Grécia: Sem acordo = "Risk-Off"

A semana promete ser agitada, com a Grécia dominando o foco no começo desta segunda quinzena do mês, e a reunião do FOMC ganhando destaque na segunda metade da semana. No Brasil, os ativos locais devem ficar a mercê dos desenvolvimentos externos, exceto por alguma novidade no âmbito político.

Grécia – Até o último momento (16h00 deste domingo, dia 14 de junho de 2015) os esforços entre os gregos e seus credores não chegaram a nenhum acordo em torno da manutenção de um programa de ajuda financeira a Grécia. Com o tempo para uma evolução entre as partes de esgotando, é natural esperar que os ativos de risco se tornem mais sensíveis ao tema. Acredito que devemos vivenciar um período de “risk-off” até que uma solução seja encontrada. Minha convicção de que uma solução de última hora será encontrada está abalada desde sexta-feira pela manhã. Ainda trabalho com o cenário base de uma solução intermediária de última hora, mas os riscos de um “evento de cauda” se elevaram exponencialmente nas últimas 72 horas.

Acredito que seja difícil se posicionar para um evento binário desta proporção. Assim, para aqueles que detêm posições compradas em risco, venho recomendando hedges desde o final da semana passada (puts de equities na Europa e EUA, puts/spreads de EUR, por exemplo). A posição mais clara na minha cabeça, que poderia se favorecer de um “risk-off” proveniente da Grécia, e ainda mostrar bom desempenho com os fundamentos apontando para a recuperação da economia norte americana, as vésperas da reunião do FOMC, continua sendo posições compradas em USD.

EUA – O Fed tem um enorme desafio esta semana. Ele precisará promover revisões não desprezíveis em suas expectativas de crescimento, emprego e inflação para os próximos 2 anos, assim como revisar sua expectativas de taxa de juros. Ao mesmo tempo, precisará manter vivas as expectativas de uma alta de juros no segundo semestre deste ano. Na minha visão, o FOMC irá reforçar a mensagem de que será dependente dos números econômicos. Caso a recuperação no segundo trimestre deste ano se consolide, como os últimos dados apontam, uma alta de juros em setembro será bastante provável. A despeito de um ciclo de alta começando um pouco antes do que o mercado precifica, os números podem mostrar uma revisão dos juros de equilíbrio de longo-prazo, que recuram de 4% para 3,75% nos últimos meses, e alguns já esperam uma queda para 3,5%. Pelos preços de mercado, contudo, esse patamar está abaixo de 3%, e muito próximo a 2,5%. Em suma, o cenário segue em aberto, o que deverá manter a volatilidade elevada e os ativos de risco apreensivos.

Na minha visão, cresceu consideravelmente a possibilidade de uma alta de juros em setembro, exceto por algum problema externo, como um default da Grécia. O mercado precifica hoje probabilidade de 60% de uma alta em setembro. Neste cenário, acredito que o patamar de 95 no DXY tenha se tornado um piso de curto-prazo e o índice deveria buscar novamente o patamar de 100.

Brasil – Nos últimos dias, cresceu novamente o debate em torno da possibilidade de um rebaixamento do rating do país. Acredito que, consolidado um quadro de PIB caindo abaixo de -2% este ano (previsão de nossa Área Econômica), se não tivermos a perspectiva de recuperação do crescimento em 2016, em um pano de fundo de inflação galopante e grandes desafios fiscais, um rebaixamento da nota de crédito do país será inevitável. Precisar o timing para isto ainda é difícil, mas o último trimestre do ano será um momento propício para as revisões das agências.

No final de semana, as relações entre o PT e o PMDB ficaram novamente estremecidas, após a o congresso do PT ter dado algum foco e críticas abertas a seu partido aliado. Este tipo de postura mostra que as relações ainda são delicadas e, a despeito da aprovação e do avanço de várias medidas do pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo, o cenário para a governabilidade do país ainda se mostra frágil e delicado.


Apesar de já ver valor curva local de juros, o ambiente ainda não parece propício para posições estruturai aplicadas na curva. A postura do BCB torna difícil prever até que nível este ciclo de alta de juros irá atingir, em um cenário de incerta local e externa ainda elevada. Assim, recomendo apenas posições táticas e pontuais nesta classe de ativos. No câmbio, vejo espaço para mais uma rodada de alta do USDBRL. Trabalharia com uma posição comprada como “core”, usaria o range de 3,05-3,10 para elevar a alocação comprada e o nível próximo a 3,20 para reduzir a posição. Utilizaria estruturas de opções, visando reduzir o carrego e se apropriar de uma volatilidade implícita elevada, como um incremento para a posição. Entendo que estamos em uma janela de curto-prazo favorável para as captações corporativas externas, o que pode manter o BRL um pouco mais comportado nas próximas semanas.

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