Juros em Foco

Na Europa, no press conference do BCE, não acho que Draghi tenha sido agressivo o suficiente para conter o movimento de alta de taxas de juros na região. Ele manteve o discurso recente, de que não precisa rever o QE no curto-prazo. Contudo, dado a fragilidade do mercado local de juros, acredito que ele deveria ter sido mais incisivo caso tivesse a intensão de evitar uma rodada adicional de aperto das condições financeiras na região.

Na ausência de um sinal mais firme nesta direção, acho que se elevou o risco do mercado, mesmo que pontualmente, venha a romper os highs recentes de taxa na curva longa dos países desenvolvidos e, até mesmo, buscar ranges mais elevados de agora em diante. Pegando a Treasury 10 anos como parâmetro, podemos estar migrando para um cenário de 2,25%-2,50% ao invés de 2%-2,25%. Dados muito forte de emprego nos EUA pode acabar acelerando este movimento nos juros dos países desenvolvidos. O mercado se mostra fragilizado e os movimentos não podem ser desprezados. Em algum momento, caso o movimento continue na mesma intensidade dos últimos dias, esperaria algum tipo intervenção verbal por parte do BCE.

Para adicionar combustível a este movimento de abertura de taxas liderado pela Europa, nos EUA, o ADP Employment apresentou uma saudável alta de 200 mil postos de trabalho criador em maio, a balança comercial de abril ficou muito acima das expectativas, aumentando as prévias para o PIB do 2Q para mais próximo a 3% anualizado,  as vendas de automóveis de abril, divulgadas na noite de ontem, foram as mais elevadas em cerca de 10 anos e o Beige Book mostrou um  cenário de manutenção de um crescimento satisfatório no último mês. O ISM Non-Manufacturing caiu de 57,8 para 55,7 pontos em maio, abaixo das expectativas do mercado, porém mantendo-se em patamar compatível com um crescimento moderado.

Com o mercado apresentando uma leitura nesta mesma direção, observamos mais um dia de forte abertura de taxas longas de juros nos países desenvolvidos, uma alta do EUR, mas uma pressão um pouco mais forte sobre os ativos emergentes, uma reação um pouco mais clássica dos ativos EM a uma abertura rápida e acentuada de juros nos países desenvolvidos.

No Brasil, com uma janela aberta para captações externas após a emissão da Petro, o BRL vem apresentando performance relativa melhor do que os seus pares, mas certamente não ficará imune ao movimento global, caso ele continue. A curva de juros se mostrou novamente pressionada, à espera do Copom e reagindo ao cenário externo.

A taxa de desemprego da PNAD saiu de 7,9% para 8,0% em abril, abaixo das expectativas do mercado. A despeito da surpresa positiva, o indicador mostra um cenário parecido com os demais números de mercado de trabalho, apenas a velocidade de deterioração que está sendo menos intensa que nos demais indicadores.

As coletas de inflação continuam mostrando um risco claro de surpresas positivas para a inflação de curto-prazo.


Com o mercado local de juros apresentando uma alta não desprezível nos últimos dias, o período após o Copom pode vir a ser um timing interessante para adicionar risco nesta classe de ativo. No BRL, acredito que a melhora da janela de captações externas possa manter a moeda mais comportada no curto-prazo. Assim, mantenho uma recomendação de posição core comprada em dólar, mas menor do que no passado, já que a moeda se manteve próxima aos picos recentes, no patamar de 3,15. Olharia o patamar em torno de 3,05-3,10 para elevar a alocação, ou com uma mudança de cenário externo (dados de emprego fortes na sexta-feira, por exemplo).

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