dia de hoje. Continuo gostando de hedges, via estruturas de opção de dólar, e na inflação implícita na parte intermediária da curva.

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