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Em um dia de agenda esvaziada, os ativos de risco apresentaram movimentos não desprezíveis. Não vejo mudanças de cenário para justificar os movimentos de hoje, o que me faz crer que sejam movimentos pontuais e, em grande parte, puxados por questões técnicas. A volatilidade mais alta não é um ponto fora da curva. O cenário e as incertezas pressupõe volatilidades mais elevadas de agora em diante.

O movimento que mais chamou a atenção foi mais uma rodada de abertura de taxas de juros na Europa, ainda refletindo o discurso de Draghi na semana passada. Contudo, os títulos norte-americanos não seguiram o movimento dos papéis na Europa, o que acabou dando grande suporte ao EUR, e levando a uma fraqueza generalizada do USD no mundo.

Com a situação na Grécia indefinida, as bolsas da Europa tiveram mais um dia de queda, com a correção atingindo pontos gráficos importantes. Este movimento acabou afetando o humor das bolsas norte americanas. Acredito que o problema na Grécia será resolvido, mas a cada dia que passa e nenhum avanço é atingido, os ativos de risco tendem a ficar mais sensíveis ao tema.

No Brasil, o movimento de dólar fraco ajudou o fechamento de taxa de juros, em um ambiente em que a curva já precifica altas de 43bps+20bps nas próximas reuniões do Copom. A curva permanece bastante invertida, com o Jan21/jan17 abaixo de -100bps. Não descarto uma curva ainda mais negativamente inclinada com o atual cenário de política monetária vis-à-vis um crescimento a cada dia mais preocupante.

Mantenho, por hora, a mesma visão descrita neste fórum no final da semana passada. Acredito que estamos diante de um shift para cima das bandas que foram verificadas nos últimos meses. Os juros norte-americanos, tomando a Treasury de 10 anos como parâmetro, estão definitivamente em uma nova banda, tendo saído dos 2%-2,25% para 2,25%-2,5%. O dólar está fazendo novos picos recentes contra uma série de moedas, como é o caso do MXN e ZAR, por exemplo. Podemos esperar que o DXY volte a buscar os picos deste ano, em torno de 100. O patamar de 95-100 parece uma banda razoável para se esperar nas próximas semanas. Em um ambiente de abertura de taxas de juros nos países desenvolvidos e fortalecimento do dólar, é natural esperar um cenário mais desafiador para as commodities e para os ativos emergentes em geral. O cenário para o mercado de renda variável, em especial nos países desenvolvidos, me parece menos óbvio. Enquanto o aumento da probabilidade de uma alta de juros nos EUA este ano deve atuar como limitador de performance, e os ruídos na Grécia possam causar realizações pontuais, existe um argumento racional de que possamos observar uma rotação de bonds para equities, o que pode vir a dar suporte as bolsas globais, em especial nos países desenvolvidos.

No Brasil, o BRL parece buscar uma nova banda de atuação, saindo de 3,05-3,15 para 3,10-3,20, com claro viés de alta após os últimos desenvolvimentos externos. A janela de captações corporativas externas segue aberta. A EMBRAER emitiu papeis de 10 anos hoje, em um total de US$1b. O book da operação chegou a atingir cerca de US$4b. A perspectiva de fluxos financeiros continua mantendo o BRL dentro de suas bandas recentes, com desempenho claramente melhor do que seus pares. Acredito que a tendência de fortalecimento do dólar será mantida, mas que o BRL pode se mostrar mais comportado no curto-prazo, com uma janela de captações mais positiva. Será importante observar se será confirmado que a banda de 3,05-3,15 está dando lugar a uma nova banda, em torno de 3,10-3,20. Ainda acredito que abaixo de 3,05 e, especialmente, próximo a 3,00, o BCB irá reduzir, gradativamente, sua rolagem de swaps cambiais, o que coloca um claro piso no USDBRL. Assim, utilizaria o patamar em torno de 3,05-3,10 como ponto de aumento de alocação em USD, e o patamar próximo a 3,15-3,20 como ponto de redução de alocação. Em algum momento, contudo, este patamar de 3,15-3,20 poderá ser rompido, especialmente se o cenário externo mostrar uma nova rodada de apreciação do dólar, com o patamar de 100 no DXY sendo novamente atingido.


A curva local de juros apresentou mais uma rodada de flattening. Já vejo valor na parte intermediária e longa da curva de juros, mas entendo que sem uma sinalização clara de até onde o ciclo de alta de juros irá atingir, aliado a um cenário externo mais desafiador para esta classe de ativos, requer uma postura um pouco mais cautelosa neste ativo, pelo menos até que tenhamos uma melhor visibilidade no tocante aos vetores descritos acima. 

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