Brasil e Grécia: Expressiva deterioração do cenário.

O final de semana começou com desenvolvimentos importantes para o cenário econômico global e para o cenário político local. Vamos aos fatos:

Grécia – O Primeiro Ministro grego convocou um referendo, para o dia 5 de julho, com intuito de aprovar (ou não) um acordo entre o país e seus credores. Do lado dos credores, o anuncio foi de que não houve um acordo nas negociações. Neste exato momento, ainda existe uma enorme incerteza no cenário. Qual será a pergunta feita no referendo? Qual o tipo de propaganda por parte do governo será feita em torno do evento, a favor do acordo, ou contrária à aprovação? O país será capaz de não impor controle de capitais na segunda-feira? As evidências anedóticas mostram filas imensas nos ATMs do país desde a sexta-feira a noite.

De todo maneira, a incerteza trazida por este evento deve criar volatilidade e pressão sobre os ativos de risco. A probabilidade de um default se elevou consideravelmente. Espero que os mercados reabram no domingo a noite sobre forte pressão, na ausência de algum avanço nas próximas horas.

Brasil – Dois eventos merecem destaque:

(1)   A delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC, foi, em parte, divulgada pela revista Veja. Segundo o artigo, cerca de 20 políticos foram favorecidos com doações de campanha, cujos recursos teriam sido desviados do esquema em torno das obras da Petrobrás. O que chama mais a atenção são os R$7,5mm doados para a campanha presidencial de Dilma em 2014;
(2)   O Ministro Joaquim Levy foi internado na sexta-feira a noite com forte dores no tórax. De acordo com a mídia, o Ministro foi diagnosticado com embolia pulmonar, mas já teve alta e irá cumprir sua agenda internacional nos próximos dias.

Em relação ao item (1): Se, na teoria, nada ainda foi comprovado, na prática, torna uma situação política já delicada ainda mais desestabilizada. Como venho insistindo nos últimos dias, a situação econômica e política no país apresentou uma expressiva deterioração nas últimas semana que, por hora, vinha sendo ignorada pelos ativos locais. Acredito que este cenário tenha se desenvolvido devido a um ambiente externo mais estável. Com a piora do pano de fundo externo (Grécia) e novos ruídos locais, os ativos brasileiros podem vir apresentar um beta mais elevado caso um período de deterioração se confirme.

No que diz respeito a (2), seria natural ignorar o dia-a-dia do Ministro da Fazenda. Contudo, Levy é um dos únicos fiadores, e um dos únicos pilares de sustentação do movimento ortodoxo deste segundo mandato (com alguma relevante ajuda do BCB). Se sua saúde inspira cuidados, algumas interrogações devem pairar sobre o mercado no curto-prazo. O Ministro terá saúde para terminar seu mandato? Sua família irá apoia-lo neste empreitada? Estaria Levy preparando o terreno para uma eventual saída, sobre os argumentos de problemas pessoais? Todas essas são suposições, especulações, sem nenhum tipo de fundamento. Todavia, devem ser questões que o mercado se indagará daqui para a frente.

Posições – Como tenho chamado a atenção ao longo das últimas semanas, não acredito que o momento seja para uma exposição relevante a risco. No cenário externo, continuo gostando de posições compradas em dólar contra uma cesta de moedas (BRL, MXN, EUR, AUD e CAD). No que diz respeito ao Brasil, gosto de posições vendidas em BRL, e estruturas de opções baixistas para a bolsa (put/spreads). As vols implícitas do BRL apresentaram queda relevante nos últimos dias, saindo de 20% para 15%, criando oportunidades de se posicionar na compra do dólar via opções. Gosto da fly para final de julho (3200/3300/3400), combinada com call/spreads mais longos (3400/3500), além de posições no mercado futuro.

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