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Os ativos de risco continuam seguindo de perto a saga grega. A Grécia e seus credores voltaram a mesa de negociações o que, à primeira vista, é um sinal positivo de que um acordo ainda seja possível. Todavia, ainda parece existir uma enorme distância entre as demandas dos credores e a disposição da Grécia em atende-las.  Assim, a situação segue fluida, porém indefinida e delicada.

Após a surpreendente decisão de cortar os juros e o compulsório para alguns bancos no final de semana, o PBoC, na China, injetou liquidez no mercado durante a noite. A medida é positiva, já que sinaliza aos investidores que o governo não alterou sua postura de dar suporte ao crescimento do país através do canal de menor taxas de juros de mercado. Contudo, o país precisa lidar com um aumento expressivo da alavancagem no seu mercado de renda variável, colocando o governo em situação um tanto quanto ambígua e delicada. Por um lado, precisa garantir um crescimento em torno de 7%, mas por outro lado, necessita evitar riscos a estabilidade financeira.

O Minério de Ferro parece ter entrado em uma nova espiral de queda, apontando para um quadro de demanda fraca e sobre oferta

Nos EUA, ainda não há sinais evidentes de contágio da crise grega. As condições financeiras se mostram estáveis, e os indicadores de confiança e crescimento mostram uma economia em recuperação. O Chicago PMI saiu de 46,2 para 49,4 pontos em junho, com o Consumer Confidence passando de 94,6 para 101,4 pontos. Membros do Fed vem mantendo o discurso de que a instituição será dependente dos dados, e qualquer reunião de agora em diante pode ser um momento pertinente para dar início a um processo de alta de juros. O mercado precifica apenas 20% de probabilidade de uma alta de juros de 25bps em setembro e menos de uma alta total de 25bps ao longo de todo este ano.

No Brasil, a economia parece estar afundando em um abismo onde o fundo ainda parece distando. O Índice de Confiança da Industria e o do setor de Serviços apresentaram novas quedas em junho, se aproximando nos pisos históricos. As evidências anedóticas mostram um quadro de crescimento e emprego muito piores do que o imaginado anteriormente. Os dados fechados das contas fiscais de maio confirmaram um cenário de desafios crescentes. Enquanto Dilma está em uma viagem aos EUA, Lula está em Brasília comandando sua tropa.

A curva local de juros segue bastante invertida e operando próxima aos picos recentes de taxa. O BRL continua em uma estreita banda, em torno de 3,05-3,15. Ao que tudo indica, precisaremos de mudanças significativas de cenário para que essas bandas sejam rompidas. No caso da curva de juros, um sinal mais claro do BCB em torno do fim do ciclo de alta de juros e/ou um arrefecimento mais consistente da inflação. No caso do BRL, um sinal mais claro de timing para o começo do processo de alta de juros nos EUA (ou o seu adiamento por tempo ainda mais prolongado).

Com um BCB mantendo comprometimento com o centro da meta de inflação, e após alterar a banda de flutuação para a meta de 2017, observamos uma queda nas inflações implícitas. Acredito que este movimento tenha mais espaço para continuar. Estou favorecendo a parte longa da curva nominal e real de juros, com uma clara preferência pela curva nominal. Ainda vejo posições no mercado local de juros como táticas. Esperaria um sinal mais claro do BCB e/ou da inflação para olhar esta classe com uma visão mais estrutural.

Não vejo vantagem comparativa em se posicionar para nenhum cenário com relação a Grécia, mas precisamos monitorar a situação para ter noção dos efeitos secundários do problema para o resto do mundo.

A crise grega, caso se estenda por muito tempo, pode adiar a decisão do Fed em dar início a um processo de alta de juros. Do ponto de vista brasileiro, o mercado pode ver a crise como uma reprise de 2011, quando o BCB deu seu famoso “cavalo de pau” nos juros. Acho que a situação hoje é muito diferente daquele momento, mas continuo acreditando que estamos cada vez mais próximos ao final deste ciclo de alta de juros.

No curto-prazo, o dólar pode se favorecer de um cenário de aversão a risco, com maior impacto negativo sobre EM, mas algum suporte para G10. A resolução deste problema, eventualmente, traz de volta à pauta o processo de alta de juros nos EUA. Assim, continuo gostando de manter uma posição comprada em dólar contra uma cesta de moedas, dividindo o risco entre EM e G10. O risco, é uma resolução dos problemas na Grécia, mas com o Fed adiando mais uma vez o início do processo de alta de juros, o que levará a mais uma rodada de queda do dólar no mundo.


Eu continuo com a mesma visão de portfólio das últimas semanas, vendo a Grécia como um ruído que precisa ser monitorado. Como tenho chamado a atenção ao longo das últimas semanas, não acredito que o momento seja para uma exposição relevante a risco. No cenário externo, continuo gostando de posições compradas em dólar contra uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, AUD e CAD). No que diz respeito ao Brasil, gosto de posições vendidas em BRL, e estruturas de opções baixistas para a bolsa (put/spreads). As vols implícitas do BRL apresentaram queda relevante nos últimos dias, saindo de 20% para 15%, criando oportunidades de se posicionar na compra do dólar via opções. Gosto da fly para final de julho (3200/3300/3400), combinada com call/spreads mais longos (3400/3500), além de posições no mercado futuro.

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