Brasil e Grécia, cenários piores
A situação econômica e política no Brasil segue, na minha
visão, em uma clara tendência de deterioração. Vejo a situação hoje como pior
do que a cerca de 2 semanas atrás (vide abaixo). Assim, acredito que a melhora dos ativos locais
(BRL e bolsa) observada nos últimos dias seja pontual, puxada por fluxos
específicos, devido a um cenário externo mais ameno no curto-prazo.
Na Grécia não há nenhum sinal de avanço nas negociações
entre o país e seus credores. O mercado parece estar adotando uma postura de
que a situação ficou tão negativa que uma solução deve ser encontrada em breve.
O Summit convocado para a segunda-feira será o próximo grande evento para
definir a situação do país. Contudo, com os resgates dos bancos locais
atingindo o patamar de EUR$2b apenas nesta sexta-feira, poderemos ter controle
de capitais em breve. Acredito
que um default efetivo terá desenvolvimentos negativos para os mercados.
Entendo que existem instrumentos para evitar um contágio maior (OMT, QE) mas a
incerteza que um evento que nunca ocorreu na região traz ao cenário já deveria,
por si só, trazer volatilidade, e alguma reação negativa dos ativos de risco,
mesmo que pontual e localizada.
Continuo sem ver grandes assimetrias no mercado. Acredito que a
alocação a risco neste momento deva ser baixa. Gosto de adicionar assimetrias
para um potencial default da Grécia (equity puts, USD calls), mas
com perdas limitadas e de tamanho contido. Ainda acredito no fortalecimento
estrutural do dólar, mas com o DXY abaixo de 95 a posição tem que ser tática,
menor e com stop mais curto. O mesmo vale para eventuais posições
aplicadas na parte longa da curva de juros de Brasil.
Brasil - O
IBC-Br apresentou queda de 0,84% em abril, com queda de 3,13% em relação ao
mesmo período do ano passado. Os dados recentes de atividade elevam substancialmente
a probabilidade de um PIB menor do que -2% este ano, como nossa área econômica
já vinha apontando a cerca de um mês. Para piorar a situação, em uma nova fase
da Operação Lava-Jato, os principais executivos de dois dos maiores
conglomerados empresariais do país foram presos. A nova fase deve apertar ainda
mais as condições financeiras locais, através de crédito mais caro e escasso. A
capacidade de investir do setor corporativo fica ainda mais fragilizada, e o
novo plano de concessões divulgado há algumas semanas ganha um grande ponto de
interrogação.
O CAGED apresentou uma queda de 115 mil vagas de trabalho em
maio, abaixo das expectativas de -65 mil. O mercado de trabalho vem se
deteriorando progressivamente o que, em algum momento, deveria ajudar o BCB no
combate a inflação.
No campo inflacionário, o IPCA-15 apresentou alta de 0,99% em
junho, muito acima das expectativas do mercado. A possibilidade de uma inflação
fechada este ano próxima a dois dígitos vai ganhando corpo a cada novo dia que
passa. A análise qualitativa do indicador foi negativa, com núcleos e difusão
elevados.
No caso do BRL, o patamar abaixo de 3,05 já me parece
atrativo para adicionar, de forma parcimoniosa, posições compradas em dólar.
Por hora, o mercado respeitou tecnicamente o nível de 3,05, o que dá confiança
a posição, mesmo que com uma postura um pouco mais tática. Entendo que o curto-prazo possa
continuar desafiador para esta posição (fluxo positivo, juros mais altos,
cenário externo e etc), mas ainda acredito no fortalecimento estrutural do
dólar no mundo. No Brasil, acredito que a depreciação
cambial é parte do processo de ajuste econômico, com o BCB mostrando que será
oportunista na rolagem dos swaps cambiais, de acordo com os fluxos que venham a
aparecer no mercado.
No mercado local de juros, não estou gostando da dinâmica do mercado. O mercado precifica altas de
50bps+30bps+15bps nas próximas reuniões do Copom, com a curva extremamente
invertida (jan21/Jan17 a -140bps). O BCB parece estar em uma agenda que visar
impedir o mercado de embutir uma sequência de quedas de juros quando este ciclo
de alta vier a ser encerrado, mostrando comprometimento em trazer a inflação e
suas expectativas para o centro da meta. O cenário ainda se mostra desafiador para esta classe de ativo. Os sinais de crescimento econômico
local são a cada dia piores, mas a inflação se mostra preocupantemente alta e
resistente, com o BCB dando sinais claros de que pretende continuar combatendo
as expectativas de inflação. As posições nesta classe de ativo devem ser
táticas, pequenas e com stop curto. Não vejo um cenário de inversão de tendência de alta de taxas no
curto-prazo. Hoje ainda é difícil prever onde o BCB irá encerrar o ciclo de
alta de juros, em um ambiente de piora no cenário de inflação, fiscal e
político.
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